terça-feira, 25 de outubro de 2011

Sobre a Portuguesa, mortes e ressurreições

A Portuguesa confirmou matematicamente algo que já vinha demonstrando há meses: foi promovida à primeira divisão do campeonato brasileiro. Joga agora o restante da Série B buscando levantar uma taça que será importante para o clube (mesmo sendo de segunda divisão, será um inédito título nacional).

A conquista da Lusa trará de volta o time do Canindé à elite após apenas três anos de ausência. O fato chama a atenção porque ainda há, no Brasil, uma tendência de decretar o "falecimento" de uma equipe após um resultado insatisfatório.

Não foram poucos os que previram ou sugeriram o fechamento da Portuguesa em 2006, quando o time foi rebaixado no Paulista e passou muito perto de cair para a Série C nacional, e voltaram à carga em 2008, na vez em que o time fez apenas um "bate-volta" na elite brasileira.

O ressurgimento da Portuguesa acaba sendo apenas mais um entre os vários ressurgimentos que o futebol nacional nos últimos anos. Na "era pontos corridos", não foram poucos os times que jogaram a Série A, foram para o inferno da C e depois voltaram para o esplendor da elite. O Bahia que voltou ao primeiro esquadrão neste 2011 é um exemplo. Vitória e Guarani (que, aliás, corre o risco de voltar à terceirona) são outros. O Criciúma tem passado perto. E há também os times que acabam por fazer da Série B apenas uma "casa de veraneio", como Figueirense e Coritiba.

A Portuguesa subiu. Joga ano que vem a Série A. Terá, a princípio, apenas a meta de se manter na primeira divisão. Se cair, logo logo alguém falará da "pobre lusinha". Calma, amigos. Num futebol sério e moralizado como o nosso está ficando (e não estou sendo irônico), cair e depois subir é parte do jogo.

domingo, 16 de outubro de 2011

E o Santa voltou!

Um empate dramático por 0x0 foi o suficiente para que o Santa Cruz subisse à Série C do futebol brasileiro. O tricolor pernambucano segurou o Treze no Recife e foi beneficiado pela regra dos "gols fora" - na Paraíba, o duelo de ida havia sido 3x3.

Assim, o Santa apaga um pouco o vexame épico que proporcionou nos últimos anos - lembrando, a equipe estava na Série A em 2006, há apenas cinco anos.

Oeste e Cuiabá, que respectivamente eliminaram Mirassol e Independente-PA, também subiram de divisão.

Parabéns aos três!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Andares de baixo

O Escanteio Curto faz um giro nas divisões inferiores do futebol nacional.

Série B
A Portuguesa segue soberana e só não subirá de divisão se uma tragédia ímpar atingir o Canindé - aliás, diria mais: a perda do título da Segundona seria algo bem chato para os lusos. A rubro-verde tem 54 pontos, cinco a mais do que a vice-líder Ponte Preta e 11 a mais do que o Sport, o quinto colocado, na "linha de corte" do acesso. De 2006 pra cá, quando a Série B adotou o sistema de pontos corridos, a pontuação do pior entre os promovidos é em média de 62,2. Ou seja, com três vitórias nos 11 jogos faltantes a Portuguesa deve atingir a pontuação necessária para o acesso. Aliás, uma meta nada impossível para a Portuguesa é tentar superar o Corinthians de 2007 como o melhor campeão da Série B (dos pontos corridos) de todos os tempos: o alvinegro fez na ocasião 85 pontos, número que a Lusa alcançará se vencer sete vezes. Apesar das estatísticas, a história mostra que sempre devemos ser um pouco reticentes em se tratando de Portuguesa. Aguardemos.

Na busca pelas outras três vagas, a Ponte Preta quase sempre esteve na segunda colocação e é a mais forte candidata. Mas sua distância para os outros times já foi maior. Náutico e Americana fecham o G4 e a formação da zona da elite não se modificará até a próxima rodada, já que todos têm mais de três pontos de distância para o Sport. O rubro-negro pernambucano lidera a turma dos que correm por fora e Boa Esporte, Bragantino e Vitória também sonham com o acesso.

A zona inferior tem um time 99,9% rebaixado, o Duque de Caxias - com uma vitória e oito empates em 27 jogos, faz campanha épica. O Salgueiro também não deve se safar. Curioso é ver que os outros "favoritos" ao descenso são Goiás, São Caetano e Vila Nova - os dois primeiros estavam na elite até pouco tempo e o terceiro fazia boas campanhas na Série B. Icasa, Barueri e o ioiô Guarani também não podem se descuidar.

Série C
A terceira divisão nacional vive sua fase semifinal, a mais importante: são oito times divididos em duas chaves com quatro equipes cada. Os times jogam entre si dentro dos grupos e os dois melhores de cada chave conquistam o acesso. Haverá ainda uma decisão de título, com os campeões de cada chave, mas é agora que o acesso, o trabalho de um ano inteiro, será julgado.

Paysandu, CRB, Rio Branco-AC e América-RN compõem uma chave e Joinville, Ipatinga, Chapecoense e Brasiliense formam a outra. O bom início - dois jogos e duas vitórias, uma delas fora de casa contra o Rio Branco - deixam o Paysandu como favorito. O Papão pode garantir seu acesso até mesmo na próxima rodada, com três partidas de antecedência - basta vencer o CRB em Alagoas e torcer para que Rio Branco e América empatem. Já o grupo "sulista" segue equilibrado.

Lembrando que o final da primeira fase da Série C decretou os rebaixamentos de Araguaína, Marília, Brasil-RS e Campinense (naquele jogo pra lá de confuso).

Série D
Uma pendência judicial está travando a quarta divisão brasileira. A decisão da segunda vaga do Grupo 5 entre Itumbiara e Anapolina (ambos de Goiás) ainda segue sem decisão - a Anapolina venceu o Tocantinópolis por 4x1, resultado que ainda assim não o garantiria na fase seguinte. Há suspeitas de cai-cai por parte dos jogadores do Tocantinópolis (o que parou o jogo e fez com que a Anapolina não fizesse o resultado que precisava). Com isso, há ainda uma equipe a ser definida para a disputa das quartas de final da competição.

À parte da confusão, os outros três duelos das quartas já definidos são Cuiabá-MT x Independente-PA, Treze-PB x Santa Cruz-PE e Mirassol-SP x Oeste-SP. O Tupi, de Juiz de Fora, é quem aguarda a resolução judicial - o time da terra de Itamar Franco enfrentará o vencedor do duelo entre o Villa Nova-MG e Itumbiara ou Anapolina.

Cada um dos vencedores das disputas das quartas de final estará na Série C do ano que vem.

Triste rotina

Tal qual aconteceu contra o Flamengo, mais uma vez o Santos esteve à frente de um jogão pelo Campeonato Brasileiro. Um pouco menos espetacular, é claro, mas até porque o nível daquela partida não é fácil de se repetir - mas houve emoção para quem quisesse, com empate aos 44 do segundo tempo e desempate aos 50. E, tal qual no duelo contra o Fla, agora novamente o Santos sucumbiu diante do adversário: o Fluminense, em partida disputada em Volta Redonda.

O 3x2 acabou sendo justo pelo que as duas equipes apresentaram. Neymar esteve ótimo mais uma vez, mas encontrou um Borges apagado e um Alan Kardec perdido - o "espírita", aliás, jogou mal como ponta, a posição que o havia consagrado no duelo contra o Corinthians. Elano foi mais uma vez ridículo e Arouca comprovou ser um dos (ou "o"?) melhores volantes do Brasil.

O Santos havia perdido na rodada anterior para o Figueirense e agora sucumbiu diante do Flu (que, aliás, é candidato ao título). As duas derrotas retiram de vez o time de Muricy da disputa pelo troféu do Brasileirão. Como torcedor, é chato ver que pelo quarto ano seguido o Santos fará um Brasileiro chocho - e se em 2008 e 2009 tivemos elencos péssimos, em 2010 e 2011 dispomos daquele que é pra muitos o melhor time do Brasil, o que amplia a frustração.

Já que o resto do Brasileirão tende a ser uma chatice, o que dá certo alento é ver que os testes para a formação ideal para o Mundial seguem sendo feitos. O Santos fez duas contratações para o meio-campo - Henrique e Ibson - que, somados aos outros jogadores da linha ofensiva da meiuca, Ganso e Elano, dariam ao Peixe um setor inquestionável. Acontece que todos esses quatro não têm feito coisas boas nos últimos tempos. Ganso apanha do próprio físico (e da cabeça também...), Elano é pífio desde o segundo trimestre de 2011 e Henrique e Ibson, até agora, não mostraram a que vieram. Muricy tem mantido Henrique no time em detrimento de Adriano, o sempre eficaz Adriano, acreditando no nome do ex-cruzeirense e no seu status de atleta de seleção. Um amigo definiu Henrique como "o Possebom mineiro", o que pode ser precipitado, mas indica o quanto os santistas não estão muito contentes com o que ele vem demonstrando até agora.

Quarta-feira o Santos enfrenta o Grêmio, repondo um dos seus dois jogos adiados. Vamos ver.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Uma seleção que diverte

(Aviso: este blogueiro não foi subornado pela CBF, não tem esquema com a Nike, não é contratado pela Globo e nem tem parentesco com o Galvão Bueno. Até estou aberto a negociações, mas elas ainda não apareceram.)

Às vezes parece que reclamar da CBF e da seleção brasileira virou uma certa obrigação na "opinião pública". Por conta de desmandos e incompetências da cartolagem nacional, as pessoas aderiram a um piloto automático que as faz contestar tudo e qualquer coisa que envolva a camisa amarela, Ricardo Teixeira e afins.

É só isso que explica, ao meu ver, a rejeição que os dois Brasil x Argentina enfrentaram em muitos veículos e conversas de bar por aí. Digo isso porque essas partidas - apesar do péssimo nível técnico do jogo de Córdoba - reuniram muitas coisas reivindicadas por muita gente para a seleção brasileira. Senão, vejamos:

- jogo contra um adversário de grande porte: é uma Argentina doméstica, mas ainda assim é a Argentina. Não é Gana, Omã, Estônia ou outras tranqueiras com quem o time jogou recentemente;

- jogo no Brasil: choveram (com razão!), nos últimos anos, críticas ao distanciamento entre a seleção e o povo brasileiro. Pudera: o time fez de Londres a sua casa, tendo Madri como segunda opção. Com exceção das eliminatórias, a seleção mal pisou em solo nacional nos últimos anos. Então nada melhor do que um jogo em território nacional - e a escolha de Belém foi ótima, por ser uma cidade apaixonada por futebol e que está sem times na elite, ou seja, sente a falta de um jogo de nível.

- seleção "brasileira": a seleção tem que ter os principais jogadores de cidadania brasileira, não importando onde atuem. Isso é ponto pacífico. Mas em termos de identificação, é muito mais legal ver com a camisa amarela um cara do Santos, do Corinthians, do Vasco do que do Shakthar Donetsk ou Benfica. Além disso, as convocações dão mais opções a Mano Menezes e aumentam bagagem e experiência dos atletas.

Talvez a maior falha da Copa Roca (ou Superclássico, como queiram chamar) tenha sido a brecha no regulamento que tenha permitido à Argentina convocar jogadores que atuam no Brasil - não por questões técnicas, mas porque isso tira a "pureza" da ideia, do confronto entre as duas ligas.

Fico feliz em saber que teremos mais duelos desses por alguns anos. Vai fazer bem ao futebol. Parabéns, CBF! Parabéns, AFA - mas só por isso, viu? Não se empolguem...

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Que venha a implosão

O Bruno Voloch, blogueiro do UOL, noticiou hoje que Botafogo e Vasco solicitarão o adiamento de jogos do Campeonato Brasileiro, em virtude de convocação de seus atletas para a seleção brasileira - respectivamente, o goleiro Jefferson e o zagueiro Dedé. Os clubes pedem que partidas inicialmente marcadas para o dia 12 sejam transferidas para o dia 13, o que possibilitaria a escalação da dupla (a seleção joga no dia 11).

Os sucessivos pedidos de adiamento de jogos que o Santos realizou durante esse Brasileiro foram ironizados por muita gente. O Santos pediu o adiamento de jogos enquanto disputava a Libertadores e, mais recentemente, por conta da convocação simultânea de três atletas. Foi o necessário para que muitas piadas começassem a correr por aí, e o Peixe foi tratado como uma espécie de "clube mimado" que faz beicinho e se recusa a encarar algo que, supostamente, prejudica de maneira igual a todas as equipes.

Não por ser o time pelo qual torço e muito menos por me incomodar com as piadas, mas a reação dos outros torcedores aos pedidos santistas foi algo que me desagradou consideravlemente. Ao invés de ironizar o Santos, os torcedores deveriam bater o pé e exigir que seus clubes também desafiem a CBF. Não é lógico, moral, aceitável, razoável ou que quer que seja que um time do Campeonato Brasileiro seja privado de alguns jogadores (ainda que seja um só!) para uma seleção disputar um insosso amistoso em terras estrangeiras. A CBF desvaloriza seu próprio campeonato e acaba jogando a torcida contra a seleção com essas atitudes.

Então, parabéns Botafogo e Vasco pela iniciativa! Que mais clubes se levantem, que a rebelião cresça, que isso leve a uma maior organização do Brasileiro!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Vai dar raiva

Atenção para uma série de suposições:

- se o Vasco perder para o Atlético-GO hoje, a pontuação do líder do Brasileiro (que será o São Paulo) se estacionará em 45 pontos.

- com isso, a distância entre o Santos e a ponta da tabela será de dez pontos.

- o Santos ainda tem dois jogos a fazer (Botafogo e Grêmio), e, se triunfar nos dois, reduz o intervalo a míseros quatro pontos.

- Vasco, Botafogo, São Paulo, Fluminense e Flamengo (todos os times que lideram o certame, com exceção do Corinthians) ainda serão adversários do Peixe no restante do Brasileirão - o que faz com que a dependência de "tropeços" não seja tão grande assim.

Tudo isso, somado ao excelente momento do Santos (quatro vitórias seguidas e oito jogos consecutivos de invencibilidade) só deixam clara uma coisa: vai dar raiva, caso o campeonato acabe e o Santos não seja o campeão, quando lembrarmos do começo do campeonato e daqueles jogos com os quais ninguém estava se importando. Ali se foram pontinhos vitais para que as pretensões fossem ainda maiores.



quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Faltou alguém lá

Conforme prometido, adiarei meu sono em alguns minutos para tecer alguns comentários breves sobre o jogo. Acuado pela má fase enfrentada por seu time, Tite optou pela única saída que tinha em mãos: fechar-se na defesa e aguardar que o São Paulo cometesse algum erro capital - que até ocorreu, embora o ataque alvinegro não tenha tido competência suficiente para aproveitar.

De sua parte, o Tricolor teve bom domínio de bola, mas não soube converter essa aparente superioridade em chances reais de gol. Exceto por um ou outro lance, o São Paulo não chegou a ameaçar de fato a meta de Júlio César.

Há tempos venho criticando as carências da equipe do São Paulo. O jogo desta noite deixou evidente aquela que talvez seja a maior de todas elas: falta um homem de referência no ataque tricolor.

Definitivamente, Lucas e Dagoberto, apesar de serem talentosos e possuírem bom faro de gol, não servem para desempenhar essa função. Prova disso é que em todas as jogadas do time pela ponta - sobretudo pela esquerda, com Cícero e Juan - terminavam nos pés ou de Júlio César ou dos zagueiros corintianos.

Isto porque o São Paulo não tinha em campo um jogador que sabe se posicionar na área. Nos minuto finais de jogo, coube a Juan, o lateral-esquerdo (!), essa função.

Desse jeito é complica, não acham? Não sei se o Luís Fabiano de hoje possui a mesma qualidade de antigamente. Penso, porém, que alguém como ele em campo, nesta noite, poderia ter dado outra escrita ao jogo - que, por sinal, foi uma droga.

Valia mais a pena ter assistido o thriller B "Identidade", no canal pago. Ao menos eu descobriria como é o final dessa joça...

PS: O árbitro foi péssimo. Ignorou o pênalti escandaloso de Danilo em Casemiro e passou a mão na cabeça de Alex, o mais violento da noite. Pelo conjunto da obra, ele bem merecia ter sido expulso.


Um post antes do clássico...

Depois de quase um mês distante deste espaço, resolvi dar de novo o ar de minha graça. Questões pessoais andaram me impedindo de me sentar para ordenar mais de três parágrafos com ideias de minha autoria.

Hoje, porém, fiz questão de postar no blog, pois estamos em uma ocasião para lá de especial. Refiro-me, é claro, ao clássico de logo mais, em que o Tricolor tem a chance de devolver a sova sofrida diante do Corinthians, no primeiro turno do Brasilerão.

Aparentemente, agora as coisas conspiram a favor do São Paulo. Além de jogar em casa, diante de uma torcida empolgada, o time dá a impressão de haver encontrado um ritmo próprio de jogo. Ao menos foi o que transpareceu da goleada aplicada sobre o Ceará, no último domingo.

Em contrapartida, o Corinthians, adversário desta noite, vive um ambiente pesado, que tende a culminar em uma séria crise, de proporções parecidas à que assola o Flamengo, ex-candidato ao título nacional deste ano.

Não que eu seja de acreditar em tabus e estatísticas sobrenaturais, que não passam de meras coincidências. Em todo caso, é sempre bom para o estado de ânimo da torcida saber que seu time é especialista em derrubar técnicos do maior rival.

Desde Joseph Tiger, em 1944, até o presente momento, foram 15 treinadores corintianos demitidos após fracassos contra o São Paulo. Tite corre o risco de se tornar um reincidente. No Paulistão de 2005, ele foi rifado do cargo do alvinegro, depois de uma derrota de 1 a 0 para o Tricolor.

O curioso é que na ocasião, o lateral-direito Coelho fez o favor de perder um pênalti para o Corinthians. Coisas do destino...

Por falar em curiosidades, entre os técnicos corintianos demitidos pelo Tricolor há outro reincidente: o ex-volante Dino Sani, em 1970 e 1975. Sani atuou pelos dois clubes como jogador.

Mais tarde tem o pós-jogo.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Ainda no aquecimento

O jogo mais importante do primeiro dia de Liga dos Campeões teve seu placar alternado já aos 23 segundos. Alexandre Pato recebeu bola ainda no meio-, iniciou uma precisa e rápida corrida e surpreendeu uma desorientada defesa do Barcelona. O gol deixou o Milan em vantagem por fundamentais minutos, e foi decisivo para que o time italiano deixasse o Camp Nou com um ponto.

O tento foi possível por méritos de Alexandre Pato - que mostrou uma impressionante velocidade e um acerto no arremate invejáveis - e por falhas da zaga barcelonista, que parecia que não tinha se ligado que o jogo já havia começado. E me fez pensar: será que mais times deveriam ensaiar jogadas para tentarem chegar ao gol logo no início?

Porque, invariavelmente, os gols de começo de jogo são frutos de chutões para a meta - que se beneficiam de um goleiro desorientado - ou, como no caso do gol de Pato, de uma defesa mal postada. Tenho na lembrança um jogo do Campeonato Espanhol de anos atrás (mas não sei quais os times, nem o ano, nem nenhum outro dado, infelizmente) em que um gol saiu de uma jogada ensaiada após o pontapé inicial, mas só isso.

Pode parecer bobagem apostar nisso, mas imagine um time que se planejasse para fazer 1x0 ainda antes da maioria dos torcedores sentarem em suas cadeiras? Teria a vantagem numérica em suas mãos e desorientaria o adversário. Aliás, acredito eu, tal tática seria ainda mais eficiente se aplicada em jogos de campeonatos de pontos corridos, já que nos mata-matas a pressão pelo resultado é maior e desperta atenções ainda no apito inicial.

É evidente que a jogada não poderia entrar em ação em todo jogo, sob o risco de se tornar facilmente combatida - mais ou menos como a falta que Ronaldinho bateu contra o Santos no 5x4 da Vila Belmiro. Mas seria uma boa alternativa.

Pedro Carmona

Me surpreendi vendo o vídeo abaixo sobre o novo jogador que o Palmeiras está brigando tanto ultimamente. Todos sabem o quanto me irritei com essa novela nos bastidores mas o fato é que o jogador parece entender um pouco da coisa. E sou bem crítico nesses momentos. Pessimista ao extremo. Preciso ver 39 boas jogadas para deixar de cogitar que foi apenas um "lance de sorte num dia feliz".

Confiram:



Amor não correspondido?

Desde pequeno tive uma vida sofrida. Não, não estou dizendo que passei fome, que não tive onde morar ou outras dessas coisas nada importantes comparadas ao futebol. Estou dizendo que eu nasci palmeirense.

Nas classes do ginásio, éramos sempre minoria.  Três, no máximo quatro. E a coisa fica pior quando digo que um deles era meu irmão gêmeo, que nunca ligou muito pra coisa e não sabe nem quem é o Evair. Estudei anos pensando que a sensação de ser campeão não existia. Que era daquelas coisas que só acontecem com "um amigo meu". Anos vendo os moleques desfilando com suas camisas tricolores "da IBM" e corinthianos com suas "da Kalunga". Me consolava no fato de ao menos o número de santistas ser menor. Na verdade acho que o primeiro que conheci de fato foi o Olavo. Chegava ao ponto de ficar feliz com uma eliminação precoce para ser esquecido quando das gozações entre corinthianos e são paulinos. Era muito sofrida aquela vida.

Mas por algum motivo destes inexplicáveis eu seguia meu caminho da mesma forma. Cada dia mais fanático e apaixonado pelo time que nem sequer havia me dado alguma alegria. Acho que meu pai, sábio, tratou de colocar na minha cabeça algo do tipo "mudar de time é coisa do diabo" ou pior. É, era por isso. Só pode ser.


Com o tempo fui aprendendo a conviver com derrotas vexatórias que me transformaram num torcedor extremamente desconfiado. Vi que a felicidade com lindos resultados eram acompanhadas de tombos maiores e por isso qualquer comemoração foi sempre comedida.

O tempo passou, as coisas melhoraram na década de 90. Já no último ano do ginásio pude ir pela primeira vez devidamente uniformizado como vi adversários fazerem durante anos. No colégio as coisas mudaram. Agora éramos em 5 ou 6 numa turma com 18 moleques. Nada mal, pensava. Mas o fato é que o Palmeiras sempre arranja um jeito de te proporcionar vexame. E cada vez pior.

Tá mas e daí?

Daí que essa vida sofrida me deixa preocupado com este ano. Eu sei bem que não temos time para chegar, mesmo com todos os adversários fazendo de tudo para não levar. Estou preocupado pois andei ouvindo comentários de que o penalti perdido contra o Cruzeiro ou o cometido contra o Atlético-PR nos deixariam a poucos pontos da liderança. Mas graças a Deus não aconteceu. Que bom que estamos indo de pouco em pouco pro meio da tabela onde as coisas são calmas e não trazem decepções maiores. Pois o quanto mais chegamos perto com esse time que não inspira a menor confiança, maior será o tombo depois. Não quero perder esse campeonato na última rodada e pro maior rival. Quero terminar como coadjuvante apenas. Esperar que no próximo ano as coisas melhorem, que a confiança volte. Que o Palmeiras recompense esse amor que parece crescer mais com as derrotas. Pois uma coisa é certa, esse amor é cada dia maior. Muito maior.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Reconhecendo

99% das pessoas que conheço sabem para qual time eu torço. E, destas, 90% sabem quem eu tenho como maior rival. Diferentemente da maioria dos santistas, que trata o Corinthians como maior adversário, eu coloco nesse posto o São Paulo. Herança de ter sido pré-adolescente na fase mais dourada do clube do Morumbi, talvez.

Com tal "DNA", seria fácil eu endossar a maioria dos não-tricolores e desmerecer a figura de Rogério Ceni. Mais: poderia ir na corrente que trata Marcos, do Palmeiras, como o maior goleiro da nossa geração. Porque parece ser impossível discutir Marcos sem falar de Rogério, e vice-versa; é como o debate sobre Rolling Stones e Beatles, Pepsi e Coca, Nintendo e Sega (nos anos 90, ao menos). Uma coisa chama a outra.

Mas não consigo abraçar essa filosofia. Não, Rogério não é meu ídolo, longe disso. Sua personalidade e um quê de arrogância - que acaba sendo uma espécie de síntese da arrogância de grande parte dos tricolores - afasta qualquer probabilidade de um não-são-paulino tê-lo como ídolo. Ainda mais em comparação com o carisma e as boas declarações de Marcos (taí de novo a comparação; ela aparecerá mais vezes ao longo do texto, já adianto).

A questão é que não dá para não considerar Rogério Ceni um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro. Sim, isso mesmo: um dos maiores da história do nosso futebol. Vou desenvolver meu argumento em tópicos.

Constância
Em 1997, Júlio César e Rafael, os hoje goleiros titulares de Corinthians e Santos, tinham respectivamente 13 e 7 anos. Marcos era reserva do Palmeiras (a titularidade só veio em 1999). Já Rogério assumia o posto de titular do São Paulo em substituição ao ídolo Zetti. Antes, tinha feito atuações boas pelo time (entrando às vezes ou como titular no lendário Expressinho), o que o credenciou a assumir a camisa 1.

Já em 2011, Rafael e Júlio César são titulares dos seus times, como já dito, e Marcos, devido a condições físicas, alterna atuações e períodos no departamento médico do Palmeiras. E Rogério Ceni segue titular incontestável no São Paulo.

De 1997 para cá, a condição de titular de Rogério Ceni jamais foi severamente ameaçada. Sim, houve o episódio do Arsenal e alguns outros instantes em que seu posto foi questionado, mas nunca "pra valer". Assim como é hoje em dia. E deverá ser até Rogério encerrar a carreira.

Liderança e as faltas
Entre os que preferem Zetti a Rogério Ceni como principal goleiro do São Paulo pós anos 80, um argumento típico é dizer que Zetti era "mais goleiro" e que Rogério se destaca apenas por ser um bom líder e marcar muitos gols.

É até uma linha lógica de pensamento. Mas... então o que Rogério faz além das defesas não pode ser considerado? Temos que "excluir" a característica de um jogador, na hora de compará-lo com outro? Ora, Rogério é cobrador de faltas e pênaltis sim, e também um capitão, e não há como retirar isso de sua trajetória no tricolor. Seus gols foram (e têm sido) importantíssimos para muitos dos triunfos do São Paulo. Não são meros acessórios, meros enfeites. Assim como sua liderança. Todo time precisa de um capitão - e se esse capitão tem identificação real com a casa, melhor ainda.

Tenho certeza que o São Paulo jamais teria tido aquela sensacional sequência entre 2005 e 2008 - um título Mundial, uma Libertadores, um Brasileiro e um Paulista - não fossem os gols e a liderança de Rogério, além, claro, de suas defesas.

Seleção brasilera
Há quem diga que Rogério só não fez "mais" na seleção brasileira por ser um cara politizado, que não aceita maracutaia, e blablabla. Isso é balela das mais furadas. Ninguém que seria tão ferrenho opositor da CBF seria convocado para duas Copas do Mundo e tantas outras ocasiões.

E se Rogério não teve a chance de ser titular da seleção em uma Copa do Mundo (ainda que tenha motivado uma histórica substituição de goleiros, algo que o Brasil jamais havia feito em mundiais), não se pode dizer que ter ido a duas - ainda que como reserva - não seja um feito expressivo. Uma Copa do Mundo é para poucos; duas, para pouquíssimos.

Mil, e contando
Rogério chegou agora aos mil jogos pelo São Paulo, marca alcançada no futebol brasileiro apenas por Pelé e Roberto Dinamite (preciso falar os clubes?).

O feito é muito expressivo. Não por ter sido conquistado em 2011, em tempos de futebol profissional - não podemos esquecer que Rogério é goleiro, e goleiros acabam naturalmente permanecendo mais nos clubes. O que chama a atenção é a quase inexistência de lesões e períodos de grandes ausências. É só comparar que Marcos, da mesma idade que Ceni, tem pouco mais de 500 jogos pelo Palmeiras.

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Concluo o texto enfatizando algo óbvio: reconhecer é uma coisa, admirar é outra. Torço contra Rogério Ceni, simplesmente pelo fato dele representar o clube que, como dito no início do texto, tenho como principal rival no futebol. O que não me faz desmerecer tudo o que ele faz e fez pelo São Paulo e pelo futebol brasileiro como um todo. Rogério é digno de aplausos e merece ser reconhecido como um mito. Ainda que não se goste de sua personalidade.

Foto: www.saopaulofc.net

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

'O pior pênalti da história'

Que terá passado pela cabeça de Amir Sayoud nos instantes que precederam a execução daquela penalidade máxima? Por certo, o meio-campista argelino não pensava em fazer história. Se muito, há de ter cogitado, astuto: “Procederei com uma ‘paradinha’ – mas de maneira tão discreta, que o juiz não terá forças para anular o tento”. Pois o jovem atleta do Al Ahly conseguiu um bocado mais.

O que é, afinal, um gol de pênalti perto desta ocorrência bisonha que o rapaz cometeu em jogo válido pela Copa do Egito? Veículos da imprensa estrangeira, desde ontem – data da partida entre Al Ahly e Kima Aswan –, indagam-se se não foi este o pior pênalti jamais batido em todos os tempos. De fato: o canhoto Amir Sayoud chutou o seu de maneira invulgar.

Repare como, até o momento da paradinha propriamente dita, tudo se desenrolava a contento. O pé esquerdo do jogador ameaça a batida e retrocede em velocidade adequada. Mas então se dá a traição: o pé direito, ou “de apoio”, como se diz, escorrega. E lança adiante seu proprietário, que, mais por instinto que por senso de ridículo, faz uma última e fracassada tentativa.

O chute, prezado leitor, seria uma lástima se tivesse hora e lugar num campeonato interescolar. Categoria fraldinha. Em nível profissional, fica sendo cômico, coisa que o Amir percebeu de pronto, ao se levantar sem disfarçar o sorriso encabulado. Consideremos, ainda, o agravante: o árbitro, como manda a lei do futebol, aplica o cartão amarelo ao infrator. Pois claro. Amir atentou contra a própria reputação e contra a regra, que proíbe o movimento maroto da paradinha.

No final, o Al Ahly ganhou do Kima Aswan por goleada de 4 a 0. E, nota triste, houve confronto entre polícia e torcedores. Saldo: 130 feridos. Parece ter havido uma morte, por atropelamento, do lado de fora do estádio. De modo que o jogo teria uma herança apenas fúnebre - não fosse, evidentemente, o ato solo de Amir Sayoud.

sábado, 3 de setembro de 2011

Contratações

O Palmeiras enfrentou nesta semana uma certa batalha para trazer o bom meia Pedro Carmona do Criciúma. No fim das contas o atleta praticamente abandonou o clube para assinar o novo contrato, o que deixou sua atual diretoria bem irritada. Se concretizada ou não, o caso ainda deve dar o que falar.

Não quero entrar no mérito sobre a capacidade técnica ou não do jogador mas o fato é que o Palmeiras vem passando por muita dificuldade para contratar jogadores ultimamente. O caso do Martinuccio foi o mais vexatório, quando o Palmeiras que tinha o pré-contrato assinado viu o jogador se transferir pro Fluminense. Agora com o Carmona o jogador precisa abandonar o time atual para se transferir.

Apenas uma coisa fica clara para mim sobre estas situações: a falta de capacidade do departamento jurídico do Palmeiras. Até que ponto o Palmeiras não persuadiu o jogador a sair do clube, como o Fluminense fez para convencer Martinuccio a ir curtir uma praia no Rio de Janeiro? E mais, será que tanta batalha realmente se mostra eficaz no final das contas? Detalhe que não estamos falando dos Ronaldos, Lucas ou Neymar, mas sim de Martinuccio e Pedro Carmona.

Uma coisa é clara no Palmeiras: jogador que chega muito badalado nunca dá em nada. Prefiro acreditar mais em Fernandão, que nem apresentado foi e já poderia ter sua estátua nos corredores do Palestra Itália pelo dia de herói no último clássico.

Grande vitória, esperada derrota, e a vida segue...

Olá caros leitores. Desculpe pelo atraso deste viajante, porém fiel, palmeirense.

Há uma semana praticamente o Palmeiras conseguia fazer o que espero não ser o máximo que conseguirá neste campeonato: bater o maior rival. Por mais que as oscilações dos times na parte de cima da tabela causem alguma injeção de ânimo nas torcidas pelo Brasil (ou seria pelo eixo Rio-São Paulo?), a torcida do Palmeiras ainda vê seu time ir caindo de posições, mesmo que numa velocidade pouco acelerada.

Sobre o jogo, percebi certa unanimidade nos comentários de mesas circulares por aí dado a clareza com que se pode analisá-lo. O Corinthians entrou tocando bem e rapidamente a bola, envolvendo facilmente o time do Palmeiras, e com isso conseguia criar algumas chances que paravam em Marcos ou na sólida defesa alvi-verde. Já o Palmeiras conseguiu chegar apenas depois de algum tempo de jogo, mas com a chance mais clara, em uma cabeçada de Kléber. O jogo seguiu neste ritmo até que, numa tentativa de cruzamento de Emerson, Henrique não alcançou, Marcos falhou (enganado ou não, falhou, como o próprio reconheceu) e o Corinthians abriu o placar.

Isso foi o que o Palmeiras precisava para começar a apresentar algum futebol. E por sinal foi dos melhores que conseguiu neste campeonato. Já o Corinthians, parou. O time se tornou apático e foi facilmente envolvido pelo rival. Felipão viu na entrada de Fernandão a referência que o ataque precisava pra chegar aos gols. A mudança deu certo e, com o estreante na área, Kléber e Luan ganharam mais espaços para preparar as jogadas. As chances foram sendo criadas e, numa cobrança de escanteio, Júlio César falhou (o próprio não reconheceu, como de costume) e Luan empatou a peleja.

Na volta pro segundo tempo, nada mudou. O Palmeiras tocava a bola como queria e o Corinthians continuava numa apatia de matar até os menos fanáticos torcedores. Não demorou para Marcos Assunção realizar um belo lançamento pro herói e estreante do dia Fernandão matar no peito e marcar um golaço digno de Magrão, Obina, e outros atacantes que até então são apenas lembrados por terem sido o herói do derby alguma vez na vida - tomara que o atual não fique apenas nisso.

Nem mesmo após o gol o Corinthians esboçou alguma grande mudança de comportamento. O Palmeiras até tentava aumentar a vantagem mas era mais preocupado em manter o placar. No final uma cabeçada de Valdivia e um chute de Liedson não foram suficientes pra evitar que o Palmeiras saísse vencedor por 2x1.

Acontece que na rodada seguinte as coisas se reverteram. O Palmeiras, azarado como sempre, tinha o Botafogo em grande fase pela frente e não viu a cor da bola. No jogo em que a zaga fez a pior partida no campeonato, justamente após ter feito uma grande apresentação contra o maior rival, a derrota foi justíssima. Já o Corinthians viu adversários diretos perderem seus jogos e venceu o Grêmio numa atuação desastrosa da arbitragem, daquelas que todos sairam prejudicados.

A vida volta a ser a mesma para os palmeirenses depois de um lampejo de alegria no clássico. Se quando o título não vem, o clássico é o que vale no campeonato, a torcida do Palmeiras pode-se dizer realizada em 50% este ano. Mas é triste conviver com o fato de que se contentar com isso é o bastante.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Agora vai!

Foto: Atlético-PR
Não sou adepto de uma visão de futebol que virou quase que unânime por aqui - a que diz que toda e qualquer troca de treinador está errada. Claro que existem suas bizarrices, mas também há os exemplos na mão oposta. Alguém aí acha, depois de um título paulista e o da Libertadores, que o Santos fez errado em demitir Adilson Batista e ir com tudo atrás de Muricy Ramalho?

Ainda assim, não dá para compreender algumas demissões e contratações. O dia de hoje foi (ou é melhor usar "está sendo"?) animado. Cruzeiro demitiu Joel Santana, Bahia dispensou Renê Simões, Atlético-PR trouxe Antonio Lopes para o lugar de Renato Gaúcho, que pediu o boné há poucos dias.

E é essa última transação que quero abordar. Ao ler "Antonio Lopes" e "Atlético-PR", você talvez tenha pensado algo como "pô, mas se não me engano o delegado já passou por lá... ele era o técnico dos caras quando eles chegaram à final da Libertadores...". Exato. Pelo que foi publicado hoje, a passagem que se iniciará amanhã será a quinta de Lopes pela Arena da Baixada. A anterior foi em 2010.

Sim, isso mesmo. No ano passado. Ou seja: há pouco mais de um ano, Lopes não era técnico para o Furacão. Hoje, é a solução para um time que faz campanha horrível no Brasileiro e para quem o rebaixamento aparece como uma realidade próxima.

Entendo que no futebol existe uma coisa chamada "clima". É o que me fez achar correta, por exemplo, a demissão de Muricy Ramalho pelo São Paulo em 2009 - embora ele talvez tenha sido o segundo melhor técnico da história do Tricolor e me deixe a certeza de que voltará ao Morumbi ainda em breve. Talvez não tenha havido clima para que Lopes prosseguisse no Furacão no ano passado e hoje as coisas estejam melhores.

Mas cá entre nós, prefiro creditar isso à bizarrice, à impulsividade e à falta de critério dos nossos dirigentes.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

"Até eu"? Não, não

O primeiro post (pra valer) do Escanteio Curto foi sobre o centroavante André, revelado pelo Santos e que hoje está no Atlético-MG. Debateu-se a volta de André ao futebol nacional, que deveria ser uma redenção ao atleta, queimado após fiasco em dois times da Europa. Na ocasião, ressaltei que a decadência de André foi prevista por muitos, já que, na visão destes, ele não tinha muitos méritos por jogar ao lado de Robinho, Neymar e Ganso, que o serviriam ótimas bolas.

Eis que o momento atual do Santos tem consagrado um centroavante. Borges, que veio do Grêmio e que ontem foi a peça-chave para que o Peixe buscasse um épico empate contra o Internacional, após estar perdendo por 3x0 até mais da metade do segundo tempo. Borges fez dois gols (um deles magistral) e participou do outro. É o artilheiro do Brasileirão até o presente momento.

Desde que a base do atual Santos foi montada, Borges é o quarto homem a vestir a camisa 9. O antecederam André, Keirrison e Zé Eduardo. Sobre André já falamos. Keirrison foi pífio, como todos sabem. E Zé Eduardo, embora tenha até mostrado qualidade em alguns jogos, deu raiva na torcida santista durante a Libertadores.

De modo que Borges e seu momento atual mostram que o "assim até eu", tão apregoado para desprezar os méritos de André, não é procedente. Borges tem sido decisivo, letal, fundamental para que o Santos mostre algumas fagulhas de bom futebol no campeonato. E não apenas como "homem que empurra pra dentro". Desempenha com qualidade uma importante função tática e acaba liberando mais espaço para Neymar - o sobrecarregamento do menino durante a Libertadores foi assustador.

O Santos segue mal na tabela e, olhando na frieza dos números, escapar do rebaixamento é uma meta mais tangível do que qualquer outra. Mas não dá para negar que há uma certa aura de "boa fase" na Vila - são quatro jogos de invencibilidade.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Eu esperava mais, ele merecia mais

Alexandre Vidal/Fla Imagem
Notícia que corre hoje: faltam poucos detalhes para que Zico seja confirmado como novo técnico da seleção do Iraque. O Galinho está animado com a oportunidade, diz não temer a violência no país, celebra o fato de voltar a comandar uma seleção e quer levar o time de volta a uma Copa do Mundo, o que não ocorre desde 1986.

É bacana ver um ídolo do futebol nacional em um país como o Iraque, que, nos últimos 20 anos, só tem aparecido na mídia por conta de desgraça (com exceção do título da Copa da Ásia de 2007, sejamos justos).

Mas, cá entre nós, esperava mais de Zico. Ele foi um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro e emendou o final de carreira com uma consagração de ídolo no Japão - até aí, tudo bem. Coroou a trajetória comandando a seleção japonesa e fez participação até que digna na Copa de 2006. Deixou o Japão para elencar uma trajetória de técnico na Europa, passando por Fenerbahçe, CSKA Moscou e Olympiakos, e foi quando passou a todos a impressão que gostaria de ser tratado como um técnico "de verdade", alguém para ser considerado como opção real para um time que precisa de treinador, mesmo que não no Brasil, devido à sua grande identificação com o Flamengo. Aí ele vai e acerta com o... Iraque?!

Talvez sua traumática recente passagem como dirigente na Gávea tenha pesado. Zico deixou o Olympiakos meio sem moral, veio para o Fla para ser (novamente) uma espécie de redentor do clube e saiu de maneira frustrante. Numa dessas, ele ao mesmo tempo fechou as portas do futebol europeu e abriu mão de um sonho maior, no Flamengo ou em outro gigante mundial.

Zico, hoje, não teria cartaz para bater de frente com José Mourinho, André Villas-Boas, Pep Guardiola e outros treinadores do primeiro escalão internacional. Mas poderia almejar ser algo mais do que um Bora Milutinovic ou Marcos Paquetá. Que, depois do Iraque, retome uma trajetória que tinha tudo para ser mais brilhante.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Sobre 'deserções' e direitos

Foto:David Fernandez/EFE

O rapaz da foto acima está na crista da onda, a ponto de me demover do intuito de escrever a respeito do clássico de domingo. Na verdade, eu não teria muito a acrescentar sobre o tema, até porque discorri fartamente sobre os problemas da zaga tricolor, que acabaram resultando no gol de empate do Palmeiras, em uma jogada aérea.

Quero, sim, falar sobre Henrique - não propriamente sobre o futebol por ele apresentado no Mundial Sub-20, que lhe rendeu os troféus de artilheiro e de craque da competição. Ontem, em meio à euforia pela conquista do pentacampeonato mundial, o atacante deixou escapar que estaria insatisfeito com o São Paulo e disposto a deixar o clube.

Ao tomar conhecimento do caso, inicialmente deixei-me levar por aquele sentimento comum aos maridos traídos que acabaram de descobrir que a parceira é infiel. Em geral, é assim que o torcedor, criatura mais passional da face do Universo - mais até que o Javé no Antigo Testamento -, costuma encarar deserções tramadas por seus ídolos.

Convenhamos, porém, que Henrique está longe de ser um ídolo no Tricolor. Antes, é um jogador promissor, com potencial para oferecer grandes alegrias à torcida - ou decepções, comprovadas por aquele gol feito que ele deixou de anotar na prorrogação contra Portugal.

O que sei é que, depois de analisar friamente a situação, não encontro motivos para condenar a jovem promessa. O fato de eu e milhões de tricolores enxergarmos nele um futuro herói cria algum laço de obrigação entre o atleta e o clube?

É evidente que não. A grande verdade é que, hoje (mais do que em qualquer outra época), o futebol não passa de uma atividade econômica, como tantas outras que existem por aí. Alguém poderá argumentar que a coisa não é bem assim, já que o esporte envolve elementos subjetivos poderosos, como a paixão da torcida ou mesmo a identidade social de milhares de indivíduos.

Pode até ser. Porém, não devemos nos esquecer de que toda e qualquer atividade econômica tem suas peculiaridades, seja a venda de batatas na feira ou o de óxi na Cracolândia. E que, apesar das diferenças, todas possuem uma característica em comum: são regidas pela lógica fria do lucro.

Quando o clube lucra horrores com a venda de atletas, tal como se não passassem de meros objetos, dificilmente veremos algum torcedor se preocupar com a subjetividade desse indivíduo. Assim como ninguém dá a mínima para o destino das centenas de jogadores e técnicos dispensados ao longo dos campeonatos.

Notem bem: não estou aqui a clamar que nosso futebol passe a ser regido por uma ética piedosa. Antes, quero apenas demonstrar que, em relação aos atletas, os clubes representaram por anos o lado forte na disputa.

Podiam tratar os jogadores como escravos, isso em pleno limiar do século 21. A Lei Pelé, dos anos 90, rompeu com essa lógica escravagista e trouxe um avanço enorme nas relações trabalhistas do futebol.

Ironicamente, hoje em dia o Rei é atacado por uma legião de desavisados, que enxergam o fim do passe como o início das mazelas dos clubes. Para mim, está evidente que a legislação em vigor tem vários aspectos positivos.

O jogador de futebol, a exemplo dos demais trabalhadores, deve poder escolher para quem quer trabalhar. Dessa forma, se Henrique não está feliz no São Paulo, que faça as malas e encontre um lugar que o agrade. Oscar obteve esse direito provisório na Justiça e bateu asas rumo ao Inter de Porto Alegre. Particularmente, acredito que ele poderia ter feito uma escolha melhor, haja vista que no Colorado o meia não consegue demonstrar um décimo do talento que possui.

Porém, o fato é que ele pôde escolher.

Alguém poderá dizer que a opção não ocorreu por livre e espontânea vontade, já que Oscar, tal como Henrique hoje, estava nas garras de um empresário inescrupuloso. Isso não deixa de ser verdade. Porém, cabe uma pergunta a esse respeito: foi a Lei Pelé quem criou esses "monstros"? Ou seriam eles fruto da omissão do Estado brasileiro em regulamentar a atividade dos clubes e federações de futebol?

Sabemos que esse vespeiro está recheado não só com milhões em dinheiro, mas também com uma teia intricada de relações promíscuas de poder. Talvez por isso seja mais fácil para os governantes ignorar esse problema. Afinal, o ódio e o desprezo dos torcedores se encarregará de oferecer uma explicação cômoda para tais situações incômodas.

Sonhar não custa nada

Ao vencer o Bahia ontem, o Santos foi aos 18 pontos no Brasileirão. São 19 os pontos de distância para o líder Corinthians. O Peixe tem dois jogos a menos do que a maioria dos times do certame - repõe um deles na quarta, quando pega o Fluminense, e o outro em 5 de outubro, contra o Grêmio. Se ganhar os dois, diminui a diferença para 13 pontos (com os números atuais, que evidentemente não serão mais os mesmos em 05/10). Ainda dá!

Não, não dá. A lógica de um campeonato de pontos corridos é fria e imutável: não se recupera uma distância com uma sequência de dois ou três jogos de qualidade. Por mais que o Santos evolua, vai ser bem difícil reparar os erros cometidos durante a competição. E num torneio em que o Santos nada almeja que não o título, as emoções acabam se esvaindo.

Ontem, em Salvador, o time mostrou algumas alternativas interessantes. Adriano ocupou a lateral-direita no lugar do suspenso Pará. "Mas o Adriano é volante", pensará um perspicaz leitor. Exatamente. Ao escalar um camisa 5 de ofício para a posição, Muricy efetivou uma "linha de três" no setor defensivo (Léo continuou atuando como sempre) e mandou Elano para a ponta. Embora o ex-namorado de Nívea Stellman tenha jogado mal como de costume, ficou no ar a possibilidade de termos uma boa variação tática a ser adotada. Talvez com Ibson, quando ele voltar de contusão.

Ganso não foi brilhante, mas não se pode dizer que jogou mal. Já Neymar fez gol e até mostrou qualidade, mas também é injusto dizer que arrebentou - até porque perdeu um gol quando o Santos vencia por 1x0 que é daqueles que dão margem para os que acham que o garoto é "só firula e pouco futebol".

O gol espírita de Alan Kardec (argh!) selou a vitória santista, e acabou justificando a entrada do centroavante em campo. Ele substituiu Borges, que vinha fazendo um bom jogo. Muricy seguiu sua linha de não mexer muito no time - a outra alteração foi a de Rafael por Vladmir, curiosamente numa partida em que o arqueiro vinha desenvolvendo uma atuação extraordinária, digna de excluir da memória as más partidas anteriores.

Que venha agora o Fluminense na quarta-feira, acompanhado de mais três pontos para a classificação santista. Para que possamos continuar sonhando.




Meio sem querer, veio o penta

Rafael Ribeiro/CBF

Aos 5 do primeiro tempo, Oscar foi, em cobrança de falta, alçar uma bola na área. Brasil 1x0. Aos 6 do segundo tempo da prorrogação, foi cruzar para os atacantes que fechavam esperando o jogo aéreo. Brasil 3x2. Seleção brasileira campeã mundial sub-20, obtendo assim um pentacampeonato que iguala o time principal (os outros títulos vieram em 1983, 1985, 1993 e 2003).

Os gols meio ao acaso de Oscar - além desses, houve o segundo, aí sim intencional, em boa jogada do cruzeirense Dudu - deram justiça ao jogo e ao Mundial como um todo. Embora Portugal tenha mostrado um belo futebol, e uma atuação irrepreensível na decisão, a taça ficou em melhores mãos com os brasileiros.

O time de Ney Franco mostrou virtudes em meio-campo, defesa e ataque. E também no gol - aliás, seria uma baita injustiça se a seleção perdesse o troféu por conta do segundo gol português, uma falha feia do goleiro Gabriel, que fez um bom Mundial e não mereceria ser crucificado pelo lance. Talvez quem tenha brilhado menos do que o esperado foi Philippe Coutinho, estrela da Internazionale e que até já esteve na seleção principal em algumas ocasiões.

O centroavante Henrique foi coroado como artilheiro e melhor jogador do campeonato. Honrarias justas - e que dão uma dor de cabeça adicional à torcida do São Paulo, já que o atleta tem declarado que não quer voltar ao Morumbi.

O chato de tudo isso é que Ney Franco não comandará o time olímpico no ano que vem, cuja base deve certamente derivar da equipe campeã mundial. Será Mano Menezes o técnico. Em tempos em que o gaúcho está mais do que contestado, dar a ele a chefia de uma equipe (muito) bem montada por outro treinador não parece ser uma decisão das mais sábias.

sábado, 20 de agosto de 2011

O problema é na área!

Quem assistiu ao empate do São Paulo com o América-MG, talvez tenha notado que, embora o time sofra de sérias deficiências no setor de criação, ainda é capaz de levar perigo para as imediações do gol adversário.

Na partida em questão, principalmente no segundo tempo, os são-paulinos conseguiram emendar pelo menos uma meia dúzia de cruzamentos venenosos em direção à meta do Coelho, mas que não foram aproveitados pelos atacantes tricolores (detalhe curioso é que todos esses lances saíram da esquerda, sinal de que o São Paulo transformou-se em uma equipe manca das pernas, sem criatividade pela direita).

O fato é que o excesso de chances desperdiçadas deixa claro o quanto o Tricolor anda necessitado de um matador, um sujeito com plena desenvoltura para atuar no setor ofensivo. Deixarei de lado os lances bizarros protagonizados por Cícero e Fernandinho e focarei apenas no gol de Marlos.

O meia fez boa jogada pela esquerda e colocou Wellington cara a cara com o Neneca. Só faltou gritar: "Faz!" Pois o volante teve a capacidade de tropeçar, justo no momento decisivo, e mandar a bola em cima do goleiro do América.

Por sorte o lance sobrou para Marlos, que estava com a pontaria um pouco mais afiada, não o bastante para evitar que a bola resvalasse em um defensor da equipe mineira, ao entrar no gol.

Talvez o retorno de Henrique, artilheiro da Seleção Sub-20, ajude a solucionar essa carência do time na finalização das jogadas. Digo isso por ainda considerar uma incógnita a novela em torno da recuperação de Luís Fabiano. Com ele em campo - em plena forma, é evidente -, as coisas seriam diferentes para o Tricolor.

Defesa

Sem querer menosprezar o golaço marcado pelo Kempes "paraguaio" do América-MG, há de se considerar que a desatenção da defesa são-paulina colaborou para que a partida de quinta terminasse empatada.

O atacante mineiro estava completamente livre quando armou uma meia bicicleta na marca do pênalti da área tricolor. Não é de hoje que o problema vem ocorrendo. No empate com o Atlético-GO, por exemplo, os dois gols sofridos pelo São Paulo vieram de falhas de posicionamento da defesa, em bolas alçadas na área.

Fica então a dúvida: o problema está nos zagueiros, que são incompetentes, ou no técnico, incapaz de acertar o posicionamento da defesa?

Talvez seja um pouco de cada. E pensar que, dias atrás, a diretoria do São Paulo se deu ao luxo de enxotar Alex Silva do Morumbi...

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Esperando um raio tricolor de seis anos atrás

O Campeonato Brasileiro de 2005 rebaixou Coritiba, Atlético-MG, Paysandu e Brasiliense. Paranaenses e mineiros voltaram rapidamente à elite; já os paraenses e candangos jamais sentiram o gostinho da Série A novamente, e hoje militam na ingrata Série C.

Mas na primeira metade daquele torneio, outra equipe ocupava a famigerada zona do rebaixamento: o São Paulo, que poucos meses antes havia conquistado a América com um implacável título da Libertadores.

Na ocasião, o mau desempenho tricolor era visto com certa naturalidade, e atribuído à euforia do título continental. O São Paulo havia colocado jogadores reservas em muitas partidas do torneio e torcida e diretoria não escondiam que o Brasileiro acabara por se tornar algo irremediavelmente desinteressante. No decorrer do campeonato, o São Paulo voltou aos trilhos e fez uma campanha que ainda o colocou no 11º lugar, à frente de times como Vasco e Flamengo, que haviam começado o campeonato com aspirações maiores.

Pois bem: seis anos depois, o Santos parece repetir a trajetória tricolor. Após a derrota para o Coritiba por 3x2, numa Vila Belmiro vazia e melancólica, o Peixe entrou na zona do rebaixamento e é possível que passe a virada de turno entre os quatro piores do torneio.



A diferença é que - e os são-paulinos me corrijam se eu estiver errado - enquanto no caso do São Paulo a "crise" era vista como reflexo de um desinteresse pelo campeonato, o Santos tem perdido porque... tem jogado mal. Se há desprezo pelo Brasileirão, ele é indireto, escondido, e ocorre apenas no tal submundo dos bastidores.

Neymar, mais uma vez, jogou muita bola. Teve ao seu lado um Borges esforçado que foi às redes duas vezes e só não chegou ao hat-trick por méritos de Edson Bastos - é regra atribuir a perda de um pênalti única e exclusivamente ao batedor, mas no caso da partida de quarta acho mais justo enaltecer o arqueiro do que detonar o Humberlito. Mas o meio-campo santista foi pífio. Ganso foi mal, mais uma vez. E os três volantes que ao lado dele atuaram também não ajudaram muito. Arouca não é armador e, colocado nessa função, acaba sendo queimado. Henrique não funcionou, como não tem funcionado.

Tropeços também ocorreram numa defesa que não soube se portar e por parte do goleiro Rafael - que vem falhando seguidamente e que se tornou uma preocupação que o santista não tinha até algumas rodadas atrás.

O São Paulo acabou como campeão mundial de 2005, e falar que o time passou por alguma "crise" naquela temporada de três títulos (teve também o Paulistão) hoje em dia parece piada. Pode ser que aconteça a mesma coisa com o Santos. Mas não está muito fácil acreditar.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Produto nacional

Marcelo Sadio / www.vasco.com.br
Nos anos 80, os craques começaram a ir para a Europa. Zico na Udinese, Careca no Napoli e outros. Os anos 90 viram, além dos craques, os atletas de nível "médio-quase-bom" também tomando o rumo do exterior. E aí, quando chegou a década de 2000, ocorreu um verdadeiro samba do crioulo doido, com jogadores de qualidade mais do que questionável também tomando o rumo da Europa ou de mercados alternativos.

Resumindo: só a exceção da exceção acaba fazendo carreira integral por aqui.

Com todo este contexto, a trajetória de Diego Souza acaba se tornando ainda mais única.

Ele tem em seu currículo uma estadia na Europa: no Benfica, onde esteve em 2005 e 2006 e, segundo a Wikipedia, fez poucos jogos. Mas é no Brasil que sua carreira se consolidou.

Enquanto jogadores de maior e menor qualidade trocavam Ucrânia por Arábia, Coreia por Turquia e Espanha por Inglaterra, Diego ia do Fluminense para o Flamengo. Do Flamengo para o Grêmio. E do Grêmio para o Palmeiras, depois para o Atlético-MG, e por fim (por ora) para o Vasco.

É quase impossível pensarmos em um jogador que tenha sido transacionado tantas vezes por clubes brasileiros em tempos recentes. E com um adendo: se Diego não é craque (certamente não é), não pode ser chamado de mau jogador. Teve bons momentos no início da carreira, foi um dos principais nomes do Grêmio vice-campeão da Libertadores de 2007, comandou aquele Palmeiras que acabaria fracassando no Brasileiro de 2009 e, agora, é um dos pilares do Vasco que ganhou a Copa do Brasil e luta sério pelo título brasileiro.

Reitero: Diego Souza não é craque. Mas é mais jogador do que, numa pensata rápida, André (ex-Santos, atualmente no Atlético), Dentinho (ex-Corinthians) e outros que estão ou estiveram recentemente no exterior.

Talvez a razão de tudo isso seja apenas uma questão empresarial - quem controla a carreira de Diego pode não ser tão bem relacionado ou não tão ávido para ganhar as comissões que chegam depois de uma transação internacional. Mas não deixa de ser um fato interessante e contra a situação vigente.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Nosso querido Palmeiras

O Palmeiras é o time mais querido do futebol brasileiro há algum tempo. Adversários deveriam torcer para encarar o alviverde quando precisam poupar titulares, estão enfrentando alguma crise ou precisam desesperadamente pontuar no campeonato. Times trocando de técnico ou eliminados de campeonatos mais importantes sempre têm nos duelos frente ao Palmeiras a chance de se reabilitarem.

A mais clara destas demonstrações de companheirismo em 2011 foi no campeonato Paulista, justamente contra o arquirrival Corinthians. Recém eliminado da pré-Libertadores pelo Tolima, o futuro time do Itaquerão tinha o alviverde pela frente para tentar acalmar os torcedores que foram apredrejar o ônibus no centro de treinamento do clube. O Palmeiras vinha bem na época, liderava o campeonato e todos acreditavam que era a chance de fechar de vez o caixão do rival até mesmo com uma goleada. A torcida do Palmeiras, mandante da partida, lotou o Pacaembu para ver uma atuação muita boa do time, uma atuação magistral de Julio César, e uma inesperada derrota de 1x0, gol já no final da partida. E o Palmeiras dava de presente um fim de crise para o rival.

Não preciso mudar muitas palavras no parágrafo anterior para falar sobre o jogo de ontem contra o Vasco. O Palmeiras pareceu ter aprendido com os erros da última quinta-feira contra o mesmo adversário e no mesmo local e jogou como se estivesse em casa. Criou chances, dominou o adversário, afastou todas as bolas altas, terror da derrota anterior, e deu aquela sensação maldita pra sua torcida de "agora vai...". Só que ao passo que a defesa mostrou-se diferente do que apresentou no meio de semana, o ataque reformulado conseguiu piorar. Os gols perdidos foram tantos quanto as chances criadas. O Vasco que está numa ótima fase desde o título da Copa do Brasil aproveitou para marcar de falta no final e levar os 3 pontos pra tabela. O time carioca não jogou bem, não merecia vencer, não criou chances pra isso, mas... graças a Deus tinha o querido Palmeiras para salvar o dia.

Os comentários após a partida começam a ficar comuns nas mesas redondas ultimamente. Kléber enfrenta um jejum que já começa a irritar até quem não o criticou durante a novela de sua possível ida para o Flamengo. Dinei e Maikon Leite parecem jogar pra perder a posição a cada rodada e Felipão já dá sinais de que a paciência esta se esgotando e que não há mais o que fazer. E não há mesmo. Ou aparece algum centroavante capaz de colocar a bola dentro do gol ou o Felipão vai conseguir ficar mais careca que o Marcos.

O Palmeiras está naquela fase mais temida pelos torcedores. A do "não fede nem cheira". O time parece caminhar calmamente pro meio da tabela, onde não trará emoção alguma para seu torcedor. Invejará os times brigando no topo de cima e se vangloriará de não estar tentando sair da ponta de baixo. E se tudo se manter da mesma forma, no fim não vai conseguir nem dar ao seu torcedor aquela "alegria" de escapar do rebaixamento na última rodada.

Não vou falar por toda a torcida do Palmeiras, mas eu já estou sentindo o mesmo que uma criança que espera ansiosamente um Natal repleto de brinquedos mas ganha um par de meias, digo, uma vaga na Sulamericana.

Brasil cascudo chega às semis do Sub-20

Brasil e Espanha fizeram um jogo legal de se ver ontem, pelas quartas-de-final do Mundial Sub-20. A seleção brasileira acabou triunfando nos pênaltis, após 1x1 no tempo normal e outro 1x1 na prorrogação.

Não dá para dizer que o duelo foi um primor técnico. Mas rendeu bons lances, emoções, divididas, empurra-empurra, dedo na cara, ou seja, tudo o que a gente quer ver numa decisão. Os dois times jogaram com bastante ímpeto e buscaram o gol a todo momento.

Se bem que, apesar da classificação, a seleção brasileira mostrou falhas que precisam ser corrigidas. A partir da segunda etapa, quando o time teve bem mais posse de bola do que o adversário, ficou evidente a falta de repertório de jogadas ofensivas - principalmente quando Negueba, do Flamengo, entrou em campo. Não por culpa dele; pelo contrário, ele correu pra caramba e fez bons dribles, inclusive um chapéu maravilhoso que desnorteou o zagueiro espanhol. Mas pelo fato de que, com ele em campo, a tática da seleção brasileira se resumiu a um "joga a bola no Negueba que ele resolve". Por mais que o cara seja bom, não é assim que uma seleção brasileira deva jogar. E aí grande parte das jogadas do flamenguista se encerrava em um cruzamento na área aproveitado por ninguém, já que os demais jogadores do setor ofensivo não acompanhavam o lance.

Quem foi bem mesmo foi a defesa. Ou melhor, o goleiro Gabriel. Ele ficou como herói por ter defendido os dois pênaltis na disputa derradeira, mas seria injusto resumir sua atuação a isso. Nos 90 convencionais e nos 30 da prorrogação ele também foi uma muralha, só sendo vazado em lances mais de mérito dos espanhóis do que qualquer outra coisa.

E na disputa de pênaltis, os cobradores brasileiros - Dudu (Cruzeiro), Henrique (São Paulo), Danilo (Santos) e Casemiro (São Paulo) - foram perfeitos.

Agora o Brasil encara o México, que superou Camarões e a anfitriã Colômbia. A outra semifinal tem França x Portugal.


domingo, 14 de agosto de 2011

Descendo a ladeira

O Santos entrou em campo ontem pelo Brasileirão e, como vem sendo rotina no torneio, levou ferro. O carrasco da vez foi o Atlético-GO - e apesar do jogo ser em Goiânia, não se atenua muito o vexame da derrota, visto que se trata de um dos clubes mais fracos do campeonato.

A partida teve dois tempos bem distintos. No primeiro, ambos os times jogaram um futebol péssimo e o 0x0 foi mais do que merecido. Mas mal sabia o torcedor santista que aquela seria a melhor das duas metades da partida. O segundo tempo viu um Santos igualmente sonolento e um Atlético que resolveu jogar. Aliás, o time goiano cresceu no jogo justamente após fazer o primeiro gol - também não estava encantando ninguém, mas ganhou confiança e depois acabou fazendo o segundo com todas as justiças.

O Santos foi refém de um esquema tático ineficaz. Seus laterais pouco produziram (como vem sendo rotina, infelizmente) e o meio-campo de três volantes - Arouca, Adriano e Henrique - não foi nem combativo nem criativo. Borges mal pegou na bola.

Neymar e Ganso
As duas estrelas do time merecem uma avaliação à parte.

O Neymar ontem fez uma atuação daquelas que dá corda para seus críticos. Lembrou os fracos momentos dele no segundo semestre do ano passado, quando o Santos já não mais alimentava esperanças de título brasileiro. Até tentou, foi pra cima, meteu uma bola na trave e em outro lance só não fez gol porque o zagueiro foi esperto e retirou a bola em cima da linha; mas o que mais marcou em sua apresentação foram as inúmeras tentativas ineficazes de dribles - que consagraram os volantes do Atlético-GO - e uma simulação que lhe rendeu um merecidíssimo cartão amarelo. Neymar é muito mais do que foi ontem, por isso não chega a representar uma preocupação efetiva. Mas foi chato.

Já o Ganso... bem, sabem quando um jogador não erra nenhum lance em campo, mas não por méritos seus, e sim por se esquivar da partida? Isso que ocorreu com o camisa 10 peixeiro ontem. Ganso mal pegou na bola. Se posicionou mal, não criou jogadas, não se apresentou. Talvez tenha sido vítima também do esquema de três volantes - Arouca, embora seja um monstro na marcação, não é um companheiro ideal para o setor ofensivo do meio-campo. Mas craque como ele é (ou parecia ser), deveria superar isso e conduzir o time.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Nada a declarar

Ontem à noite, perdi algumas horas de meu "precioso" tempo para acompanhar a estreia do SPFC pela Copa Sul-Americana. Disse precioso, embora esta não seja a palavra mais adequada: só é precioso o tempo de quem produz; como, no momento atual, nada produzo, minhas horas valem pouco menos que nada.

Sim: estou desempregado. A notícia me pegou de surpresa, na semana passada, razão pela qual não tive muita cabeça para postar o que quer que fosse nesta ágora digital.

Luiz Inácio cultiva uma simpática mania de reduzir todos os fenômenos do universo às quatro linhas. Com ele, uma rusga entre ministros ou uma crise planetária acabam fatalmente se transformando em metáforas futebolísticas.

Farei o mesmo, talvez sem a mesma maestria: perder o emprego é como levar uma virada histórica em uma final de campeonato. O bom é que sempre haverá um outro torneio à nossa espera, pronto para nos fazer esquecer do fracasso de ontem.

E ontem - ontem mesmo - eu poderia dizer que o Tricolor teve seu fracasso particular - mas não o farei. A verdade é que o time fez o máximo que podia. Por outro lado, o Ceará lutou de maneira incansável pelo bom resultado em casa.

O gol de Rivaldo acabou por representar um cruel castigo para o Vozão, que dominou a partida e buscou o gol desde que a bola começou a rolar. Alguém dirá que este meu texto está um tanto simpático ao Ceará.

E de fato está. Difícil não simpatizar com um adversário tão lutador, principalmente depois daquela pintura de Rudnei, que empatou a partida, no final do primeiro tempo, abrindo o caminho para a vitória do time cearense.

Há de se considerar que a derrota não foi de todo ruim para o São Paulo, ainda mais levando-se em conta que a equipe marcou um gol fora de casa. Para ficar com a vaga, basta que os atletas parem de cochilar em campo, imitando, quem sabe, o espírito de luta do Ceará.

Queimadas de língua

Tudo bem, admito: queimei feio a língua com meu último post. Pelo andar da carruagem, Flamengo - e, de certa forma, o São Paulo - têm vida longa no Brasileirão. É provável que terminem na frente do Corinthians, que, por outro lado, continua (na minha visão) a ser um dos principais candidatos ao título.

Se bem que, permitam-me ser polêmico: que adjetivo, senão mequetrefe, poderia ser usado para definir um campeonato cujo craque é Ronaldinho Gaúcho em plena decadência?

Posso estar enganado, mas acredito que, com muita sorte, o dentuço seria reserva na Ucrânia, na Grécia ou na Turquia. Aqui, deita e rola sobre a legião de jogadores limitados, que tanto encantam os cartolas corruptos e técnicos tacanhos de nosso país.

Hora de mudar o disco

Acabo de ver na Record a chamada de uma matéria especial sobre o Pan de Guadalajara. Como de praxe, os atletas são tratados como heróis pelo simples fato de participarem da competição.

E eis que aparece a farsa Daiane dos Santos, tratada como um gênio do esporte. Sabe-se que o principal talendo da gauchinha é frustrar a torcida brasileira nos jogos olímpicos. Ela executa essa função com maestria, melhor até do que quando ganha campeonatos fajutos contra atletas de países sem qualquer tradição na ginástica.

Incrível que uma derrotada como ela ainda receba pompas de heroína. Fosse um futebolista com tantos fracassos nas costas, receberia como única láurea o sonoro desprezo do povo brasileiro.

Porém, a mídia nacional costuma ter extrema complacência com os fracassados. É provável que Daiane continue a desfrutar por décadas de seu manto de rainha, ainda que sem coroa.

Entressafra

A seleção brasileira perdeu mais um jogo, desta vez para a Alemanha, lá na terra de Michael Schumacher. Em tese, perder um jogo para a seleção alemã - historicamente injustiçada aqui no Brasil, injustamente tratada como uma coletânea de caneleiros, mas isso é outro assunto - fora de casa não deveria ser algo tão preocupante assim. Mas isso, somado ao desempenho ridículo da seleção brasileira na Copa América, faz com que a batata de Mano Menezes asse em proporções explosivas.

Para satisfazer aos que criticavam uma suposta defensividade do time de Dunga (que não existia; mas tal qual o dito acima, "isso é outro assunto"), Mano tem mandado a campo três atacantes, Robinho, Neymar e Pato. A questão é que qualquer um que acompanhe futebol um pouquinho só a fundo sabe que 4-3-3, 3-5-2, 4-4-2 ou sei lá o quê são apenas esquemas jogados em uma prancheta (ou naquele gerador de caracteres do início do jogo), e não representam, por si só, ofensividade ou retranca. De nada adianta manter uma linha de três atacantes se não há criação no meio-campo, se não há laterais que efetivamente participam do jogo. Quando Fernandinho é seu homem de ligação no meio e seus laterais são Daniel Alves (um dos melhores do mundo no Barça, mas fraco na seleção) e André Santos (aquém do que se espera de seleção brasileira), fica difícil.

(Já que utilizei quatro vezes os parênteses num singelo parágrafo de quatro linhas, vai aí mais um uso, pra sacramentar a prática. Critiquei Fernandinho, mas não sei quem seria o tal meia da minha preferência. Ganso? Ele não joga futebol de alto nível desde agosto do ano passado. Primeiramente por estar sem condições físicas, "segundamente" por ter entrado em campo e não correspondido, tanto pelo Santos quanto pela seleção. Ainda acho que ele é craque, mas a história está repleta de caras que arrebentaram por seis meses e depois caíram no ostracismo. Cautela, portanto.)

Pra fechar, pergunta direta e reta: fora Mano? Se sim, pra colocar quem?

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Do Qatar pode vir um indulto histórico

"Por lei, a maior pena que há no Brasil é de 30 anos. Eu estou cumprindo a minha há 50", dizia, no fim de sua vida, o ex-goleiro Barbosa. Ele estava em campo no fatídico Brasil 1x2 Uruguai e, por conta de sua posição (e há quem diga que também pela sua etnia) acabou sendo o ícone do maior vexame da história da seleção brasileira em todos os tempos, a perda do título mundial em 1950, num Maracanã que continha mais de 200 mil pessoas.

A despeito da força de sua frase, ainda em vida Barbosa contou com certas doses de "absolvição". Uma espécie de revisionismo da tragédia transferiu a culpa aos dirigentes - ah, essa essencial classe, "os dirigentes", assim, no plural, sempre o alvo perfeito das críticas vagas - que teriam perturbado a concentração dos atletas e assim prejudicado a preparação do time que ainda jogaria uma final de Copa do Mundo. E em seus últimos anos Barbosa foi recebedor de muitas homenagens. Em votação promovida pela Placar em 1994, foi eleito o melhor goleiro do Vasco em todos os tempos; foi também selecionado quando a Placar repetiu a dose em 2006. E tantas outras.

Se a história acabou por ser condescendente com Barbosa, ela não foi com outro personagem, que esta semana voltou à mídia.

Ou alguém aí consegue retirar qualquer centelha de culpa de Sebastião Lazaroni? Alguém consegue olhar para ele e não atribuir a ele o fracasso no Mundial de 1990, o desperdício de uma geração que tinha Romário, Careca e Bebeto, não lembrar do esquema com três zagueiros e um líbero, e visualizar, em sua figura, a ressurreição de uma Argentina que parecia um defunto cujo carrasco se chamava Roger Milla e vinha do longínquo Camarões?

Barbosa teve em sua trajetória como goleiro muito mais do que a Copa do Mundo de 1950. Foi titular do Vasco por mais de 10 anos e na Colina faturou inúmeras taças, entre elas o Sul-Americano de Clubes de 1948, espécie de embrião da Libertadores.

Já Lazaroni... só o técnico sabe explicar se foi voluntária ou involuntariamente, mas a carreira do técnico em terras nacionais, após a Copa de 1990, é algo que se aproxima do zero. A nem sempre confiável Wikipedia reporta uma passagem pelo Vasco em 1994, outra pelo Botafogo entre 2000 e 2001 e uma terceira pelo Juventude em 2005 (é também o que a memória deste escriba traz à tona). No estrangeiro, o técnico peregrinou por Itália (sua Waterloo), Arábia Saudita, México, Turquia, China, Jamaica, Japão, Kuweit, Portugal e, ufa, Qatar.

E é na terra dos skeiks, dos petrodólares, das denúncias e da Copa de 2022 que Sebastião tenta voltar a desfrutar de um relativo status de mainstream. Não deve ter vida fácil: será o terceiro treinador da equipe somente em 2011, e nada indica que disputará, até o final, a classificação para a Copa de 2014, a ser realizada aqui no Brasil.

Lazaroni não fez como Barbosa; não triunfou em sua própria terra e, ao que tudo indica, também não contará com aquela nostalgia quase que invariavelmente destinada a todos os ícones do passado. Carregará para sempre a pecha de "o pior treinador brasileiro em Copas do Mundo", a não ser que o futebol apronte das suas.

O mesmo Brasil que Lazaroni desprezou - ou por quem foi desprezado - pode ser a terra da redenção do técnico. Caso triunfe nas Eliminatórias, trará seu Qatar para aqui disputar uma Copa do Mundo, voltando à disputa mais de 20 anos depois. Diz um sábio ditado: "de onde menos se espera, é de onde não vem nada mesmo". É portanto próxima de zero a chance de Lazaroni fazer algo de digno em terras nacionais, se é que irá chegar até aqui. É pequena, bem pequena, a chance deste Barbosa contemporâneo mudar de status.

domingo, 7 de agosto de 2011

Quem é o dono da camisa 1?

Na tarde deste domingo, o Corinthians entrou em campo na Arena da Baixada para enfrentar o Atlético-PR com uma novidade em campo: a entrada do goleiro Danilo Fernandes, atleta das divisões de base do clube que teve sua primeira oportunidade no time principal, no lugar de Renan, goleiro que vinha tendo atuações instáveis nas três oportunidades que teve como titular.

Renan foi contratado logo nas primeiras rodadas do Brasileirão após boas atuações pelo seu ex-clube, o Avaí, na Copa do Brasil e credenciado por já ter sido convocado para a seleção brasileira. O fato de o goleiro titular Júlio Cesar, na época, estar passando por uma fase de desconfiança do torcedor (após falha na decisão do Campeonato Paulista), fez com que a torcida acreditasse que o atleta recém-chegado assumisse a posição assim que tivesse uma oportunidade.

No entanto, não foi desta forma que as coisas aconteceram. A chance apareceu após a contusão de Júlio na partida contra o Botafogo, em São Januário. Porém, a insegurança apresentada, nos três jogos em que foi titular, fez com que o técnico Tite repensasse a escalação do goleiro e que o barrasse da partida de hoje.

Na rodada do meio de semana, apesar da importante vitória do Corinthians sobre o time do América-MG, a saída precipitada do goleiro, no gol de empate dos mineiros, deixou o time claramente inseguro e tornou um jogo que aparentava ser resolvido com facilidade em uma tortura para os mais de 30 mil torcedores nas arquibancadas frias do Pacaembu. O time passou a assumir uma postura defensiva, o que limitou as investidas no ataque durante todo o segundo tempo. O gol da vitória acabou saindo em um lance casual, em uma sobra de bola na pequena área.

Na partida de hoje, o goleiro Danilo Fernandes teve uma atuação discreta, porém segura. Nas oportunidades que teve apresentou bom posicionamento e tranquilidade na saída de bola. Nitidamente o time assumiu uma postura de maior confiança, e conseguiu evoluir melhor com as jogadas de ataque durante a partida. O resultado de empate acabou não refletindo a atuação que o time teve, com boas chances de gol perdidas (bola na trave de Danilo e gol perdido cara-a-cara de Wiliam), mas apresentou boas perspectivas ao torcedor corinthiano para a continuação do campeonato.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Cara de 0x0

Ontem o Palmeiras voltou ao local onde sofreu a sua vergonha anual. Anual pois de uns bons tempos pra cá, o Palmeiras não é o Palmeiras sem passar por uma bela decepção, daquelas dignas de "só acontece com a Portuguesa" ou "só podia ser com o Botafogo".

Aquele 6x0 que eliminou o time da Copa do Brasil (os mais fanáticos diriam que o time foi eliminado em São Paulo - "ainda dava" - mas eu não compartilho de tal debilidade neurológica) deixou no ar uma certa vontade de vingança na cabeça dos jogadores. Só que depois de levar um gol logo o no início, tal vontade se transformou numa mistura de "de novo?" com "o empate é um bom resultado". E foi um bom resultado.

O gol no início, no rebote de uma das defesas mais sensacionais que já vi no futebol, não causou tantos calafrios na minha, ultimamente sofrida, cabeça de palestrino. E digo porquê: o time não estava tão acuado como naquele fatídico vexame, dava sinais que conseguia encostar na bola alguns segundos em sequência e o Coritiba não anda, de fato, metendo mais medo em ninguém. Com o gol de empate logo em seguida após um desvio na zaga, tive a certeza de que as coisas não dariam totalmente errado novamente. E não deram.

O Palmeiras foi até melhor e mais perigoso do que o Coritiba, que parece procurar aquele futebol mágico do primeiro semestre (existente apenas na cabeça do técnico e nas saudades da torcida). Inclusive teria a chance de virar a partida se o juiz marcasse um penalty em cima de Luan, o maratonista. Mas o jogo estava tão feio que não merecia mais gols. Alguma emoção mesmo só após a expulsão do Thiago Heleno graças a um chute de Maurício Ramos digno de Marco Ósio. E não foi nada que se possa dizer "nossa, mas que emoção incrível, que emoção sublime!". O time da casa foi todo pra frente, a torcida gritava mais pra não passar frio e a zaga do Palmeiras conseguia afastar na base do bola pro mato. E ficou tudo nisso.

O caso é que o Palmeiras é um time difícil de ser batido. A marcação é muito forte no meio, justamente pela falta de neurônios capazes de colocar alguém na cara do gol, e a defesa consegue fazer o seu papel de deixar a bola longe do goleiro. Quando nada dá certo, Marcos ainda consegue evitar o pior mesmo com seus 38 anos de santidade, títulos, falta de cabelo e excesso de contusões.

Mas da mesma forma que é difícil de ser batido, o time sofre da mesma dificuldade em bater. Enquanto o fator casa coloca no time algum ímpeto e vontade de fazer a bola entrar de qualquer jeito, as vitórias fora de casa serão raridade. Só que a dupla vitória em casa e empate fora deixou de ser receita pra títulos desde 1994 quando triunfos deixaram de valer 2 pontos. Resta ao torcedor palmeirense esperar que sobre alguma vaga ali entre o segundo e terceiro lugares para um time com cara de 0x0. E aí a frase "na Libertadores é outra história!" tomará conta da sanidade de 99% da torcida do Palmeiras, que irá sonhar um pouco com um novo 1999.

Em busca de um DNA reverso

No início do ano, quando o Santos ainda não tinha ajeitado o time que acabaria sendo campeão da Libertadores, uma discussão em voga na Vila Belmiro dizia respeito a um suposto "DNA ofensivo" do clube. O Santos é o time que mais marcou gols na história do futebol mundial e é a casa na qual Pelé se consagrou ao mundo, e tudo isto, além de outras passagens, fariam com que o Peixe tivesse sempre a obrigação de atacar, atacar, atacar.

Foi nítido o contraste entre o tal "DNA ofensivo" e os métodos de trabalho de Adílson Batista e, posteriormente, Muricy Ramalho. Adílson saiu da equipe sem deixar saudades e Muricy foi campeão da Libertadores - embora não se possa dizer, de modo algum, que o time que conquistou a América tenha na ofensividade seu traço mais marcante. É só analisar os números: na fase de mata-mata do torneio continental, o Santos superou todos os oponentes na base do vitória-empate, incluindo dois 0x0 nessa trajetória, contra América-MEX (jogo de volta das quartas-de-final) e Peñarol (ida da final).

O fato é que o Santos 2011 não ostentou o tal "DNA ofensivo" exigido por diretoria e parte da torcida - diferentemente da equipe do ano passado, com seus marcantes 10x0, 9x1 e 8x1. Acontece que, como o time estava vencendo, isso não parecia uma preocupação das maiores.

Pois bem: virou o semestre, o Brasileirão começou a engrenar, acabou a Copa América e o Santos vive agora uma sequência de três derrotas consecutivas. Primeiro o "jogão" contra o Flamengo, depois a falha ao aplicar o feitiço contra o feiticeiro sobre o Atlético-PR, e, ontem, um inapelável 2x0 a favor do Vasco, na - de longe - pior e menos encantadora atuação do time na série.

Colocar a culpa pela derrota em Ganso e Elano, que mais uma vez foram bem mal, é um caminho que, embora seja corretíssimo, é o mais curto e um tanto quanto impreciso. É evidente que se os dois jogassem o que sabemos que eles jogam a história poderia ser outra, mas o Santos tem apresentado outras deficiências que não se mostravam até pouco tempo atrás.

Rafael, goleiro até então inconteste e com jeitão de ídolo, falhou feio contra o Flamengo (no primeiro gol rubro-negro) e tropeçou também ontem, no segundo tento vascaíno. A dupla de zaga Durval e Dracena vinha bem, mas passou a falhar em sequência.

É talvez a ausência de Adriano - o menos badalado entre os titulares do título da Liberta - que explique o desequilíbrio pelo qual passa o time. Sem ele, o meio-campo formado por Arouca, Ibson, Elano e Ganso acaba caindo num limbo em que não consegue nem criar nem marcar. O resultado é que o Santos fica acuado.

É interessante ver que, no prazo de pouco mais de seis meses, a ambição dos santistas acabou por ir por uma trajetória oposta à de antes. Ao invés do "DNA ofensivo", o que se quer é um "DNA defensivo", algo que retome o equilíbrio do grupo.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

‘Nós’, ‘a gente’ e os 9% de gordura de Ronaldinho Gaúcho

Envergando jeans, casaco em couro e cachecol cor de chumbo, Galvão Bueno caminhava por Milanello, o centro de treinamento do Milan. “Nós hoje vamos conversar com o número 80...”, adiantou. O “número 80” em causa era Ronaldo de Assis Moreira, o Gaúcho, personagem destacado naquela edição do programa Na Estrada com Galvão, exibido pelo canal pago Sportv.

Esqueçamos o princípio da conversa, quando o entrevistador indaga se Ronaldinho joga xadrez – resposta negativa. Esqueçamos quando este afirma não ser europeu e tampouco atravessar o samba. Esqueçamos, ainda e por fim, quando confessa que sempre sonhou ser famoso e que, criança, já treinava o próprio autógrafo. Mas não nos esqueçamos disto: Ronaldinho não parecia verdadeiramente interessado no diálogo, parecia alheio ao que se sucedia ao redor.

E é assim que sempre consegui percebê-lo, como um retrato do alheamento. Se em campo, no auge, era um sujeito concentrado, que sabia expressar vontades, fora da grama sugeria-se distraído. Era difícil vê-lo sozinho, tinha sempre um staff a rodeá-lo. A blindá-lo. Enxergávamos o Ronaldinho cercado por seguranças, por amigos, eventualmente por garotas sinuosas. E por Assis, seu irmão mais velho.

Ex-jogador de fama e sucesso relativos, Assis operava e opera como uma espécie tutor do caçula mais talentoso. Nada de estranho, portanto, no fato de ter sido convocado à roda do Na Estrada com Galvão. Questionado pelo apresentador, Assis mostrou-se sincero. Contou que se realiza “muito, muito, muito” em Ronaldinho. E então veio, agora sim, meu estranhamento.

Ao falar sobre o irmão, Assis usou “nós” e “a gente”. Talvez resquício de seus tempos de jogador. Talvez “vício” de linguagem. Ou talvez – e era a primeira vez que eu considerava tal possibilidade – indício de que a superproteção ao redor de Ronaldinho superava o habitual entre seus pares.

Meses adiante, no mesmo ano de 2009, Assis dava entrevista após um jogo festivo no Estádio Olímpico, do Grêmio. Tinha sido vaiado. “Como é que você vê o torcedor pegando no seu pé, Assis?”, indaga a repórter. “Faz parte, é tudo muito recente, a história da saída do Ronaldo (...). [O importante é que] A gente tem aí o reconhecimento do mundo, de um atleta que fez história lá fora (...). Quem sabe um dia a gente retorne ao Estádio Olímpico e que tudo volte ao normal...”

Conforme sabemos, a gente não retornou ao Estádio Olímpico. A gente preferiu o Flamengo, depois de sair do Milan. E a gente recebeu um bocado de críticas, por conta.

É bonita a relação de Assis e Ronaldinho. Apesar disso, nos tempos de decadência do segundo, eu não era capaz de escapar dum psicologismo vulgar: talvez Ronaldinho carecesse de alguma ruptura, ao menos parcial e restrita à atividade profissional, para voltar a ser o inigualável que foi em 2004 e 2005. Talvez fosse necessário mais independência, menos seguranças, menos carros com vidros escurecidos. Em minha divagação, a queda se devia à contaminação do Ronaldinho jogador pelo Ronaldinho que, na vida (por assim dizer) civil, não decidia nem fazia nada sozinho. Era ocasião de tomar controle de si.

E o que aconteceu, leitor, com Ronaldinho? Embora não tenha sido catastrófico em seus primeiros meses de Flamengo, os questionamentos surgiram. “Este aí só quer saber do futevôlei, churrasco, pagode e da noite carioca!”, acusaram uns. “Cadê o patrocínio milionário?!”, provocaram outros. Pois é. Dá-se, contudo, que nas últimas rodadas do campeonato nacional em curso Ronaldinho fez boa figura. Mereceu os holofotes pelos 5 x 4 que sua equipe aplicou na de Neymar. A que se deve a alteração de status?

Não sei assegurar se a independência aconteceu. Se “psicologicamente” a condição melhorou. Se Assis deixou de usar “a gente” e “nós”. Sei que, nos últimos dias, noticiou-se que o percentual de gordura de Ronaldinho Gaúcho é agora de 9%. Índice admirável, um tanto mais apropriado que o de suas últimas temporadas. Em boa forma física, o homem reencontra-se, aos poucos – no que têm ajudado as atuações ruins das defesas adversárias.

Não é raro que, em futebol (como noutros esportes), se atribua o fiasco exclusivamente a limitações que nada têm de técnicas. Vaidade, falta de ganas, preocupações demasiado financeiras ou capilares são algumas das “explicações” usuais. Incluo-me na fauna que, por vezes, cai na tentação de querer entender o que nem sempre é passível de compreensão. Existem motivações tangíveis e existem motivações imateriais. Erra quem julga que elas não se comunicam entre si.

“O coração tem razões que a própria razão desconhece”, disse o pensador francês Blaise Pascal (1623-1662), antecipando em três séculos o estilo de Ivan Lins. Pois o futebol tem razões que, nalguns casos, a própria razão conhece, digo eu. Modestamente, obviamente.