sábado, 15 de dezembro de 2012

10 anos

Eu não lembro que roupa estava vestindo. Também não consigo recordar, com clareza, o que fiz na manhã daquele dia, até o momento do duelo. Ironias da vida - logo a minha memória, o traço da minha personalidade do qual mais gosto, me deixa na mão e me impede de fazer uma descrição um pouco mais viva daquele 15 de dezembro.

Também não consigo lembrar o que se passou na minha cabeça aos 43 minutos e três segundos do jogo.

Há um chavão, cada vez mais em uso, que odeio: "só quem passou por isso consegue entender, não há como explicar, só estando lá pra saber". Acho que isso virou um recurso para superar uma certa incapacidade para procurar palavras que expressem sentimentos sinceros.

Então não é a ele, decididamente, que vou recorrer para falar do que ocorreu quando Elano empurrou a bola para as redes - ou, mais precisamente, quando o juiz confirmou o gol de empate. Até porque eu sei bem o que houve comigo. Lembro com precisão do meu sentimento. Alegria, é claro. Alívio, sem dúvidas. Consagração, júbilo, prazer, satisfação, sei lá.

A questão é que mais importante do que a alegria que senti naquela ocasião e em tantas outras por causa do futebol - títulos paulistas, o Brasileiro de 2004, Libertadores 2011 e outros - o que ocorreu comigo, ali, naquele instante, foi uma sensação de que minha vida estava sendo dividida em duas. Sabem a metáfora do "nascer de novo"? Então, talvez tenha sido um pouco por ali.

Não se trata de exagero afirmar isso. Quem é torcedor sabe que o clube de futebol ocupa, em nossas vidas, uma posição de protagonismo. E para mim - e acredito que a todos os santistas - a experiência de ser torcedor do Santos modificou-se integralmente após aquele dia.

Acho que não cometo nenhum pecado ao afirmar que os 11 jogadores do Santos - mais os suplentes e até mesmo o trio de arbitragem do 15 de dezembro de 2002  - fizeram, sobre minha vida, um efeito que pouquíssimas coisas ou pessoas já fizeram.

Agradeço a eles. Mais: repasso a eles uma espécie de responsabilidade, de obrigação de saber o que fizeram com a vida de um cara que contava 22 anos à época e tinha, naquele momento, o futebol como uma das coisas mais importantes da sua vida - e ainda tem nos dias atuais, com tanta intensidade quanto a daquela época, ou ainda maior.

Não sei o que a vida me reserva nos próximos 68 anos (no mínimo) que pretendo viver. Sei que acho pouco provável que ela me traga algo similar ao que senti aos 43 minutos daquele jogo.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O saudoso (ou inexistente) futebol do passado


Estou de saco cheio desse futebol de hoje em dia. Gosto mesmo é do FUTEBOL DO PASSADO.

No FUTEBOL DO PASSADO, não tinha esse monte de zagueiro botinudo, pancadaria em campo, violência mesmo. Os zagueiros marcavam na bola; os atacantes e meio-campistas conseguiam desfilar sua categoria e o resultado era que tínhamos jogos magistrais, de encher os olhos.
No FUTEBOL DO PASSADO, não havia tempo pra frescura. Se neguinho viesse com gracinha, ia logo levar uma pra ficar esperto. A malandragem imperava, sacam? Era futebol pra homem, no tranco mesmo, sem esses não-me-toques dos dias atuais. Queria ver um frangotinho de hoje em dia sobreviver naquela época.

O FUTEBOL DO PASSADO era animado, brincalhão, não se preocupava com babaquices politicamente corretas. Os jogadores se provocavam, se desafiavam; as torcidas brincavam entre si, uma cutucando o ponto fraco na outra, querendo superar a rival em bandeiras e faixas. Isso construía um espetáculo vivo, e não essa coisa insossa de hoje em dia.
O FUTEBOL DO PASSADO era respeitador. Violência? Esqueçam! Os jogadores se tratavam de maneira cordial - ninguém tinha comportamentos que poderiam insuflar as torcidas. Torcedores também. Era muito comum vermos corintianos e palmeirenses dividindo o mesmo canto da arquibancada.

No FUTEBOL DO PASSADO, não existia esse patrulhamento chato e careta sobre o estilo de vida dos jogadores. Quer ir pra cima da mulherada? Vai fundo! O que importa é resolver dentro de campo, como eles faziam. Ah, e como eles faziam! Garrincha que o diga.
No FUTEBOL DO PASSADO, sabe o que era a prioridade número 1 para os jogadores? O futebol! Sim, eles queriam marcar gols, serem campeões, essas coisas. Não como os de hoje em dia que só estão preocupados com balada e com a mulherada que podem pegar.

A imprensa dos tempos do FUTEBOL DO PASSADO acompanhava o clima de alegria que caracterizava o futebol da época. Brincadeiras, animação, bordões, tudo pra fazer com que o público se divertisse ainda mais assistisse futebol. Hoje em dia? É só um monte de engomadinho pasteurizado que fica vomitando estatística.
Como era bom acompanhar o trabalho dos jornalistas no FUTEBOL DO PASSADO: sérios, preocupados em informar, em noticiar o que acontecia. Não viam o futebol como gracinha e show, como ocorre nos dias atuais.

Ah, como dá saudade o FUTEBOL DO PASSADO.

Que passado?

Ora, é claro que estou falando dos anos 50, a era de ouro. Dos anos 60, a época da consagração do triunfo. Dos anos 70, o ápice da coisa. Dos anos 80, com a seleção canarinho - aquela que era boa! Dos anos 90, do futebol raçudo e guerreiro. Dos anos 2000, quando a tecnologia estava a nosso favor. Ou mesmo de um ano, um mês atrás. Se é do passado, se pertence ao FUTEBOL DO PASSADO, é bom.

Foto: Flapedia

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Fora Muricy

É, é isso.

Pode soar um tanto quanto imediatista pedir a demissão de um técnico que deu ao Santos dois títulos paulistas (o que configurou o tri, que ninguém no estado faturava desde 1969) e a tão sonhada Libertadores. Mas não há como não pensar diferente.

Aos fatos: o Santos, hoje, é um bando. Um time desorganizado, sem opções táticas, sem ninguém que chame a responsabilidade para si. Não há criatividade ofensiva e nem mesmo uma solidez na defesa que poderia nos fazer crer que a insatisfação dos santistas com o técnico deriva de sua fama de retranqueiro. Nunca foi tão óbvio dizer isso, mas lá vai: o Santos com Neymar é um time competitivo, sem ele é uma piada.

"Mas pô, sem o Neymar é realmente difícil, qualquer time ficaria fragilizado".

Aí que tá, meu povo. É aí onde mora o xis da questão.

A ausência de Neymar em grande parte dos jogos deste ano era previsível. Sabida. Qualquer canário belga cega tinha a certeza que o camisa 11 do Peixe seria requisitado para a disputa dos Jogos Olímpicos - e qualquer minhoca de jardim detinha a informação de que o Brasileirão não, não pararia durante isso, e nem mesmo quando a seleção fosse jogar amistosos.

A previsibilidade é o que determina a falha de Muricy. Ele tinha a informação e, portanto, tinha a obrigação de saber lidar com ela. O "aqui é trabalho, meu filho" deveria entrar em ação para reverter o quadro e dar ao Santos alternativas técnicas para jogar sem o moleque.

Mas não foi o que ocorreu, e aí o Santos se viu um café-com-leite no Nacional. Não há como fugir do óbvio outra vez: se não fosse Neymar e suas poucas aparições no Brasileiro, estaríamos na zona do rebaixamento.

Por isso é hora de agradecer a Muricy pelo bom trabalho no primeiro semestre de 2011, e permitir que ele e o Santos tenham vidas novas, distantes um do outro.

Fora Muricy.

Foto: Ricardo Saibun/© Santosfc.com.br

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Medo

É impressionante a diversidade de emoções que o Palmeiras é capaz de proporcionar aos amantes do futebol, principalmente aqueles que se auto intitulam PORCOS. Começo explicando o parágrafo acima confessando que duas palavras estão se tornando cada vez mais frequentes quando estou conversando sobre os resultados do time alviverde: BOTAFOGO e PORTUGUESA. São duas palavras que certamente você vai encontrar acompanhadas das suas irmãs gramaticais mais queridas: DESASTRE, VERGONHA e IMPOSSÍVEL. Acontece que o palmeirense passou a conviver com o medo de ver o nome do seu time fazendo companhia aos dois acima na lista de protagonistas de PROEZAS vexatórias. "Mas o time acabou de ganhar a copa do Brasil de forma heróica"- me lembrará o leitor mais antenado. Sim, GRAÇAS A DEUS! O problema é que aquele "AGORA VAI" que durou 3 dias após o 11.o título nacional está se tornando um "será que vamos conseguir ser o primeiro rebaixado na Libertadores?". Bom, ainda é cedo para tanta preocupação, concordo, mas antes se livrar agora do que correr atrás faltando meia dúzia de pelejas. O time anda fazendo boas partidas e realmente acho que o azar tem falado mais alto. Só que todos sabemos que o azar é membro HONORÁRIO de qualquer campanha pífia então é preciso vencê-lo também. Falta confiança, e ela só vem com vitórias. Se cada jogador buscar aquele espírito da Copa do Brasil, se acreditar que o ACASO é esta situação e não o título que conquistaram, o time pode sair desta situação. Senão, daqui 4 teremos mais um exemplo de coisas que "só acontecem com a Portuguesa, com o Botafogo e com o PALMEIRAS".

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O que Ganso ganha com tudo isso

No Brasileirão de 1998, Fábio Júnior apareceu para o futebol nacional e logo como o craque do torneio. Depois acabou não vingando. Entre 2007 e o começo de 2009, qualquer lista séria sobre os melhores atacantes do Brasil deveria incluir o nome de Keirrison. A partir daí, a carreira dele viraria motivo de piada. Durante os primeiros meses de 2010, Ganso foi, seguramente, um dos melhores jogadores do Brasil. Mas o tempo passou e...

Hugo Genaro/ Santos FC
A essa altura, o leitor já deve estar entrando em desespero e procurando a palavra ideal para me xingar (principalmente se não for santista; nós, peixeiros, nos desencantamos há tempos). Como assim, comparar Ganso, o craque da 10, o ícone do futebol clássico, o sopro de genialidade nos tempos botinudos com essas duas enganações?

Bem, a comparação salta aos olhos quando se analisa o que cada um dos três citados produziu na carreira. E se faz mais pertinente quando observamos que os dias de glória de Ganso ficaram num distante ano retrasado - sim, houve um jogo-chave na Libertadores de 2011 em que ele foi decisivo, mas ainda assim foi uma partida só e o tempo já andou de lá pra cá. Não há nada que Ganso tenha feito, dentro de campo, nos últimos 18 meses, que justifique a condição de craque que ele ainda carrega.

Mas aí entra uma questão-chave, que o diferencia de Fábio Júnior e Keirrison. E que, se por um lado deixa sua condição ainda mais complexa, pelo menos pode servir de álibi. Me refiro às sucessivas polêmicas extra-campo que Ganso tem vivido. Desde 2010 - quando as coisas ainda vinham bem - sua relação com o Santos não é boa. Ganso é vinculado a uma empresa que se engalfinha frequentemente com a diretoria atual do Peixe. Brigou publicamente diversas vezes por causa de salários - a ponto de recusar uma proposta similar à que faz de Neymar um dos jogadores mais bem pagos do mundo - e, recentemente, viu a coisa chegar ao seu auge quando declarou que "seria um prazer" jogar no São Paulo e viu uma chuva de moedinhas na Vila como resposta.

Todo esse cenário caminha para que seja colado em Ganso o famigerado rótulo do "é craque, mas não tem cabeça". É uma pecha que, acredito eu, nenhum jogador gosta de ter, mas possibilita ao atleta ter sua carreira analisada de modo diferenciado - e a seu favor. O exemplo máximo dos dias atuais é Carlos Alberto, meio-campista atualmente no Vasco. Seu início meteórico no futebol sugeriu que ele seria um worldclass, o que sabemos que não aconteceu. E não há quem não associe sua trajetória opaca com as inúmeras confusões em que se mete. A pergunta é: e se elas não tivessem ocorrido? Será que Carlos Alberto seria, mesmo, um craque? É possível cravar esse destino, como muita gente faz?

Outro paralelo que faço é com o goleiro Fábio Costa. Ele é infindável (e irritante) fonte de polêmicas, como sabemos. Está sem jogar futebol desde o início de 2010, quando teve uma passagem brevíssima e nada saudosa pelo Atlético-MG. Saiu do Santos (por empréstimo) por conta de descompasso com a diretoria do clube e é por esse mesmo motivo que não é relacionado, embora vá ao CT do Peixe todos os dias para treinar. O ponto em que quero chegar é: as desavenças entre Fábio Costa e a diretoria do Santos fizeram com que o desempenho do jogador dentro das quatro linhas, fraquíssimo no biênio 2008/2009, ficasse em segundo plano. Fábio Costa não joga "porque briga com a diretoria e é polêmico". E sim porque é - ou melhor, se tornou - um mau goleiro.

Ainda que Fábio Costa se converta e dedique 75% dos seus salários aos Doutores da Alegria, continuará sendo um mau goleiro, que não quero ver novamente no meu time. Mesmo que Carlos Alberto tome um chá de consciência que o faça ser mais querido que Marcos e Bosco, notórios atletas "de grupo", eu não gostaria de ver o seu futebol a favor do Santos. E o Ganso de 2012 - ou melhor, o Ganso de depois do segundo semestre de 2010 - é um jogador que, acredito, não tem muito a contribuir com o desempenho do time. Ainda que toda a sua situação contratual seja resolvida e pacificada.

As reações ao imbróglio Ganso-DIS-Santos sugerem que ele vai, mesmo, entrar para a história como um "craque sem cabeça". Contará assim com um pouco de condescendência quando seu desempenho for analisado no futuro. Talvez, se Keirrison e Fábio Júnior soubessem o que suas carreiras os reservariam, teriam aprontado um pouco mais.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Contratação de Ronaldinho leva Galo a grupo seleto

Praticamente tudo o que se poderia falar sobre a contratação de Ronaldinho Gaúcho já foi dito, então não choveremos no molhado. Vamos colocar nosso foco sobre outro aspecto da transação: com o negócio, o Atlético-MG passa a integrar a lista dos clubes brasileiros que já tiveram um 'melhor jogador do mundo' em suas fileiras.

Por 'melhor jogador do mundo', deixemos claro, nos referimos àqueles consagrados pela Fifa como tal. A federação internacional concede o prêmio desde 1991. Então, não há como nos referirmos a Pelé, Garrincha, Rivelino e tantos outros mitos da bola. OK?

Esclarecimento feito, vamos em frente. A lista crua dos times brasileiros nos quais já atuou um melhor do mundo, acompanhada do atleta em questão (entre parênteses, o ano da honraria) é:

América-RJ: Romário (1994), por um só jogo.
Atlético-MG: Ronaldinho Gaúcho (2005/2006), a partir de junho de 2012.
Corinthians: Rivaldo (1999), em 1993, e Ronaldo (1996/1997/2002), entre 2009 e 2011.
Cruzeiro: Ronaldo, em 1993, e Rivaldo, em 2004.
Flamengo:  Romário, entre 1995 e 1999, e Ronadinho Gaúcho, em 2011 e 2012.
Fluminense:  Romário, entre 2002 e 2004.
Grêmio:  Ronaldinho Gaúcho, entre 1999 e 2001.
Mogi Mirim: Rivaldo, em 1992 e 1993.
Palmeiras:  Rivaldo, em 1994 e 1996.
Santa Cruz: Rivaldo, em 1991 e 1992.
São Paulo: Kaká (2007), entre 2000 e 2003 e Rivaldo, em 2011.
Vasco: Romário, em um grande número de passagens.

Entre os 12 principais times do Brasil, apenas Botafogo, Internacional e Santos não tiveram um melhor do mundo no plantel. O curioso, no caso do Santos, é que o clube tornou-se famoso por ter por muitos anos o melhor jogador de todos os tempos e, nos dias atuais, ter a possibilidade de ser o único time brasileiro a ter um craque eleito pela Fifa enquanto atua no Brasil. Se Neymar continuar voando baixo, trata-se de um tabu que pode ser quebrado. A esperar.

PS: O glorioso Tupi, de Juiz de Fora (MG), por pouco não entra na lista. Em 2006, o clube contratou Romário, que chegou a posar para fotos com a camisa alvinegra, treinar com os companheiros e tudo o mais; mas a transação não foi para a frente por conta da CBF, que vetou a transferência, alegando que o Baixinho já havia trocado de clube três vezes naquela temporada.

PS 2: Se estendêssemos a lista para os técnicos que alguns dos melhores do mundo se tornaram após pendurarem as chuteiras, teríamos que incluir o Atlético-PR. O Furacão teve o alemão Lothar Matthaus, melhor do mundo em 1991, como seu técnico por um breve período em 2006.

PS 3: Ronaldo não chegou a jogar profissionalmente no São Cristóvão, por isso o clube do Rio não entra na relação.

sábado, 14 de abril de 2012

Minha homenagem ao centenário do Santos: quando o Peixe abriu mão da arte e dos meninos

Não há como não associar o Santos ao futebol-arte. É o time em que foi revelado e se consagrou o maior jogador de todos os tempos; é também a equipe que retomou seu lugar de grande com sete pedaladas e no último Brasileiro da era dos mata-matas – e logo derrotando o técnico que virou sinônimo de futebol de resultados; e é, nos dias atuais, quem tem o maior jogador de futebol do país além de outros atletas promissores. Não à toa, o slogan das comemorações do centenário santista é “100 anos de futebol arte”.

É claro que a arte não esteve presente de maneira ininterrupta nestes 100 anos. O Santos teve muitos times ruins, especialmente em três eras: nos anos 1940, na entressafra que se deu entre o fim da era Pelé e o surgimento dos primeiros meninos da Vila e no tenebroso período entre 1984 e 2002.

Mas, entre a euforia da arte e a tristeza dos times ruins, houve um momento em que o Santos praticou o verdadeiro futebol de resultados. Criou uma equipe que, de 1x0 em 1x0, com três zagueiros e lateral improvisado, que sem nenhum drible e nenhum lance de encher os olhos, conquistou o Olimpo.

Falo do time campeão paulista de 2006.

Antes de mais nada, uma breve ficha técnica: o time foi campeão ficando na frente em um campeonato de pontos corridos em turno único, com 14 vitórias, um empate e quatro derrotas. Marcou 33 gols (sexto melhor ataque!!) e sofreu 19 (melhor defesa, algo tão contraditório à história do Peixe quanto o dado anterior).

A maior “goleada” foi um 3x0 sobre o Santo André na sexta rodada. Houve uma épica sequência de quatro 1x0, sobre Noroeste, Corinthians, Ponte Preta e Rio Branco – não tenho todos os dados da história do clube, mas arriscaria que nunca o time fez tantos 1x0 em série em sua trajetória.

Como todo time de resultados que se preza, é claro que lançou mão da catimba quando foi necessário. Há corintianos que até hoje não entenderam o fato do adversário da equipe do Parque São Jorge ter entrado com 12 jogadores em campo. Isso mesmo: Vanderlei Luxemburgo subiu com 12 atletas no clássico entre os alvinegros; os 12 se aqueceram e acenaram para a torcida. Até que, na hora H, Geílson saiu e deixou o time com o número regular de jogadores em campo – dentre eles, três zagueiros, o que significava o “segredo” que Luxa queria esconder do adversário Antonio Lopes.

Outro fator que distingue aquele time dos outros da história santista está na composição do elenco. Analisemos a escalação do time no jogo decisivo, a vitória sobre a Portuguesa: Fábio Costa; Fabinho, Ronaldo Guiaro, Ávalos e Kleber; Wendel, Maldonado, Cléber Santana e Léo Lima; Geílson e Reinaldo. Entre os 11 titulares, apenas um único revelado na Vila Belmiro. Só um.

Nada de “meninos”, sexto pior ataque, 1x0's em profusão: um Santos completamente descaracterizado da sua história!

Neste contexto, nada “melhor” que o jogo do título tivesse apenas dois gols – ambos de cabeça –, sendo que um deles foi um gol contra.

É ou não um time que marcou época?

Fecho o post com o meu elo com aquele time. O título de 2006 foi o primeiro que vi no estádio (depois dele, vieram os Paulistas de 2007, 2010 e 2011). O que já seria simbólico pra mim de qualquer forma se tornou “eterno” com o vídeo que vai abaixo: uma reportagem do SPTV sobre a conquista santista em que eu, vejam só, fui o personagem principal. Apreciem.



PS: Em 2007, o Santos foi bicampeão paulista também flertando com o futebol de resultados. Aproveitou-se da vantagem do empate e superou o Bragantino nas semifinais com dois 0x0 e o São Caetano na decisão com um 0x2 e 2x0; porém, a campanha melhor na primeira fase estraga a “resultadice” do time.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

O andar de baixo paulista

Começa neste fim de semana a fase semifinal da Série A2, a segunda divisão do futebol paulista. Os oito remanescentes no torneio dividem-se em dois grupos; os dois melhores de cada chave garantem o acesso. Audax, União Barbarense, Ferroviária e Atlético Sorocaba compõem um grupo, e Red Bull, Penapolense, São Bernardo e Noroeste estão no outro.

Pela campanha na primeira fase, os quatro favoritos ao acesso são Atlético Sorocaba, São Bernardo, Red Bull e Audax. Quatro times sobre os quais cabe uma reflexão. Atlético e São Bernardo são equipe relativamente novas – e ambas têm um pé administrativo fora do futebol. O Sorocaba é de propriedade do líder religioso Rerendo Moon, enquanto o São Bernardo é comandado por políticos da cidade.

Por sua vez, Red Bull e Audax integram a lista dos famigerados clubes-empresa. O Audax é o antigo Pão de Açúcar EC, que mudou de nome para, entre outros motivos, evitar o boicote da Globo (que o chamava de “PAEC” e até mesmo de “Embu”, quando a equipe esteve sediada no município). Já o Red Bull, tal qual a bem-sucedida escuderia de Fórmula 1, é bancado pela fabricante de energéticos.

Ao contrário de muita gente – da maioria das pessoas com quem converso – não torço contra esses clubes-empresa. Eles roubam o lugar dos tradicionais? Sim, mas o fazem porque os dirigentes dos tradicionais são incompetentes para gerenciar o futebol. Eu acredito que a ascensão dessas equipes pode ser um chacoalhão necessário para o futebol.

Descenso
Enquanto isso, na parte de baixo da tabela, a zona de rebaixamento da A2 traz também suas curiosidades. Caíram para a segunda divisão Palmeiras B, Rio Preto, União São João e América.

O Palmeiras B, digamos a verdade, nunca deu muito certo. Ou é algo que mobiliza os torcedores do Parque Antártica e revelou inúmeros jogadores à equipe verde? Mas se o Palmeiras insiste, deve ter suas razões.

É também interessante ver dois times da mesma cidade – e que até pouco tempo estavam na primeira divisão – caírem simultaneamente para a terceirona. Assim como chama a atenção ver a queda do União São João, que entre 2005 e 2010 esteve entre os melhores da A2 e refugou na hora de subir.

Não é o caso de falarmos de “crise do futebol do interior” ou traçar cenários apocalípticos. Há um montão de exemplos que deixam claro que cair de divisão não é o caos pintado por muitos. Eu, particularmente, torço para que o União volte.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Rogério Ceni, o nosso Bismarck

Depois de um longo período de hibernação, eis que retorno a este espaço digital. Meu afastamento se prolongou mais do que eu desejava por conta do nascimento de minha pequena Luísa, que não estava no Canadá, mas sim em Catanduva, na barriga da mãe.

Agora que minha vida começa a retornar aos eixos, posso me dar ao luxo de dedicar meu tempo a questões efêmeras, como o Paulistão. Nesta quarta à noite, tive o desprazer de assistir ao empate do São Paulo com o Bragantino. Confesso que nunca imaginei que um jogo de seis gols pudesse ser tão maçante.

As equipes se mostraram bastante limitadas, principalmente o Tricolor em seu setor defensivo. A bem da verdade, tivesse o Bragantino atacantes competentes, teria enfiado uns seis gols na desarranjada zaga são-paulina. É justamente sobre esse assunto que quero comentar, e não sobre o resultado em si, que é o de menos.

O que me chamou a atenção nessa partida - e em outras do São Paulo nesta temporada - foi o enorme impacto provocado pela ausência de Rogério Ceni na meta. Alguns tricolores fanáticos talvez fiquem indignados com o que vou dizer, mas é preciso quem alguém o faça enquanto ainda é cedo.

No meu entender, na mesma medida em que trouxe benefícios ao São Paulo, Rogério também trouxe uma imensidão de prejuízos. O maior desses males foi tornar o time dependente de seu enorme carisma.

Nos últimas apresentações do Tricolor, ficou visível o embaraço da zaga nos momentos em que estava com a bola. Com Rogério em campo, todos sabiam exatamente o que fazer: despachar a pelota o mais rápido possível para os pés do goleiro-líbero, que se encarregava de armar a jogada para os atacantes.

Na “Era Denis”, o desespero dos defensores é visível, consumidos pela dúvida entre arriscar a armação da jogada ou o recuar para um goleiro desprovido de talento nos membros inferiores.

Essa situação, por sinal, era visível já nos primeiros anos da carreira de Rogério, mas foi se disseminando da zaga para os demais setores da equipe. Começou com os gols em cobranças de falta de pênalti, para chegarmos a situações que beiram ao absurdo, em que o goleiro deixava a pequena área para armar jogadas de bola parada no ataque – isso sem contar as temporadas em que ele ocupou a artilharia do time.

De certa forma, Rogério está para o Tricolor tal como Bismarck estave para a Alemanha, segundo bem observou Weber (não confundir com Webber da Fórmula-1). Ao monopolizar o poder em todos os setores da equipe, Ceni deixou o São Paulo desprovido de personalidade.
Rogério se tornou ele próprio a alma do time, de modo que, sem ele, o Tricolor se converteu em um amontoado de jogadores, todos carentes de liderança. Reconstruir a alma da equipe é uma tarefa para lá de complicada e não depende da vontade da comissão técnica.

Essa missão cabe unicamente à diretoria. Difícil saber se os atuais dirigentes são-paulinos reúnem condições de dar uma guinada no clube, livrando-o do lado negativo do carisma exercido por seu maior ídolo em tempos recentes.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Nem tudo é ruim

Costumo ser partidário da teoria do "o que vale são os três pontos". Até já falei a respeito aqui mesmo no blog, quando comentei o antológico Santos 4x5 Flamengo. Mas deixarei minha convicção de lado para comentar a estreia do Santos na Libertadores.

Sim, o Santos perdeu para os bolivianos do The Strongest. De virada e com um gol no finalzinho (como ocorrera contra o Palmeiras). Mas há, indiscutivelmente, muitos aspectos positivos a serem pinçados da atuação do time.

Muricy mandou a campo o time em um 4-5-1. Arouca (jogou demais, demais!) e Henrique eram os volantes, Ganso ficou no meio e Ibson e Neymar atuavam pelas pontas; Borges permaneceu como referência no ataque. O esquema até que funcionou bem. O Santos abriu o marcador no começo e, ao longo da primeira etapa, levou mais perigo aos adversários do que foi atacado.

A "consagração" veio na segunda etapa. O Santos pressionou o adversário como, acredito, não fazia desde o primeiro semestre do ano passado. Acabou consagrando a linha defensiva do The Strongest e o desconhecido autor da máxima "quem não faz, toma". Levou um gol no final, quando era nítido que não havia mais pernas para correr na altitude de La Paz.

O fato é que o Santos mostrou cara de time, de uma equipe coesa, apta para encarar desafios de porte nessa Libertadores. Apesar da derrota, terminei a noite confiante.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

As galinhas d'angola do futebol

O recado veio do exterior, e foi dado entre os anos 80 e 90: além de pensar em contratar jogadores e construir estádios, os dirigentes dos clubes deveriam incluir o marketing como uma de suas preocupações essenciais. Afinal, por trabalharem com um negócio que envolve paixão e um número expressivo de consumidores, nada mais lógico do que ganhar dinheiro atendendo às demandas existentes e criando algumas outras.

O boom disso tem sido vivido no Brasil nos últimos anos. O São Paulo fundou o Batismo Tricolor, o Corinthians lançou uma camisa com fotos de torcedores, o Santos lançou um site em japonês, entre outras iniciativas.

Tudo legal, tudo bacana. O problema é que, como toda euforia, alguns tropeços acontecem. Cabeças "geniais" apressam-se e se preocupam em suprir algumas necessidades que não existem. Daí vêm frustrações, descréditos com a ciência do marketing, e, na prática, dinheiro jogado fora.

É sobre esta última ótica que deve haver uma reflexão maior. Há quem pense que marketing se resume a "expor a marca". Será mesmo? Qual o ganho de expor uma marca se isso não se reverter em mais vendas, mais exposição, mais poder de barganha para negociar um contrato de patrocínio?

Pergunto numa boa: alguém sabe qual foi o ganho real que o América-PE teve ao trazer Larissa Riquelme para a apresentação do seu uniforme, além de uma exposição rápida e fugaz? Valeu mesmo a pena?

É preciso ter mais cautela na hora de pensar o marketing. Dinheiro e investimentos sempre merecem uma reflexão mais adequada. Caso contrário, nossos times correm o risco de ficarem como o dono do posto mostrado no ótimo comercial que a Ipiranga veicula atualmente, distribuindo galinhas d'angola à toa.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Novidades e mesmices

O time titular do Santos fez ontem sua estreia na temporada 2012. Havia muita expectativa sobre o grupo, ainda mais se contarmos que seria a primeira atuação de Neymar, Ganso e outros após o vexame na final do Mundial de Clubes.

Mas, quando parecia que estaríamos diante de um futebol artístico e encantador, o que nos deparamos foi com um time mal fisicamente, confuso na tática e apresentando algumas falhas que se mantinham desde o ano passado. Claro que se deve dar um desconto pelo começo de temporada. Nós, santistas, assim como os torcedores dos outros times, não vamos mais ficar nos descabelando por conta das primeiras rodadas do campeonato estadual. A torcida está ciente disso, tanto que apoiou o time durante todo o jogo em Barueri.

De certo modo, é chato ver Elano disperso em campo e em rota de colisão com Muricy Ramalho. E, mais grave, constatar que o time titular do Santos conta com Pará em sua lateral-direita. A diretoria do Santos - que ainda apoio - conseguiu a proeza de não trazer um reforçozinho sequer para a temporada. Parece que Fucile, lateral uruguaio que veio do Porto, se apresenta na próxima semana, mas não há muito como confiar.

A única novidade confirmada por hora é a nova camisa do Peixe (veja aqui). Depois de mais de 15 anos de Umbro, vamos de Nike. Se gostei? Sei lá, não consigo opinar. Só vejo as marcas de BMG e cia, e pouco do Santos. Antes que falem qualquer coisa, não estou sendo saudosista - ou melhor, se estou, evoco uma época que se passou há pouco mais de três anos. Esse excesso de marcas - e a maioria de empresas de menor porte - não faz bem ao futebol brasileiro.

PS: sim, depois de mais de três meses de inatividade, o Escanteio Curto está voltando. Pedimos desculpas pela falha, e queremos estar com tudo em 2012!