terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Sobre tapetões e os diferentes conceitos de justiça

Esse não é um texto sobre o fim do Campeonato Brasileiro e a tal escalação irregular do jogador da Portuguesa que pode levar o clube do Canindé à Série B em 2014 e salvar da degola o Fluminense.

Não é um texto sobre esse episódio - mas sim motivado por ele.

Todas as vezes em que surge a possibilidade de que um clube perca pontos por questões extra-campo - seja a perda algo razoável ou absurdo, seja uma possibilidade concreta ou um delírio individual - um grito ecoa por todos os cantos, dito por todas as bocas possíveis: "querem roubar o que não foi conquistado na bola! Isso não é justo!".

Hum, então. É sobre isso que o texto quer colocar o foco. Sobre a palavra "justo", sobre esse conceito de justiça futebolística.

Quando um campeonato está para se iniciar, todos os times assinam seu regulamento. Que, a partir desse momento, passa a ser uma constituição para todos os envolvidos na disputa. Lá se fala de tudo: sobre mandos de campo, sobre critérios de desempate, sobre características dos estádios e, também, sobre punições.

E se um time pisa na bola e descumpre algo que está previsto no regulamento que ele próprio assinou, aí, meu amigo, não pode chorar o que veio depois.

Não consigo conceber a ideia de criticar um time que pede uma punição a um adversário que descumpriu o regulamento. Se o descumprimento está nítido nas regras, e se a punição é também prevista pelas normas, não há rigorosamente nada de injusto - de trapaça, de mutreta, de o que for - em recorrer a essa via.

"Ah, mas isso vai mudar o resultado conseguido dentro de campo". Não, meu caro. Não vai "mudar o resultado" simplesmente porque o resultado em questão não era para ter acontecido. Um time que escala um jogador irregular está inserindo no contexto da partida um fator que deveria estar externo a ela. E pronto! Não muda nada se o sujeito foi reserva, se mal tocou na bola, se mais atrapalhou do que ajudou. Ele simplesmente não deveria estar lá. E mais que isso: seu clube deveria estar ciente disso. Se sabia da irregularidade, e não atuou para coibi-la, cabe a punição.

É preciso ter mais cuidado ao adotar essa linha do "o que aconteceu dentro de campo é sagrado". Não, não. As regras a respeito da inscrição de jogadores - e de um monte de circunstâncias extra-campo, como condições do estádio, pagamento de tarifas e outras - existem por um propósito, e devem ser respeitadas.

(Um paralelo com o mundo da política: é comum políticos serem eleitos e, posteriormente, a Justiça Eleitoral detectar que houve alguma irregularidade na campanha, e determinar a cassação do sujeito. Que, invariavelmente, apela para o discurso do "querem calar o voto popular" ou "a Justiça decidiu criar um segundo turno". Mantenho o raciocínio: se as regras forem descumpridas, que se aplique a punição. Não existe "vontade popular" mais importante do que as normas estabelecidas, também, pelo povo.)

Agora, sim, trago o debate para o caso atual e o imbróglio Portuguesa-Fluminense. Muita água ainda vai passar por debaixo da ponte. Parece realmente que a Lusa fez besteira, mas tem a seu favor o fato de que a CBF talvez não tenha sido muito clara em sua decisão. O que rejeito é a gritaria - precoce! - em torno do Fluminense por conta do episódio.

Como se o clube das Laranjeiras tivesse culpa por uma suposta bobagem praticada pela diretoria lusitana. Como se a situação atual tivesse alguma relação com as viradas de mesa de 1996 e 2000. E como se, pelo fato de o Flu ser um time do Rio, já desfrutasse de uma imutável condição de vilão perante a eterna coitadinha Portuguesa.

Acho que temos, todos, condição de travar um debate mais inteligente.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

10 conclusões precipitadas sobre o Brasileirão 2013

O Brasileirão está acabando, a temporada 2013 também, e agora é hora de analisar o que se passou. É um tempo que costuma ser marcado pelos "engenheiros de obra pronta", aquela galera que, com os resultados em mãos, enche o peito para explicá-los com uma precisão invejável.

Vamos analisar algumas conclusões precipitadas que emergem após o término do Campeonato Brasileiro.

1. Pontos corridos são chatos, volta mata-mata
Não tem jeito: toda vez que o Brasileiro tiver seu campeão conhecido com muita antecedência, o que será o caso de agora, o grito do "volta mata-mata" ecoará - embora ele já tenha tido mais força, reconheçamos. Eu mesmo sempre fui um inimigo dos pontos corridos, mas hoje não há como negar que abandonar a fórmula seria um retrocesso. Estamos há 10 anos com campeonatos brasileiros em que todo mundo sabe qual a tabela, qual o formato, onde as regras são respeitadas (com um tropeço ou outro), e por aí vai. Não acho que devemos abrir mão disso - e os pontos corridos são a base para essa organização.

2. O Atlético-PR mostrou o caminho: vamos todos ignorar os estaduais
O Furacão faz um ano histórico: está na final da Copa do Brasil (seu melhor desempenho na história do torneio), muito perto de se garantir na Libertadores via Brasileiro e deve terminar o nacional com um honroso vice-campeonato. No começo do ano, o time disputou o Paranaense com uma equipe sub-23 e deixou os titulares aprimorando a forma física e técnica. Soma-se uma coisa à outra (e acrescente a eterna bronca com os estaduais) e tem-se aí uma fórmula mágica. A tábua da verdade vem do Paraná: vamos todos desprezar o estadual e aí é só colher o sucesso no segundo semestre.

É preciso ter calma com isso, por três motivos: o primeiro é que o sucesso apareceu apenas (por enquanto) nesse ano, o primeiro da experiência. Não se pode cravar que a regra se aplicará com todos os outros que se utilizarem da tática. O segundo é que o "pensamento de longo prazo" não foi tãããão real assim no Furacão - o time trocou de técnico no início do Brasileiro; ou seja, não é o mesmo comando desde o início da temporada. E, em terceiro lugar, outros estaduais - em especial o Paulista - são mais competitivos que o Paranaense. Um santista/são-paulino/corintiano/palmeirense pode achar que o Paulistão não vale nem metade do que valem outras taças, mas decerto esse torcedor não quer o rebaixamento da equipe. Vamos esperar o Atlético-PR seguir a ideia ano que vem (além de ver se mais equipes adotam a metodologia) para aí ver se a coisa tem mais procedência.

3. Vanderlei Luxemburgo já era
Ele pegou um Fluminense ruim e entregou ainda pior. Além disso, não conquista algo diferente de estadual há muito tempo. Tudo isso é verdade, mas cabe um pouco mais de calma na hora de dizer que Luxemburgo se tornou um técnico medíocre. Ele ainda tem condições de fazer trabalhos de média qualidade - como o feito no ano passado, quando levou o Grêmio à Libertadores. Já é mais do que muito treinador é capaz de fazer. Deve figurar num time grande ano que vem.

4. O ideal é investir em jogadores baratos
A campanha do Cruzeiro impressiona tanto pelos números assombrosos quanto pela ausência de medalhões no elenco azul. Quem é "o cara" do Cruzeiro? É fato que o time não tem um consagrado como tinha o campeão do ano passado - Fred no Fluminense - e nem mesmo como tivera em 2003, com Alex. Isso mostra uma grande virtude do time cruzeirense, mas é algo que não pode ser interpretado como receita inabalável de sucesso. Dezenas de times foram montados como o elenco atual do Cruzeiro - com uma mescla de jogadores da base, jovens até então desconhecidos e atletas rodados que não emplacaram tanto assim em outros times grandes - e a maioria não deu certo. Ou você soltaria fogos se, no começo do ano, seu time contratasse Dagoberto, Everton Ribeiro e Borges?

5. O que vale é a competência, identificação pode ser desprezada
A filosofia dos "não-medalhões" cruzeirenses se estendeu ao banco, comandado por Marcelo Oliveira - que, até então, tinha uma carreira pequena em clubes grandes. E, mais que isso, carregava (ou carrega?) uma identificação grande com o rival Atlético-MG. Eu não acredito que uma identificação, por maior que seja, impede um profissional de trabalhar em um rival. Mas não podemos negar que é um fator, que, sim, dá sua contribuiçãozinha para que as coisas sejam prejudicadas (o que foi superado no caso atual do Cruzeiro). Se o time azul tropeçasse no começo do campeonato, certamente a atleticanidade de Marcelo seria evocada.

6. O Corinthians foi burro ao investir milhões em Alexandre Pato
Agora o oposto do que aconteceu com o Cruzeiro: o Corinthians investiu milhões em um jogador consagrado que não deu certo. Uma boa matéria do UOL até traçou um paralelo entre os casos, revelando que o montante gasto do Corinthians com Pato compraria todo o Cruzeiro campeão. Então fica a lição de que gastar milhões com um só cara é besteira? Não necessariamente. Pato não vingou no Corinthians por uma série de motivos - e o futebol tem milhões de negócios que se encaixam na categoria do "boas contratações que não deram certo". Pato é só mais um deles. Relançando pergunta de item anterior: quem você gostaria de ver seu time contratando no início do ano, Alexandre Pato ou Everton Ribeiro?

7. Estádio novo é sinal de prejuízo, distanciamento da torcida e maus resultados
O pior time do campeonato, o Náutico, joga em um dos melhores estádios da competição - a Arena Pernambuco, uma das sedes da Copa de 2014. Jogar na nova casa e deixar o tradicionalíssimo Aflitos foi um fator apontado como um dos motivos pelo péssimo brasileirão alvirrubro. O presidente do time chegou até a culpar o bom gramado da Arena - é sério - como elemento relevante. Precisa mesmo comentar? Melhor só recomendar ao dirigente do Timbu - e a quem achar isso - ver o precário e decadente estádio em que joga o Cruzeiro, o campeão.

8. Aposenta, Rogério Ceni / Fica, Rogério Ceni
Aí você pode escolher a sua conclusão precipitada de sua preferência: embora contraditória, as duas pipocaram por aí nos últimos meses. Rogério foi um dos responsáveis, sim, pela má fase do tricolor, que sugeria um rebaixamento - tanto (não) defendendo quanto falhando nas cobranças de pênaltis e faltas. Mas aí o São Paulo ressurgiu e Rogério voltou a jogar bem. E, embora não sendo no Brasileirão, a partida dele contra a Universidad Católica será daquelas lembradas por muitos anos - e virou um argumento para quem defende o veterano. Uma opinião definitiva e "imexível" sobre Rogério é, agora, algo bem precipitado.

9. "Brasília é uma festa", ou "Encontrada a solução para os elefantes brancos"
A abertura do Brasileirão registrou mais de 60 mil torcedores - inclusive este que vos escreve - para prestigiar o primeiro jogo grande do estádio Mané Garrincha, em Brasília, entre Santos e Flamengo. Casa cheia, ausência de problemas sérios de violência, empolgação com o estádio e tentativa de reversão da pecha de "elefante branco" motivaram o Flamengo e outros times a mandarem jogos no estádio. Parecia que ali estava a solução para as caras arenas erguidas em cidades sem muita tradição futebolística. Mas a conclusão precipitada foi se desmontando ao longo do próprio Brasileiro - o público em Brasília decaiu a cada rodada, principalmente por causa da perda do "efeito novidade". Vamos ver como a coisa fica no ano que vem, principalmente no pós-Copa.

10. Ronaldinho Gaúcho faz mal ao Atlético-MG; Fernandinho é o cara
O Galo ganhou a Libertadores e, em seguida - como é quase uma regra entre os times brasileiros - entrou em má fase. Foi eliminado da Copa do Brasil e deixou de vencer no Brasileirão, chegando até a se aproximar da zona do rebaixamento. Ronaldinho não vinha bem. Aí ele se contundiu. O Atlético trouxe Fernandinho, ex-São Paulo, para sua linha de frente e o time melhorou - hoje "briga pela Libertadores", no sentido metafórico do termo.

Apesar de os fatos sugerirem isso, é preciso ter calma para definir Ronaldinho como a chaga do Galo - e ainda mais cautela na hora de considerar Fernandinho um craque. Ninguém alcança o status de Ronaldinho à toa. E o time inteiro jogou mal no pós-Libertadores, não só ele. Quanto a Fernandinho, não há são-paulino que não tenha comemorado quando ele deixou o Morumbi tempos atrás. Deu certo no Galo, é fato, mas que ninguém diga que era uma tacada certeira.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Paulista de Jundiaí impede que façanha de MG seja única

O futebol de Minas é campeão da Libertadores com o Atlético e está 99,9% com a mão na taça do Brasileirão, com o Cruzeiro. Façanha histórica, que faz com que 2013 seja, sem dúvidas, o melhor ano da história do futebol mineiro. E que pode alcançar um patamar ainda maior se o Galo for campeão do mundo em dezembro.

A "hegemonia" que Minas Gerais impõe é impressionante e positiva para o futebol brasileiro (um abraço aos advogados da "espanholização"), mas não é única. Houve outros anos em que a bola foi dominada por times do mesmo estado.

E vai ser difícil alcançar o que São Paulo conseguiu em 2005. Naquele ano, o estado mais populoso do Brasil foi campeão do mundo, da Libertadores, do Brasileiro e da Copa do Brasil. Títulos conquistados por São Paulo, Corinthians e... Paulista de Jundiaí.

Isso mesmo: a zebrística conquista do Paulista em 2005 é o que coroa a temporada 2005 como a mais hegemônica de um estado no Brasil.




O jogo do título do Paulista


Nunca mais um estado faturou, na mesma temporada, as quatro mais importantes competições "não-estaduais": Brasileiro, Copa do Brasil, Libertadores e Mundial de Clubes. Houve quem passasse perto.

Aí vai uma relação com todas as tríplices/quádruplas/duplas coroas do futebol nacional, contabilizadas a partir de 1989, ano em que rolou a primeira Copa do Brasil*:

Quádrupla
SP-2005 (São Paulo - Libertadores e Mundial; Corinthians - Brasileiro; Paulista - Copa do Brasil)

Tripla
SP-2012 (Corinthians - Libertadores e Mundial; Palmeiras - Copa do Brasil), SP-1993 (São Paulo - Libertadores e Mundial; Palmeiras - Brasileiro)

Dupla
MG-2013** (Cruzeiro - Brasileiro; Atlético - Libertadores), SP-2011 (Santos - Libertadores; Corinthians - Brasileiro), SP-2004 (Santos - Brasileiro; Santo André - Copa do Brasil), MG-2003 (Cruzeiro - Brasileiro e Copa do Brasil), SP-2002 (Santos - Brasileiro; Corinthians - Copa do Brasil), SP-1999 (Palmeiras - Libertadores; Corinthians - Brasileiro), SP-1998 (Palmeiras - Copa do Brasil; Corinthians - Brasileiro)

* - excluo da dupla os casos em que um time faturou Libertadores e Mundial, pela obviedade da coisa

** - pode virar uma tripla se o Galo ganhar o Mundial

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Náutico, quem diria, em destaque na FIFA

E o Náutico, que não é um clube pequeno, mas nesse ano faz uma temporada digna de tal, terá algo do qual se orgulhar em 2013 - e que pode também ser esfregado na cara dos rivais.

O gol de Oliveira, na Copa Sul-Americana, em partida contra o rival Sport (que decretou a eliminação do Timbu, aliás) foi escolhido como um dos 10 gols mais bonitos do ano pela FIFA:




Com isso, o atleta do Náutico competirá com estrelas como Neymar e Ibrahimovic.

E, desde já, tem minha torcida.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Camisa 12 e a falta de ritmo de jogo

Foto: Santos FC
No domingo passado, o Santos perdeu para a Portuguesa por 3x0. Um dos fatores, entre tantos, que explicou a derrota do Peixe foi a má atuação do goleiro Vladimir, que substituiu Aranha. Ele pulou atrasado no primeiro gol luso e poderia ter atuado melhor nos dois restantes.

Após o fim da partida, Vladimir e o técnico Claudinei analisaram que um dos fatores que explicariam a má atuação do arqueiro seria a ausência de ritmo de jogo - foi apenas a primeira partida oficial de Vladimir no ano. Ele era o terceiro goleiro até pouco tempo, foi alçado à primeira suplência com a saída de Rafael do Santos e jogou contra a Portuguesa porque Aranha recebera o terceiro cartão amarelo na partida anterior.

"Falta de ritmo de jogo". Hum, vamos lá.

Não, não vou contestar que esse é um fator importante. E também não direi que essa é uma desculpa esfarrapada por parte de Vladimir. Acho que não cabe contestação a um elemento sempre mencionado como importante por jogadores, técnicos e comentaristas.

O que quero abordar é justamente o fato de Vladimir estar completamente sem ritmo de jogo. E de ter feito sua única partida oficial logo nesta época, em que o ano está mais próximo do fim do que do começo.

Acho, e sempre achei, muito curioso como se mexe muito pouco na posição de goleiros. Mandar um goleiro para o banco é um parto - não há substituição de camisa 1 que não envolva crise, protestos de torcida, questionamentos da imprensa e por aí vai.

E o que menos me desce é quando o goleiro titular é mantido ainda que o time vá a campo com uma escalação completamente reserva. É uma situação bem comum. Numa googlezada rápida, achei três jogos em que o time jogou com 10 reservas e somente o goleiro titular: São Paulo e Rogério Ceni, Atlético e Victor, Flamengo e Felipe.

Além dessa questão bizarra de não poupar os goleiros titulares (eles nunca se cansam? não precisam de repouso?), há ainda o fato de que - e aí não faço uma crítica, só uma constatação - não existem goleiros específicos para cada tipo de jogo. Um técnico pode optar por um atacante mais rápido ao invés de um centroavante centralizado se a partida assim o pedir, mas o goleiro será sempre o mesmo.

Curiosamente, a posição que menos afeta o entrosamento de um time é a menos modificada.

Com isso, acaba sendo impossível mesmo que os caras peguem ritmo de jogo, aqueçam, interajam com os companheiros e por aí vai. Serão sempre estranhos nas eventualidades, fatalidades, calamidades - porque é assim que a coisa é tratada - em que vão a campo.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Conhecendo Wembley

A sorte me ajudou e colocou no meio de minha viagem a Londres (mais precisamente, no segundo dia, 6 de setembro) um jogo da seleção inglesa pelas Eliminatórias no estádio de Wembley, contra a Moldávia. Eu teria, então, a oportunidade de ver o estádio em ação em um jogo real, numa experiência que vai além dos tours comumente oferecidos a turistas (que são legais, que fique claro).

Acabei então tendo a oportunidade de conhecer um estádio sensacional. Localizado a apenas 100 metros da estação do metrô, com assentos confortáveis, acesso rápido na entrada e na saída e uma série de outras coisas bacanas. Como escadas rolantes para os setores superiores (onde fiquei), lanchonetes de qualidade (embora caras), banheiros limpos e em grande quantidade, e cerveja para quem queira curtir antes de ver a partida. E também com visibilidade perfeita e com uma fachada linda e imponente.

Ver isso tudo é bem legal, mas não deixa de dar uma certa depressão quando penso no que há aqui no Brasil. E não me refiro a estádios antigos, como Vila Belmiro e Pacaembu. Eu fui a dois estádios já prontos para a Copa de 2014 (Mineirão e Mané Garrincha) e posso dizer que mesmo estes estão bem atrás do que existe em Wembley.

(Parêntese importante antes de prosseguir. Nelson Rodrigues foi genial ao criar a expressão "complexo de vira-lata", mas tem muita gente jogando a expressão no lixo ao usá-la de formas das mais equivocadas. Existem coisas do exterior que são melhores do que as do Brasil, e qual o problema em reconhecer isso? Temos que fechar os olhos ou deixar de enaltecer o que é melhor? Eu, particularmente, gosto de saber o que se faz de bom nos outros campos do mundo porque espero que, um dia, possamos desfrutar desses benefícios também aqui no Brasil.)

Falando agora do futebol propriamente dito, a partida não foi das mais legais. A seleção inglesa não é grande coisa e a Moldávia é inexistente (tem apenas uma vitória nessas Eliminatórias, e contra San Marino). Os ingleses construíram o 4x0 com facilidade e nem se esforçaram para fazer mais.

E em relação à torcida, um jogo da Inglaterra me pareceu algo bem parecido do que ver uma partida da nossa seleção. Havia um grupo com pegada de torcida organizada, que cantava o tempo todo, e uma imensidão que permaneceu calada na maior parte do jogo, com exceção de alguns momentos em que acompanhava os mais animados. Talvez a principal diferença em relação ao Brasil se deu pela ausência de vaias, tanto para juiz, adversários e, principalmente, para o próprio time - tenho certeza que se a seleção brasileira jogasse com a mesma falta de apetite que os ingleses mostraram aquele dia, a torcida-CQC (como alguém definiu no Twitter) não perdoaria.

Valeu por conhecer Wembley. Fiquei curioso de ver se a torcida inglesa se comportaria da mesma forma "distante" se como adversário estivessem as rivais França ou Alemanha, ou até mesmo uma outra seleção de grande porte. De todo modo, é o terceiro estádio que já recebeu uma final de Copa que visitei (os outros dois são Maracanã e Centenário).

Abaixo, um videozinho com o pontapé inicial da partida.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Atlético campeão da Libertadores: números, fatos e outros dados irrelevantes

O Atlético-MG ganhou a Libertadores, acabou com a fama de "monotítulo" e jogará, no fim do ano, o Mundial de Clubes. Aí vão alguns dados/fatos/curiosidades ligados à conquista do alvinegro:

- com o título do Galo, Belo Horizonte passa o Rio de Janeiro e passa a ser, ao lado de Santos, a terceira cidade brasileira com mais troféus da Libertadores, com três taças (as outras duas são do Cruzeiro). São Paulo, com cinco (três do São Paulo, uma do Palmeiras e uma do Corinthians) encabeça a lista, seguida de Porto Alegre (quatro, com cada um da dupla Gre-Nal levantando duas). O Rio, reforçando, tem apenas duas - uma do Vasco e a outra do Flamengo. Nenhuma outra cidade brasileira tem um clube campeão da Libertadores (ah, São Caetano...).

- essa foi muito falada ontem durante a transmissão, mas vale o registro: ao perder o título mesmo tendo vencido o jogo de ida por dois gols de diferença, o Olimpia repete um "feito" que o próprio clube estabeleceu em 1989, quando viu a taça escapar de forma semelhante. Foram as duas únicas ocasiões em que isso ocorreu.

- a final de ontem foi apenas a segunda decisão entre brasileiros e paraguaios. A outra foi em 2002, quando o Olimpia venceu o São Caetano.

- o Brasil conquistou, com o Atlético, seu quarto título seguido na competição (Inter/10, Santos/11, Corinthians/12, só pra lembrar). Embora não tenha sido a primeira vez que uma sequência de quatro taças tenha sido alcançada, a atual é a primeira com quatro clubes diferentes - a Argentina enfileirou quatro troféus entre 1967 e 1970, mas os três últimos foram conquistados pela mesma equipe, o Estudiantes, e outros quatro entre 1972 e 1975, todos com o Independiente.

- aliás, a combinação quatro-times-diferentes-seguidos-do-mesmo-país é única no mundo, se considerarmos as principais competições interclubes de todos os continentes.

- como curiosidade, vale lembrar que a Inglaterra tem uma sequência também única de seis títulos consecutivos na Champions League, embora sem a mesma diversidade de times: Liverpool 77 e 78, Nottingham Forest 79 e 80, Liverpool 81 e Aston Villa 82.

- ainda no tema "sequências", os três títulos alvinegros consecutivos na Libertadores (Santos, Corinthians e Atlético) constituem também uma inédita no torneio - descontando-se, claro, as séries conquistadas por um só time.

- pra fechar o tema, mais uma série histórica: os quatro títulos brasileiros da sequência atual foram conquistados por técnicos que jamais haviam vencido a competição (Celso Roth, Muricy, Tite e Cuca).

- Ronaldinho Gaúcho é o primeiro campeão da Libertadores que já foi agraciado com o título de melhor do mundo da FIFA. Cabe registrar que são poucos os detentores da honraria que já jogaram o principal torneio sul-americano. Breve retrospectiva: Romário caiu com o Vasco nas quartas em 2001; Ronaldo perdeu, com o Cruzeiro, para o Unión Española em 1994 e, com o Corinthians, para o Tolima em 2010; Rivaldo esteve no Palmeiras derrotado para o Grêmio em 1995 e no Cruzeiro que perdeu para o Deportivo Cali em 2004. Messi e Kaká, os outros dois sul-americanos eleitos melhores do mundo, não disputaram nenhuma edição da Libertadores.

- também sobre Ronaldinho, ele entrou para um seletíssimo grupo de jogadores que já foram campeões de Libertadores, Champions League e Copa do Mundo, ao lado de Cafu, Dida e Roque Júnior.

E vai aí um quadro de medalhas referente ao desempenho dos times brasileiros na história da Libertadores. Adotei o critério-judô na hora de definir as medalhas de bronze - ou seja, todos que chegaram à semifinal vão para o pódio. O método é necessário porque não há, na Libertadores, disputa de terceiro lugar; além disso, o torneio historicamente teve regulamentos diferentes, em que nem todos os times disputavam os mesmos números de jogos. Mais fácil (e até mesmo preciso) deixar assim mesmo.


segunda-feira, 10 de junho de 2013

É estranho sentir saudade de algo o qual mal vivi ou evitava viver

A frase que dá o título a esse post foi uma das piadas mais célebres da internet brasileira - um meme, pra usar a linguagem técnica - há alguns anos. Trata-se de uma citação inventada por alguém desconhecido e que foi atribuída, de brincadeira, a Clarice Lispector. Os autores da piada disseminaram a sentença por aí e apenas se deram ao trabalho de dar risada do povo que, sem se preocupar com a autenticidade do adágio, o propagava em seus perfis no Orkut (sim, ele ainda tinha força) e no Facebook.


Exemplo de piada baseada na frase "da Clarice Lispector", extraída do http://evitavaviver.tumblr.com/

Mas, enfim, brincadeiras à parte, não é que a tal frase tem lá o seu valor? Pô, o sentimento por ela descrito, é, sim, algo que todo mundo já pensou vez ou outra. Costumamos ser surpreendidos por nós mesmos lembrando com afeto de coisas que simplesmente não eram boas para nós - por exemplo, é o que ocorre com pessoas que subiram de patamar financeiro e que se recordam com carinho de quando andavam de ônibus lotado. Ou mesmo "lembramos" de situações que não vivenciamos. E aí os exemplos são vários. É só pensar na molecada de 15 anos reverenciando a música dos anos 80 (não que haja problema em gostar de algo executado antes do nosso nascimento - por essa lógica, eu não poderia apreciar Beatles; o problema é fazê-lo em tom muito comparativo e/ou saudoso, alcançando assim o ridículo) ou, descendo mais o nível, gente chateada com a política brasileira atual que deseja o retorno da ditadura.

Pois bem: toda essa introdução foi para dizer que a "saudade de algo o qual mal vivi ou evitava viver" é o sentimento que, a meu ver, tem pautado grande parte das críticas feitas aos novos estádios brasileiros, em especial ao Maracanã.

Esqueçam as contestações em relação aos gastos da obra, à demora para entrega das arenas ou a problemas estruturais que os estádios apresentam; não é a isso que me atenho agora (até porque concordo com quase a totalidade das críticas desse perfil). Quero mais falar sobre uma suposta perda de "identidade", de "brasilidade" que tem sido apontada como uma falha incorrigível dos novos campos.

Ora, eu tenho 32 anos, e acompanho o futebol pra valer desde o início da década de 1990. Sempre tive no Maracanã uma arena digna de todo o respeito do mundo, mas também um local marcado por reformas, interdições, fechamentos e coisas parecidas. Paremos para pensar: quais foram os graaaaandes jogos, aqueles dignos de integrar de maneira incontestável o rol das maiores partidas, que ocorreram no Mário Filho nos últimos 10 anos? Houve duelos de peso - final de Libertadores, decisões de Copa do Brasil, última rodada de Brasileirão que deu ao clube de maior torcida do país a taça - mas em nenhum deles aquela mística do Maracanã esteve presente. Já não estavam lá as 200 mil pessoas, a geral ensandecida, a democracia tresloucada, a festa incontida. Ao contrário: vivia-se ali o contexto do futebol brasileiro pós onda de violência dos anos 90, com uma torcida ressentida em ocupar maciçamente as arenas e autoridades policiais e governamentais buscando garantir a segurança por meio da redução de espaços, segregação entre torcedores e diminuição da intensidade da festa.

Admita, amigo leitor com menos de 40 anos que lamenta "não ver mais" a atmosfera do Maracanã: o estádio retratado na foto abaixo não fez parte da sua vida. É algo que você vivenciou em um ou outro jogo pontual ou por meio da história, como faz um garoto da atualidade ao curtir Legião Urbana com base nos filmes que estão em cartaz. É dura, mas é essa a realidade.

Falei sobre o "o qual mal vivi", vem agora o "evitava viver". O encolhimento de público foi uma das principais marcas do futebol nacional a partir dos anos 90. A violência é talvez a principal razão, mas não a única; somam-se a ela a falta de conforto, a explosão de opções de lazer (quantos shoppings havia no passado e quantos há hoje?), o encarecimento dos preços dos ingressos e outros componentes.

O fato é que o "estádio como programa das massas e alegria do povão" é algo que, digamos a verdade, já ficou pra traz faz tempo, e não só no Maracanã. A média de público do Corinthians, o time que mais levou gente aos estádios no Brasileiro de 2012, foi de pouco mais de 25 mil pessoas. Pouco, muito pouco, se pensarmos no tamanho em números absolutos da torcida corintiana e na suposta paixão inata que os brasileiros supostamente têm por futebol.

A relação entre os brasileiros e seus estádios precisava de um choque. Uma revolução - para que, se não pudéssemos resgatar o espírito das massas que vigorava até os anos 70, ao menos conseguíssemos reverter a letargia chata imposta a nós na última década e na anterior.

E isso pode vir com as atuais arenas novas. Conforto, espaço e comodidade podem ser a chave para trazer de volta - ou pela primeira vez! - um público distante dos estádios. Há condições para que o novo panorama reverta todos os defeitos que tanto criticamos ao longo dos anos - o "evitava viver" da sentença-meme-título do post. Ou alguém aí acha bonito os estádios alvo de violência e depredação?

Acho lícito, lógico e elogiável que respeitemos o que veio antes de nós e que tenhamos visão crítica ao que nos é imposto. Temos direito de contestar e o dever de debater, de maneira prazerosa, tudo o que cerca o esporte que tanto amamos. Mas é importante que o processo seja feito com racionalidade. Para que nossas críticas tenham credibilidade. E para que não se tornem vagas como uma frase falsamente atribuída a uma escritora morta há anos.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Vai dar Bósnia em 2014: o "Imagine na Copa" junta-se ao "pavê ou pacumê"

A seleção da Bósnia está perto, muito perto da Copa de 2014. Nesta sexta-feira, os Bósnios fizeram 5x0 na Letônia fora de casa e dispararam na liderança do Grupo G das Eliminatórias europeias. Estão a quatro pontos da Grécia, a vice-líder, e se vencerem seu próximo jogo, em casa contra a Eslovênia, garantem a vaga no Brasil.

Será a estreia da seleção em Copas do Mundo. Apesar disso, não chega a ser exatamente uma surpresa. Já há tempos, a Bósnia bate na trave - perdeu apenas na repescagem a vaga para 2010.

Mas o mais curioso - e temerário - da classificação da Bósnia para a Copa do Mundo é o tanto de "piadinhas do pavê" que a seleção vai causar. Uma já está no título deste post. E outras pipocarão, sem dúvida.

Pensem no mais trágico: a Copa da Bósnia será logo a sediada no Brasil. Vai dar Bósnia para tudo quanto é canto, amigos. A Bósnia vai se espalhar. Já prevejo algum site mais "engraçadinho" fazendo montagens com fotos de filas nos aeroportos, estradas em má qualidade, problemas nos estádios e assim por diante.

Afinal, se hoje já dá pra fazer piadinha sem vergonha com a possível presença da Bósnia no Brasil, imagina na Copa!

PS: um aspecto interessante (e, agora, mais sério) sobre a classificação da Bósnia é que o fato fará com que a quarta ex-república iugoslava garanta presença em uma Copa do Mundo desde a extinção do país, em 1991. Croácia, Sérvia (com e sem Montenegro) e Eslovênia já tiveram suas oportunidades, agora é a Bósnia que se aproxima. E até mesmo Montenegro pode avançar - a seleção lidera seu grupo, que tem a Inglaterra como favorita. É um retrospecto bem, mas bem interessante, principalmente se contarmos que estamos falando de países cuja população não é das maiores. Para efeito de comparação, é só pensarmos que a União Soviética (muito maior e mais populosa), dissolvida à mesma época que a Iugoslávia, gerou apenas dois países que se classificaram para a Copa, Rússia e Ucrânia.

sábado, 1 de junho de 2013

Desviou na zaga e enganou o goleiro

Um dos lances mais traiçoeiros do futebol é quando a bola chutada desvia na zaga e mata o goleiro. O vídeo abaixo traz 32 gols em que aconteceu exatamente isso. Mérito do atacante, mas uma sortezinha de vez em quando sempre ajuda.

Tem gol do Milan, do Internacional, do Juazeiro, da seleção inglesa. Sobre o Corinthians, sobre o Barcelona, sobre a seleção de Mali, sobre o Noroeste de Bauru. Do Neymar, do Fred, do Podolski e do Edson Di.

Há inclusive um dos mais importantes e decisivos (é sério!) gols da história do Santos.

Vejam aí!


Aqui tem que ser trabalho, meu filho

O acaso e a sorte fazem parte dos times campeões. Com o Santos de 2011 não foi diferente. Ao mesmo tempo em que a experiência com Adilson Batista na Vila Belmiro se confirmava como uma má ideia, Muricy Ramalho se enrolava no Fluminense e pedia demissão do tricolor do Rio.

Era uma conspiração dos astros. Um fato ocorrido a mais de 500 quilômetros de Santos poderia fazer com que o time de Neymar se resolvesse na Libertadores e, ainda que não levantasse a taça, ao menos revertesse o vergonhoso vexame que seria uma eliminação na primeira fase em um grupo que tinha também Cerro Porteño, Deportivo Táchira e Colo Colo.

A correção veio. Muricy estreou em um épico jogo, o 2x1 sobre o Cerro no Paraguai, decisivo para que o Santos se mantivesse vivo no torneio (além de ser a última boa partida de Paulo Henrique Ganso pelo Peixe). A partir daí, construiu um time sólido, aguerrido, que no limite (venceu TODOS os mata-matas ganhando um jogo pelo placar mínimo e empatando o outro) trouxe a histórica Libertadores para a Vila Belmiro.

Acontece que, aí, no momento em que deu a entrevista coletiva após a decisão contra o Peñarol, Muricy falou uma frase-chave: "eu merecia esse título".

Ali, naquela declaração de quatro palavras, o técnico descarregou uma frustração que o acompanhava havia anos. E indicava: chegara ao auge. Ao ápice da carreira de um treinador de futebol no Brasil. Sim, há o Mundial de Clubes, mas este é um torneio mais na base da fatalidade, do improvável. Há também a seleção, recusada por ele um ano antes.

A impressão que tenho, dois anos depois daquilo, é que a frase foi a sina para deixar claro que o "aqui é trabalho, meu filho" já não mais faria sentido.

Porque Muricy deixou de trabalhar. Deixou de criar alternativas táticas e técnicas dentro do Santos que comandava. Deixou de olhar para as categorias de base do clube e para outros times na busca de reforços de qualidade. Deixou de observar os adversários e de estudá-los. E deixou o Santos à mercê de um sistema que não funcionava, não fazia bem a ninguém. E nem, claro, ao Neymar. Ou alguém discorda que, apesar de permanecer gênio-mito-melhor-jogador-do-Brasil-na-atualidade o moleque rendeu menos em 2013 do que fizera em anos anteriores?

E é por isso que a demissão de Muricy, anunciada ontem, foi benéfica ao Santos. Não, eu não espero um técnico que resolva todos os problemas de uma hora para outra; quero simplesmente um cara que queira trabalhar, se desenvolver e desenvolver o time que comanda. Alguém que não se sinta no auge. Alguém que saiba que o topo sempre pode ser alcançado mais e mais vezes.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Primeiras impressões sobre o Mané Garrincha

Ao fundo, as imensas filas em volta do estádio
Quando acabei de subir os poucos degraus da escada que ligava o corredor de acesso do Mané Garrincha às arquibancadas, não me contive e soltei uma interjeição daquelas impublicáveis. Positiva, que fique claro; similar às que falamos quando somos submetidos a uma rápida e inesperada alegria. Pois foi isso que senti: alegria, emoção, felicidade por estar diante de um estádio lindo, lindíssimo, suntuoso, avançado, confortável. Exatamente o que torço para o futebol brasileiro, digno de receber jogos de Copa do Mundo, coisa de aumentar o orgulho nacional.

Há lugares para todos, a visibilidade é perfeita, a arquitetura impressiona. Ninguém precisa se esgoelar e empurrar os outros para assistir ao que rola em campo. A sonoridade é também excepcional - a ponto, inclusive, de incomodar os ouvidos no intervalo.

(Parêntese: sim, eu sou "a favor do futebol moderno" - a tomada de posição é necessária, uma vez que esse se tornou um dos debates mais sem-graça e, simultaneamente, fortes aqui no Brasil. Da experiência de quem esteve inúmeras vezes na Vila nos últimos anos, digo que é bem legal estar em um estádio em que pode se ver o jogo sem esforço. É bom também ter lugares marcados, respeito aos setores, um aspecto limpo. A torcida do Flamengo realmente não incendiou o estádio e deu ao campo uma cara de teatro; mas isso, a meu ver, é mais resultado de o jogo ter sido realizado em uma cidade com um público pouco habituado a ver o time em campo do que à arquitetura ou coisa que o valha do campo.)

Mas os elogios, infelizmente, resumem-se à arquibancada propriamente dita. Fora dela, no acesso ao estádio e em quase tudo o que antecedeu a chegada ao campo, o Estádio Nacional de Brasília e seus responsáveis estão reprovados. Bem reprovados.

A compra do ingresso foi uma epopeia das mais cansativas. Assim que a venda começou a ser realizada, pelo Ingresso Rápido, me prontifiquei e adquiri a entrada - não sem antes ter sofrido bem com as quedas no site e com a falta de informações. Mas a chatice para a compra do ingresso foi bem, bem inferior à encontrada para a retirada do bilhete. Somado todo o tempo que gastei para pegar minha entrada, foram mais de cinco horas, e três jornadas diferentes. Teve gente que sofreu até mais do que eu. Horrível.
Os detectores de metal que causaram fila

Mas voltemos a falar sobre o jogo. A chegada ao estádio, se destacou-se positivamente pela segurança - fruto mais da boa postura dos brasilienses e turistas do que de uma ostensividade policial - foi triste sob o ponto de vista da organização. Era preciso andar uma razoável distância a pé até se chegar próximo do estádio - nada que adultos saudáveis não façam sem dificuldade, mas algo impraticável para idosos, pessoas com deficiência e outros com problemas de locomoção. Porém, irritou mais do que isso a quantidade bizarra de filas que se encontrava. Filas, filas e mais filas. E sem NENHUMA explicação. Ao torcedor, cabia tomar posto em uma linha de espera e orar para que ela desse o acesso esperado. Não se esclarecia a que setor se destinava cada uma das entradas, e nem se seria feita alguma distinção. E isso se comprovou após termos rodado desesperadamente atrás de uma orientação; uma funcionária identificada nos 'informou',  com simpatia: "a fila é tudo igual, é só depois que separa". Então tá.

Entre chegada à fila e entrada no estádio, se foram uns bons 40 minutos. Grande parte da espera se devia à necessidade de se passar por detectores de metal - a la aeroporto, com direito a deixar os itens magnéticos em uma caixinha ao lado e tudo o mais. Iniciativa louvável, mas que não fará sentido se mais detectores não forem espalhados. Eram muito poucos para os mais de 65 torcedores presentes.

Mas, putz, o estádio é lindo
Após a passada pelas catracas, mais um pouquinho de desorganização e espera. E, no caminho entre as rampas e o campo, se materializava um estádio com aquele jeitão de casa onde a reforma não foi concluída, sacam? Sabe quando aquele amigo recém-casado ou que mudou-se há pouco o convida, e você vê um belo contraste entre uma TV de LCD com o plástico ainda reluzente e um interruptor sem os espelhos protetores? Ou um sofá lindo e novo compondo o ambiente com uma lâmpada saindo do teto pendurada diretamente pelos fios, sem o lustre? Então, foi assim que o Mané Garrincha e seu chão de concreto, poeira aparente e sinalização improvisada se manifestou.

Havia filas para a compra de itens - entre eles, a água a R$ 4 e a cerveja a R$ 8 - e os banheiros não estavam grande coisa. O primeiro mundo não se fez tão presente assim.

De certo modo, tudo isso compensou quando, retomando o início do post, subi as escadas e dei de cara com o campo de jogo e as arquibancadas o circundando. Não é o certo a se fazer, eu sei, mas acabei esquecendo um pouco dos problemas quando me deparei com tudo isso.

Voltarei ao Estádio Nacional para Brasil x Japão no início da Copa das Confederações. É torcer para que as coisas estejam mais ajustadas - e que o Mané Garrincha não pareça mais aquela casa recém-reformada.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Mentiras sobre o time do Muricy

Foto: Ricardo Saibun/ Santosfc.com.br
O Santos descolou um 0x0 sem-vergonha com o Joinville e, como havia vencido lá em Santa Catarina, passou de fase na Copa do Brasil. OK.

Assisti ao jogo pela ESPN, com a transmissão dos competentes Dudu Monsanto e Paulo Calçade. Talvez para dar uma valorizada na partida, em diversos momentos eles repetiram frases como "o time ainda sente a perda do Paulista, que foi há pouquíssimo tempo, aqui mesmo na Vila" e "a equipe está cadenciando o jogo, o 0x0 classifica o Santos".

Não. Não é por aí.

Tenho pra mim que, ainda que o Santos tivesse vencido o Paulistão de forma magistral e/ou perdido de 4x0 em Joinville e precisasse do resultado, a bolinha sem-vergonha seria a mesma.

Por um simples motivo: o time do Santos, hoje, é RUIM. E pronto.

Ruim, ruim mesmo, saca? Ruim, precário, fraco, como tantos outros times que o Santos e os demais gigantes do futebol tiveram ao longo de suas histórias. Triste de ver, tal qual o Peixe de 1999 de Paulo Autuori, o de 2008 de Leão e Cuca, o de 2005 de Nelsinho Baptista e por aí vai. OK, talvez não tão ruim quanto esses mencionados, mas um time sem graça, sem condição de fazer boas partidas.

"Ah, mas tem o Neymar". Pois é, tem o Neymar. A questão é que até ele não tem jogado muito bem. Ontem, fez um primeiro tempo sofrível, pavoroso, de chorar mesmo. Foi melhor no segundo tempo, mas nada de encher olhos, nada de justificar a (justa) fama de melhor jogador do Brasil e um dos melhores do mundo. Isso tem se repetido - de forma irritante e preocupante - ao longo de 2013.

E aí alguém pode questionar o Muricy por impor ao Santos o "futebol de resultados", algo que não combinaria com o time da Vila. Não é isso. O Santos não está jogando mal porque quer - e sim porque, como disse acima, é um time ruim.

Não há desculpas, não há justificativas. O que há é um técnico em péssima fase e que precisa, urgentemente, deixar a Vila Belmiro. Sem isso não teremos soluções.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Todo jogador enfrenta adversários fracos. Mas poucos dão show

E então, mais uma vez, Neymar arrebentou. Fez gol, passe para gol e deu belos dribles na partida do Santos contra o Botafogo de Ribeirão Preto, pela segunda rodada do Paulista. Foi o terceiro jogo oficial dele em 2013 - os anteriores haviam sido contra Barueri, um amistoso, e São Bernardo, pelo estadual - e, nos três, ele desempenhou um bom papel.

Ao ver a boa atuação do atleta, muitos dos seus críticos já encheram o peito para falar: "mas aí é fácil! Contra o Botafogo de Ribeirão Preto, pelo Paulista, até eu!".

E é esse o ponto que quero abordar. Não há, na história do futebol mundial, algum craque que tenha enfrentado apenas adversários fortes e competitivos ao longo de sua carreira.

Messi foi campeão europeu contra o poderoso Manchester United, mas passa a maior parte do ano encarando os Getafes e Osasunas do Espanholão. Pelé conquistou oito títulos nacionais, dois sul-americanos e dois mundiais contra times de primeiríssima linha, porém passou muito tempo enfrentando fracas equipes do interior pelo estadual - inclusive, um dos seus recordes mais celebrados, o de oito gols em um só jogo, teve o mesmo Botafogo de Ribeirão Preto como adversário. Romário consagrou-se na Copa e empanturrou-se de gols contra Volta Redonda e afins nos estaduais do Rio.

É do jogo.

Talvez, mais do que tentar minimizar os feitos de Neymar, por serem contra os fracos times paulistas e Messi, por serem contra os 'cintura-dura' espanhóis, o que deveríamos fazer é cobrar os supostos craques que, mesmo diante desses adversários fracos na teoria, não conseguem fazer nada digno de nota. Pois é, a regra não é o "contra o Botafogo de Ribeirão até eu", "contra o Getafe até eu"? Então por que seguem sendo poucos os que arrebentam dentro de campo?

Em tempo: se ainda não viu, veja o show de Neymar.