sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Da neymardependência à lucaslimadependência: a comprovação de que há muita coisa errada no Santos

Entre o começo de 2012 e a fim do primeiro semestre de 2013, o Santos tinha um problema grave: a neymardependência. O time, treinado por um desinteressado Muricy e carente de outras opções de qualidade, passava jogo após jogo de forma desarticulada, sem criatividade, contando somente com os momentos de genialidade de seu craque. À época até se dizia que o esquema tático do Santos era o "TNN", sigla para "toca no Neymar". Tudo se resumia ao TNN. É claro que isso não daria certo, como realmente não deu.

O tempo passou, Neymar se foi, o futebol mudou e o Santos mais ainda, mas a dependência de uma figura só se mantém na Vila. Porém, hoje, o protagonista dessa situação não é mais um craque indiscutível como Neymar, e sim o valoroso, mas não genial, meio-campista Lucas Lima.

Aos números: Lucas Lima jogou todos - todos mesmo - os jogos do Santos nesse Brasileirão. Fez três gols (o mesmo número alcançado por Leandro Damião) e deu inúmeros passes de qualidade. É o oitavo melhor meio-campista do Brasileirão, segundo a Placar, e, também de acordo com a revista, foi o craque da 23a. rodada do campeonato, quando o Santos venceu o Figueirense.

Não restam dúvidas de que, hoje, Lucas é o jogador mais importante e aquele que tem a titularidade mais sólida no elenco alvinegro. Sim, até mesmo mais do que Robinho.

Ele alcançou esse status com méritos, claro. Mas está contando também com uma ajuda das circunstâncias para tal. Seja por falha do planejamento da diretoria ou por equívoco dos treinadores (tanto o atual Enderson como seu antecessor Oswaldo), o Santos não tem meio-campistas ofensivos que poderiam substituir Lucas ou mesmo compartilhar com ele a articulação. O time dispõe de um atacado de volantes (Arouca, Alan Santos, Leandrinho, Souza, Renato, Alisson) e de um batalhão de atacantes (Thiago Ribeiro, Robinho, Rildo, Geovânio, Damião, Gabigol, Stéfano Yuri, Diego Cardoso, Jorge Eduardo). No meio deles, o "exército de um homem só" chamado Lucas Lima.

E se quando a dependência de um atleta desembocava no Neymar a coisa não funcionou, não será com Lucas Lima que dará certo. O resultado é que o Santos se tornou um time mediano, não ruim o suficiente para se engalfinhar pelo rebaixamento mas distante de ter competência para honrar os santistas.

PS:  Há que se ter cautela para cravar que um jovem jogador que já mostrou virtude está em má fase (e chega a ser irresponsável cravar que ele não presta). Mas quando as fracas atuações se repetem por cinco ou seis vezes consecutivas, pode-se ligar a luz amarela. Gabigol tem preocupado. Alguém se lembra qual foi último grande jogo dele?

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Pelo direito de reclamar da arbitragem sem sofrer ironia

O Santos não jogou bem na quarta e a derrota para o Sport não foi um resultado surpreendente. Mais uma vez o time sofreu com a inoperância de Damião, viu seu meio de campo subutilizado (ou vamos de três atacantes ou de três volantes, o que sugere um desequilíbrio) e foi prejudicado ainda com uma noite fraquíssima do bom Zé Carlos, sobre quem o rubro-negro Patric fez os três gols pernambucanos.

Porém, independentemente de tudo que foi dito, aos 36 minutos de jogo houve isso: um erro de arbitragem que viu impedimento inexistente de Damião e anulou aquele que seria o gol de empate do Santos.

A partida permaneceria empatada? O Sport poderia sair vitorioso mesmo após esse segundo gol do Santos? O Santos viraria o jogo? Impossível saber. O fato é que os destinos da partida foram drasticamente mudados por um equívoco do juiz e seus auxiliares.

Não escrevo aqui para discutir o nível da arbitragem brasileira (que é ruim como a de qualquer canto do mundo) e nem para insinuar que o Santos é o único que sofre do mal - tenho certeza que qualquer torcedor saberá elencar sem esforço equívocos dos apitadores que prejudicaram suas equipes.

Meu foco é outro: defender o direito de, sim, reclamar da arbitragem. De, sim, poder dizer que o destino seria melhor (ou mesmo pior, vá lá) se juízes e auxiliares tivessem agido de forma correta.

Digo isso porque costumeiramente vemos uma enxurrada de ironias contra quem reclama dos juízes. "Ah, isso é desculpa de perdedor", "como ele quer falar de juiz se o time é péssimo?", "qual o direito dele para reclamar de arbitragem com uma zaga dessas?", "o juiz até errou, mas ele ia perder de qualquer forma, o adversário é bem superior", e assim por diante.

O raciocínio que defendo é rápido, simplório até. Apenas afirmo que as coisas não são excludentes - ou melhor, nem relacionadas são. Ser prejudicado pela arbitragem não tem qualquer relação com sua escalação, ou a superioridade/inferioridade do adversário. É apenas uma constatação: naquela hora, naquele lance, o juiz errou. E a decisão ali tomada influiu no rumo da partida.

Rejeito teorias conspiratórias e esforços de quem quer ver seu time mais prejudicado do que o outro. Como já disse, árbitros erram (e muito) em todos os países. Só cabe a nós entender que esses erros podem ser debatidos com respeito e sem ironias.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Sai Oswaldo, vem Enderson, fica a mentalidade

Esqueçam grande parte do que foi dito no post anterior: contrariando todos os princípios da lógica e da confiança em um trabalho duradouro, o Santos dispensou Oswaldo de Oliveira. Enderson Moreira será o seu substituto.

(aliás, uma coisa que depõe um pouquinho contra a personalidade do novo treinador e pesadamente sobre a atual diretoria do Santos é o fato a negociação entre as partes ter avançado ainda antes da demissão de Oswaldo. Criticável, no mínimo. Mas nada surpreendente no futebol.)

Não adianta gastar muita tinta - ou pixels - falando sobre o equívoco que foi demitir Oswaldo. Até porque despachar precipitadamente um técnico não é privilégio do Santos, e sim regra por aqui. Analisemos, então, o que representa a chegada de Enderson.

Acho que o primeiro ponto é dizer que vai ser fácil, muito fácil, ter um texto repleto de ponderações, preparadinho para fazer sucesso, quando Enderson deixar a Vila. Vamos lá? Se ele tiver alcançado êxito, é só dizer: "o Santos fez bem ao trazer um cara jovem, cheio de ideias novas, experimentado no trabalho com a base, quebrando a mesmice no futebol". E se der errado: "como o Santos, um time com tanta tradição e pressões, trouxe para comandar o time um cara inexperiente como o Enderson? Era só ver o fiasco que ele foi no Grêmio. Esse cara não tem condição de treinar time grande!".

Faço essa crítica antecipada aos engenheiros-de-obra-pronta (ô, raça!) mas o fato é que eu mesmo não sei o que esperar de Enderson. Não há como ver nele algo diferente do 8 ou 80 que é sugerido no atual momento.

Onde podem ser centradas as críticas é no fato de que Enderson está chegando ao Santos com a fama de ser o cara ideal para conduzir bem a integração das categorias de base com o time principal.

Ataco essa mentalidade por dois motivos. O primeiro é que o Santos precisa parar de acreditar que todos os seus problemas serão resolvidos com a molecada oriunda das categorias inferiores da Vila. Sim, o raio caiu três vezes no mesmo lugar, mas não é por isso que devemos simplesmente crer que as providências divinas se encarregarão de formar um bom time. Grandes elencos são feitos com trabalho, profissionalização e planejamento - se com atletas da base, bom; se com os de fora, bom também.

E o segundo - esse mais importante - é que não faz sentido pensar nisso se o treinador não tiver tempo para trabalhar. Oswaldo foi demitido mesmo sem levar o Santos a vexames. E se Enderson perder uns dois jogos seguidos na Vila? Irá tudo por água abaixo? A mentalidade da integração e do trabalho bem conduzido não prosperará?

O Santos não tem um timaço e nossas perspectivas para o ano não são nem muito animadoras e nem catastróficas - algo entre oitavo e 11º no Brasileiro é o mais previsível para agora. Isso deveria dar a Enderson o cenário sólido para trabalhar e colher, em 2015 (ou depois), os frutos de suas ações. O problema é que é bem difícil pensar que isso vai verdadeiramente acontecer.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

A segunda página

Não procurem o Santos na primeira metade da tabela de classificação do Campeonato Brasileiro. O lugar do alvinegro não é aquele próximo dos times com um grifo em azul ao lado do número que designa a sua posição na tabela, mas sim um em que as posições destacadas em vermelho são mais próximas. O 11º lugar é o que restou após uma rodada que marcou a segunda derrota consecutiva no nacional, e o sexto revés em sete jogos. Em todo o mês de agosto, o Santos disputou 18 pontos e conseguiu apenas três (na vitória sobre o Atlético-PR por 2x0, na Vila).

Os números descrevem uma crise. Mas, não, descrever um cenário catastrófico não é procedente com o que se vê no time da Vila atualmente - até porque, em meio a esse fraco desempenho no Brasileirão, o time teve uma exibição de gala pela Copa do Brasil, com os 2x0 no Grêmio na casa do adversário.

Acredito que Oswaldo de Oliveira está construindo um trabalho que pode ser qualificado entre o médio e o bom. O ano começou com o time voando, houve depois uma queda de rendimento que culminou na perda do Paulista e, a partir do Brasileirão, o time adquiriu sua postura mediana, com altos e baixos (mais baixos do que altos no momento presente).

Mas a realização de um trabalho que, como já descrito, fica entre o médio e o bom, é credencial o suficiente para que eu deseje a permanência de Oswaldo de Oliveira no Santos, salvo um desandar monumental a ser verificado a partir de agora (ou um setembro pior do que agosto). Além de enxergar méritos no que foi construído de lá até agora, o que me faz ter essa posição é a falta de alternativas concretas: qual seria uma solução melhor? Enxotar OO e trazer Geninho, Gilson Kleina, Celso Roth ou qualquer outro que viria com prazo de validade? Dispenso.

É claro que há ajustes a serem feitos. O mais importante tem nome e sobrenome: Thiago Ribeiro. É complicado vê-lo como titular, em especial nas ocasiões em que seus concorrentes no ataque - Rildo, Leandro Damião e Gabriel - estão há disposição. Nenhum deles, nem mesmo Damião!, tem futebol inferior ao ex-São Paulo e Cruzeiro. No caso de Damião, há ainda um fator tático, seu posicionamento em campo, o que o torna uma opção melhor do que Ribeiro no atual momento.

Outro ponto a ser resolvido é a dependência excessiva de Lucas Lima. Sim, o rapaz é bom, foi uma grata surpresa a todos os santistas (que atire a primeira pedra o que colocava 1% sequer de fé no sujeito), mas não pode ser consagrado como o principal articulador peixeiro, o cérebro do meio campo, o único ponto de desafogamento. Há de se ter uma opção à lucasdependência.

O Santos pode acreditar em um Brasileiro melhor. Tem time para isso e sua concorrência não é essa maravilha toda. Esse grupo tem condições de se ver distante da segunda página.