sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

10 anos do título que deixou clara uma coisa: o Santos estava de volta

Há 10 anos, eu senti, pela primeira (e por enquanto única) vez na minha vida o desagradabilíssimo efeito do gás de pimenta. Veio rápido, intenso e incômodo, me fazendo tossir e lacrimejar. Motivou a mim, e a todos os que estavam perto, a recuar e assim abrir passagem ao caminhão de bombeiros que tentava prosseguir em meio a uma rua lotada.

O caminhão trazia os atletas do Santos que, poucas horas antes disso tudo, venceram o Vasco em São José do Rio Preto e assim conquistaram o Campeonato Brasileiro. No chão, eu e outros tantos santistas que celebravam ali a conquista.

O título de 2004 é daqueles que gera muito, mas muito o que se pensar. Ele não foi tão mágico quanto o de 2002: não foi conquistado de virada, sobre um rival, não quebrou fila, não teve conotação de surpresa. Ao contrário: o Santos figurava entre os favoritos para o torneio e a partida decisiva, com seus gols logo no início, não se caracterizou por emoções e alternativas.

A emoção foi construída antes daquilo. No longo torneio (46 jogos, contra 38 dos dias atuais), aconteceu coisa pra caramba. A mãe de Robinho foi sequestrada, o que tirou o principal jogador do Santos de muitas partidas; o Atlético-PR mostrava uma solidez digna de um avião em piloto automático; e Deivid, o 9 peixeiro fazia gols e mais gols, mas grande parte deles acabava injustamente anulado pela arbitragem, o que deu boa margem para teorias da conspiração.

Talvez o que possamos chamar de jogo - ou jogos - do título foi realizado uma semana antes da rodada final do Campeonato. O time paranaense liderava a disputa, dois pontos à frente do Santos; ia enfrentar um fraco Vasco em São Januário, enquanto o clube paulista encararia o perigoso (embora abalado pela morte de Serginho) São Caetano no ABC. Deu tudo certo para o Santos: o Vasco fez 1x0 sobre o Atlético e o Peixe passeou no ABC, com um inapelável 3x0. O jogo final, como já dito, acabaria tendo um quê de uma contenda protocolar.

Mas então qual a pegada desse título, o porquê de eu ter dito que ele "gera muito o que pensar"?

A questão é que ganhar um Campeonato Brasileiro apenas duas temporadas depois de ter vencido outro foi uma afirmação inequívoca da retomada da grandeza do Santos. Não, definitivamente não era um time sortudo salvo por uma molecada endiabrada, e sim uma equipe de camisa, de força, digna de brigar por títulos e de receber o mesmo tratamento de outros rivais que, por um bom tempo, o haviam feito comer poeira.

Depois de 2004, o Santos, embora não tenha mais vencido o Brasileirão, enfileirou uma série considerável de taças: cinco campeonatos paulistas, uma Copa do Brasil, uma Recopa e a tão sonhada Libertadores da América. As conquistas não apareceram mais desde a Recopa de 2012 - e as perspectivas da administração não estão das mais animadoras - , mas, enfim, não há como comparar o Santos hoje com aquele time pré-2002. E até mesmo com o que havia entre 2002 e o 19 de dezembro de 2004.

Fabinho, Preto Casagrande, Leonardo, Ávalos, Mauro e outros heróis esquecidos fizeram parte daquela campanha - o que, cabe registrar, deixa bem claro que não estamos falando de um bicampeonato alcançado pela "geração de Diego e Robinho". Robinho sim, mas Diego já havia ido embora - quem dividia o protagonismo com o ex e o atual camisa 7 eram nomes como Elano, o já citado Deivid, o talismã Basílio e o injustiçadíssimo capitão Ricardinho (que, por ser "corintiano", jamais desfrutou do status de ídolo na Vila).

Fecho o post com um vídeo sobre a penúltima rodada, a vitória no ABC. Não houve gás de pimenta naquele dia - o cheiro, ali, era de título.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Por que Oscar é excluído da lista dos vilões da Copa?

O Brasil venceu a Áustria ontem e assim fechou com 100% de aproveitamento sua temporada pós Copa do Mundo. A despeito do que se poderia esperar depois do vexame na semi do Mundial, Dunga está usando muita gente que disputou a Copa - ontem, entraram em campo Thiago Silva, David Luiz, Luiz Gustavo, Fernandinho, Willian, Neymar e Oscar. Oscar. Pois é.

Ainda estamos assimilando o golpe dos 7x1. A primeira etapa desse processo, como sempre ocorre, é a caça por vilões. Felipão é o mais lógico; falar sobre "os cartolas" é a saída que, embora verdadeira, aparece como a mais cômoda para quem busca dar uma opinião contundente sem ter que pensar muito. Mas especificamente em relação a quem entrou em campo, voltaram-se as baterias contra Fred, Júlio César, o coitado do Bernard, Fernandinho... e ninguém fala de Oscar.

É curioso, inusitado mesmo, como o meia do Chelsea aparentemente está isento de qualquer culpa pelo vexame brasileiro no Mundial. Principalmente porque ele não deveu somente contra a Alemanha - toda a sua Copa foi opaca, sem-graça, indigna de quem tinha a responsabilidade de liderar o meio-campo e a criatividade do time.

Oscar jogou praticamente toda a Copa. Foi titular nos sete jogos do Brasil e, neles, deixou o campo em apenas duas ocasiões, contra o México (aos 39 do segundo tempo) e Chile (durante a prorrogação). Pouco fez, pouco brilhou. E olha que ele estreou bem contra a Croácia, chegando até a marcar um gol. Depois, foi apenas um complemento no time, e só voltou a brilhar - se é que podemos falar isso em relação àquele dia - quando marcou o solitário gol brasileiro no massacre imposto pela Alemanha.

Não quero, aqui, dizer que Oscar é um jogador fraco e que não deveria mais ser chamado para a seleção. Acredito que ele vai muito bem no Chelsea e até tem o que acrescentar ao Brasil - por ser jovem, tem condição de disputar a próxima Copa. Apenas busco, digamos assim, atribuir as responsabilidades a quem é de direito. O sarrafo no técnico e nos dirigentes não pode excluir um atleta - especialmente um de alto nível, como é Oscar - de ser avaliado pelo que deixou de fazer quando a seleção mais precisava dele.

Foto: CBF

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Futebol de segunda

Eleições e o duelo Palmeiras x Corinthians (ninguém sabia que esses eventos seriam realizados?) fizeram com que o jogo entre São Paulo e Goiás, pela última rodada do Campeonato Brasileiro, fosse transferido para uma segunda-feira. A marcação de uma partida do Brasileirão para o menos futebolístico dos dias da semana gerou reações: Muricy Ramalho reclamou do calendário, Antonio Carlos, zagueiro tricolor, disse que jamais havia jogado em uma segunda-feira, o jornalista Mauricio Stycer twittou dizendo que a partida representava um "desdobramento da última fronteira" e a Folha de S. Paulo até publicou uma estatística com o desempenho histórico do time do Morumbi em segundas-feiras.

É claro que futebol profissional numa segunda-feira é um negócio estranho. Mas para mim e outros da minha geração há algo familiar nisso. Porque na década de 1990 os jogos na segunda não eram tão raros assim.

O Campeonato Brasileiro de 1991, por exemplo, tinha regulares jogos às segundas-feiras. Era uma forma - acredito eu - de distribuir melhor as partidas e possibilitar mais transmissões pela televisão. Cabia à Bandeirantes exibir os confrontos. Lembro bem de um Santos 3x1 Sport, vencido pelo Peixe de virada, que o YouTube se encarregou de deixar claro que o jogo tinha se desenhado na minha memória correspondia à realidade (aliás, o que mais me surpreendeu ao rever os lances dessa partida é a qualidade - sem ironia - do gramado da Vila. Para mim, o relvado do Urbano Caldeira tinha sido um pasto permanente ao longo de todos os anos 1990, antes da reforma de 1996).

Mas a experiência do Brasileirão às segundas foi curta. O que ligou, pra valer, futebol e segunda-feira nos anos 1990 foi a transmissão do Campeonato Carioca, também na Bandeirantes. A cada semana, as partidas do estadual do Rio eram exibidas nacionalmente e conduzidas pela trinca Januário de Oliveira (foto) - Gérson Canhotinha - Addison Coutinho. Em tempos pré-internet, era ali que os que não moravam no Rio tinham a oportunidade de conviver com um estadual que não o "seu". E o Cariocão da Band nos anos 1990, hoje, ganhou uma aura cult entre quem era moleque naquela época. Até hoje os bordões de Januário de Oliveira são lembrados por aí.

É claro que não dá para não condenar a realização constante de jogos às segundas-feiras. Nem só por uma questão de tradicionalismo, mas pelo próprio calendário - como as rodadas precisam acontecer nos fins de semana, não há como os jogos se fixarem apenas um dia depois. Mas o saudosismo que distorce, sempre ele, diz em algum canto que esses jogos no mesmo dia da Tela Quente não são tão errados assim.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Pela autodeterminação das torcidas, ou: só o torcedor sabe o que se passa com o próprio time

Gols à parte, um dos lances que mais marcou o Palmeiras x Santos de ontem se deu aos 25 do segundo tempo, quando o placar registrava 3x0 para a equipe alvinegra: subitamente, após um lance que não teve resultado muito efetivo, a torcida palmeirense desandou - de forma espontânea - a gritar o nome de Valdivia. "Valdivia! Valdivia! Valdivia!"

A ode a Valdivia por parte dos palmeirenses é uma situação que pode soar estranha a quem não tenha o coração verde. Afinal, o que mais lemos sobre o chileno são as más notícias: expulsão gratuita; lesões e mais lesões; negociação tumultuada, com direito a atraso na reapresentação (e sumiço na Disney).

Mas ainda assim ele foi reverenciado - de maneira, volto a dizer, pra lá de espontânea. Os elogios se fizeram presentes também para além daquele grito. O jornalista Alex Müller, da Band News, e declaradamente palmeirense, falou no rádio e em seu perfil no Twitter: "Se o Palmeiras tivesse mais um Valdivia, estaria no G4". E o amigo Fabrício Vertamatti, que escreve aqui no Escanteio Curto, sempre ressalva que sem Valdivia a situação do Palmeiras estaria ainda mais delicada.

A contradição entre o senso geral sobre Valdivia e a opinião dos palmeirenses - que são quem sente na pele o que o chileno faz, pro bem e pro mal - sobre o jogador só não surpreende mais porque está longe de ser um fato inédito.

Lembro bem que os santistas viveram situação similar (mas trocando os sinais) com Kléber Pereira. Breve resumo da carreira do atleta no Santos: chegou no segundo semestre de 2007 e comeu a bola; em 2008, foi irregular, mas mesmo assim fazia seus gols e acabou como um dos artilheiros do Brasileiro; já em 2009, teve atuações pífias por quase toda a temporada, irritou os santistas e, quando deixou a Vila, saiu sem receber aplauso algum.

Ainda assim, quando santistas reclamavam de Kléber Pereira em 2009, recebiam reprimendas dos adversários. "Vocês estão doidos! O cara é matador! Queria eu ter esse 'problema' no meu time" era o tipo de réplica que mais se fazia presente. Enquanto isso, ao mesmo tempo que os outros torcedores enalteciam as virtudes do "artilheiro", os santistas se remoíam por ver um jogador desinteressado com a 9.

Mais um caso? Jorge Wagner no São Paulo. O lateral-meia esteve no Morumbi entre 2007 e 2010 e alternou boas partidas com outras extremamente preguiçosas. Mas, para quem não era são-paulino e não vivia o cotidiano do Morumbi, o que ficava na mente eram os melhores momentos dos jogos e uma impressão de que Wagner "ia bem na bola parada". Não importava o que os tricolores dissessem: para os outros, estava ali um bom jogador, talvez incompreendido pelos são-paulinos. Lembro de uma conversa com amigos tricolores que, ao ouvirem um elogio a Wagner feito por um torcedor de outro time, retrucaram de bate-pronto: "é só não-são-paulino que gosta do Jorge Wagner". Martelo batido.

A ótica de um torcedor sobre o próprio time costuma ser tratada de forma simplista e até mesmo babaca; volta e meia recorre-se ao grosseiro "o torcedor é passional" para explicar uma manifestação dos fãs. Acaba sendo, para a análise, mais cômodo ir por essa via do que ponderar o que realmente possa estar acontecendo. O fato é que, além de "passional", o torcedor de um time é bem informado sobre ele - e, via de regra, muito mais do que qualquer outra pessoa, a não ser que estejamos falando de um profissional ou um fanático inveterado por futebol, algo não tão comum assim.

Que a autodeterminação da corneta (ou do elogio) seja respeitada, pois.

PS: Ontem também tivemos mais uma morte resultante do confronto de torcidas - no caso, entre palmeirenses e santistas. Foi a terceira morte no ano, como informa a Folha de hoje. O incidente teve algo em comum com os anteriores: se deu longe do estádio (em agosto, um palmeirense morreu atacado por corintianos em Franco da Rocha e em fevereiro um santista foi assassinado por são-paulinos enquanto aguardava um ônibus na Radial Leste). Não sei, com base nessas evidências, como alguém ainda acha que torcida única pode trazer mais segurança aos estádios. Mais: como é possível que o mito "na numerada é mais seguro" ainda permaneça entre os torcedores comuns? Os torcedores brigam onde querem, infelizmente. E, às vezes, o interior do estádio acaba sendo o lugar mais seguro. É preciso mais inteligência para combater esse problema - grave, triste e duradouro.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Brasil x Argentina na China

Em 2011, escrevi aqui um post falando sobre o Superclássico das Américas, entre Brasil x Argentina, e o tanto que aquele duelo tinha de coisas bacanas - jogos no Brasil e na Argentina (não em Londres ou Madri), fortalecimento de uma rivalidade, oportunidade na seleção para jogadores "locais", etc., etc...

Pois bem: depois daquilo, o Superclássico naquele molde teve apenas uma edição, em 2012. Não foi disputado em 2013 e, agora, será jogado... em partida única, na China, com jogadores que atuam na Europa.

Ou seja, o que tinha aparecido como uma boa oportunidade de ser um fôlego para a seleção brasileira e uma oportunidade para ampliar o vínculo entre torcedores e a amarelinha acabou virando mais um genérico "amistoso da seleção", como tantos que há ao longo dos anos, e que pouco entusiasmo despertam.

Algumas razões para a modificação são compreensíveis. A maior delas, o dinheiro. Além disso, o Superclássico no modelo 2011-2012, ao excluir os jogadores "europeus", nos tirava a oportunidade de ver Messi, Neymar e as outras maiores estrelas de Brasil e Argentina.

OK, OK. Mas será que, após uma Copa traumática, o vínculo entre torcedores e seleção será firmado com um jogo do outro lado do mundo? Será que a artificialidade desse tipo de duelo é mesmo do que precisávamos? E será que - e esse talvez seja o componente mais importante - vale a pena retirar jogadores do Brasileirão para jogar uma partida que não vale nada?

O Superclássico parecia um respiro. Mas acabou se tornando mais um caça-níquel irritante. E a antipatia para com a seleção só cresce.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

São Caetano na Série D: o futebol brasileiro é muito doido

Na última segunda-feira, com a vitória do Guarani sobre o Caxias, o São Caetano teve confirmado seu rebaixamento para a quarta divisão do futebol brasileiro, a famigerada Série D. É um destino inusitado para um time que, todos lembramos, foi bi-vice-campeão brasileiro e vice-campeão da Libertadores na década passada.

Porém, ainda que quase todas as análises sobre a derrocada do Azulão relembrem os feitos do time em tempos distantes, é preciso que esqueçamos a turma de Adhemar, Adãozinho e cia e lembremos que em 2012 - sim, isso mesmo, o ano retrasado - o clube do ABC só não voltou para a Série A do Brasileirão porque teve saldo de gols menor do que o Vitória, quarto colocado e contemplado com o acesso na segundona daquele ano.

Ou seja: um time que poderia perfeitamente estar na primeira divisão nacional em 2013 irá jogar a quarta em 2015.

O tombo do Azulão foi magistral e não ocorreu somente em nível nacional. No Paulistão, a equipe também foi rebaixada em 2013 e, em 2014, por pouco não descendeu à Série A-3. Pode-se dizer, sem medo de errar, que o time foi do "quase-céu" ao inferno de modo mais do que súbito, e tudo por conta de um saldo de gols.

O curioso é pensar que esse tipo de declínio abrupto não é um caso isolado do nosso futebol. Outros exemplos: o Vitória, em 2004, chegou a uma histórica semifinal de Copa do Brasil; no mesmo ano, caiu para a Série B do Brasileirão e, no ano seguinte, foi à Série C. O Guarani em 2012 fez bonito ao alcançar a decisão do Paulista e, na mesma temporada, caiu para a Série C nacional. E o Juventude amargou uma grande série de rebaixamentos no nível nacional, passando da Série A em 2007 para a Série D em 2011.

Quando times com menos camisa como São Caetano, Bragantino e Santo André atingem o fundo do poço, é comum pensarmos em causas estruturais e pensarmos que a situação não tem cura - e que a equipe permanecerá indefinidamente na letargia ou mesmo passará à extinção. Mas a história mostrou o contrário: o próprio Bragantino que sumiu no começo da década passada (após o 'surgimento' colossal nos anos 1990) ressurgiu bem e, se não é mais a potência nacional de outros tempos, hoje tem participação cativa na Série B e na elite estadual.

O fato e que essa sequência de tombos e ascensões é característica - ou melhor, é um reflexo - do nosso futebol, mal-estruturado e, por conta disso, imprevisível. Não é impossível imaginarmos um São Caetano bem montado nos anos seguintes e chegando novamente à Série B, por exemplo.

No fim das contas, acaba sendo um ponto positivo do caos que é a estrutura do nosso futebol.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Da neymardependência à lucaslimadependência: a comprovação de que há muita coisa errada no Santos

Entre o começo de 2012 e a fim do primeiro semestre de 2013, o Santos tinha um problema grave: a neymardependência. O time, treinado por um desinteressado Muricy e carente de outras opções de qualidade, passava jogo após jogo de forma desarticulada, sem criatividade, contando somente com os momentos de genialidade de seu craque. À época até se dizia que o esquema tático do Santos era o "TNN", sigla para "toca no Neymar". Tudo se resumia ao TNN. É claro que isso não daria certo, como realmente não deu.

O tempo passou, Neymar se foi, o futebol mudou e o Santos mais ainda, mas a dependência de uma figura só se mantém na Vila. Porém, hoje, o protagonista dessa situação não é mais um craque indiscutível como Neymar, e sim o valoroso, mas não genial, meio-campista Lucas Lima.

Aos números: Lucas Lima jogou todos - todos mesmo - os jogos do Santos nesse Brasileirão. Fez três gols (o mesmo número alcançado por Leandro Damião) e deu inúmeros passes de qualidade. É o oitavo melhor meio-campista do Brasileirão, segundo a Placar, e, também de acordo com a revista, foi o craque da 23a. rodada do campeonato, quando o Santos venceu o Figueirense.

Não restam dúvidas de que, hoje, Lucas é o jogador mais importante e aquele que tem a titularidade mais sólida no elenco alvinegro. Sim, até mesmo mais do que Robinho.

Ele alcançou esse status com méritos, claro. Mas está contando também com uma ajuda das circunstâncias para tal. Seja por falha do planejamento da diretoria ou por equívoco dos treinadores (tanto o atual Enderson como seu antecessor Oswaldo), o Santos não tem meio-campistas ofensivos que poderiam substituir Lucas ou mesmo compartilhar com ele a articulação. O time dispõe de um atacado de volantes (Arouca, Alan Santos, Leandrinho, Souza, Renato, Alisson) e de um batalhão de atacantes (Thiago Ribeiro, Robinho, Rildo, Geovânio, Damião, Gabigol, Stéfano Yuri, Diego Cardoso, Jorge Eduardo). No meio deles, o "exército de um homem só" chamado Lucas Lima.

E se quando a dependência de um atleta desembocava no Neymar a coisa não funcionou, não será com Lucas Lima que dará certo. O resultado é que o Santos se tornou um time mediano, não ruim o suficiente para se engalfinhar pelo rebaixamento mas distante de ter competência para honrar os santistas.

PS:  Há que se ter cautela para cravar que um jovem jogador que já mostrou virtude está em má fase (e chega a ser irresponsável cravar que ele não presta). Mas quando as fracas atuações se repetem por cinco ou seis vezes consecutivas, pode-se ligar a luz amarela. Gabigol tem preocupado. Alguém se lembra qual foi último grande jogo dele?

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Pelo direito de reclamar da arbitragem sem sofrer ironia

O Santos não jogou bem na quarta e a derrota para o Sport não foi um resultado surpreendente. Mais uma vez o time sofreu com a inoperância de Damião, viu seu meio de campo subutilizado (ou vamos de três atacantes ou de três volantes, o que sugere um desequilíbrio) e foi prejudicado ainda com uma noite fraquíssima do bom Zé Carlos, sobre quem o rubro-negro Patric fez os três gols pernambucanos.

Porém, independentemente de tudo que foi dito, aos 36 minutos de jogo houve isso: um erro de arbitragem que viu impedimento inexistente de Damião e anulou aquele que seria o gol de empate do Santos.

A partida permaneceria empatada? O Sport poderia sair vitorioso mesmo após esse segundo gol do Santos? O Santos viraria o jogo? Impossível saber. O fato é que os destinos da partida foram drasticamente mudados por um equívoco do juiz e seus auxiliares.

Não escrevo aqui para discutir o nível da arbitragem brasileira (que é ruim como a de qualquer canto do mundo) e nem para insinuar que o Santos é o único que sofre do mal - tenho certeza que qualquer torcedor saberá elencar sem esforço equívocos dos apitadores que prejudicaram suas equipes.

Meu foco é outro: defender o direito de, sim, reclamar da arbitragem. De, sim, poder dizer que o destino seria melhor (ou mesmo pior, vá lá) se juízes e auxiliares tivessem agido de forma correta.

Digo isso porque costumeiramente vemos uma enxurrada de ironias contra quem reclama dos juízes. "Ah, isso é desculpa de perdedor", "como ele quer falar de juiz se o time é péssimo?", "qual o direito dele para reclamar de arbitragem com uma zaga dessas?", "o juiz até errou, mas ele ia perder de qualquer forma, o adversário é bem superior", e assim por diante.

O raciocínio que defendo é rápido, simplório até. Apenas afirmo que as coisas não são excludentes - ou melhor, nem relacionadas são. Ser prejudicado pela arbitragem não tem qualquer relação com sua escalação, ou a superioridade/inferioridade do adversário. É apenas uma constatação: naquela hora, naquele lance, o juiz errou. E a decisão ali tomada influiu no rumo da partida.

Rejeito teorias conspiratórias e esforços de quem quer ver seu time mais prejudicado do que o outro. Como já disse, árbitros erram (e muito) em todos os países. Só cabe a nós entender que esses erros podem ser debatidos com respeito e sem ironias.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Sai Oswaldo, vem Enderson, fica a mentalidade

Esqueçam grande parte do que foi dito no post anterior: contrariando todos os princípios da lógica e da confiança em um trabalho duradouro, o Santos dispensou Oswaldo de Oliveira. Enderson Moreira será o seu substituto.

(aliás, uma coisa que depõe um pouquinho contra a personalidade do novo treinador e pesadamente sobre a atual diretoria do Santos é o fato a negociação entre as partes ter avançado ainda antes da demissão de Oswaldo. Criticável, no mínimo. Mas nada surpreendente no futebol.)

Não adianta gastar muita tinta - ou pixels - falando sobre o equívoco que foi demitir Oswaldo. Até porque despachar precipitadamente um técnico não é privilégio do Santos, e sim regra por aqui. Analisemos, então, o que representa a chegada de Enderson.

Acho que o primeiro ponto é dizer que vai ser fácil, muito fácil, ter um texto repleto de ponderações, preparadinho para fazer sucesso, quando Enderson deixar a Vila. Vamos lá? Se ele tiver alcançado êxito, é só dizer: "o Santos fez bem ao trazer um cara jovem, cheio de ideias novas, experimentado no trabalho com a base, quebrando a mesmice no futebol". E se der errado: "como o Santos, um time com tanta tradição e pressões, trouxe para comandar o time um cara inexperiente como o Enderson? Era só ver o fiasco que ele foi no Grêmio. Esse cara não tem condição de treinar time grande!".

Faço essa crítica antecipada aos engenheiros-de-obra-pronta (ô, raça!) mas o fato é que eu mesmo não sei o que esperar de Enderson. Não há como ver nele algo diferente do 8 ou 80 que é sugerido no atual momento.

Onde podem ser centradas as críticas é no fato de que Enderson está chegando ao Santos com a fama de ser o cara ideal para conduzir bem a integração das categorias de base com o time principal.

Ataco essa mentalidade por dois motivos. O primeiro é que o Santos precisa parar de acreditar que todos os seus problemas serão resolvidos com a molecada oriunda das categorias inferiores da Vila. Sim, o raio caiu três vezes no mesmo lugar, mas não é por isso que devemos simplesmente crer que as providências divinas se encarregarão de formar um bom time. Grandes elencos são feitos com trabalho, profissionalização e planejamento - se com atletas da base, bom; se com os de fora, bom também.

E o segundo - esse mais importante - é que não faz sentido pensar nisso se o treinador não tiver tempo para trabalhar. Oswaldo foi demitido mesmo sem levar o Santos a vexames. E se Enderson perder uns dois jogos seguidos na Vila? Irá tudo por água abaixo? A mentalidade da integração e do trabalho bem conduzido não prosperará?

O Santos não tem um timaço e nossas perspectivas para o ano não são nem muito animadoras e nem catastróficas - algo entre oitavo e 11º no Brasileiro é o mais previsível para agora. Isso deveria dar a Enderson o cenário sólido para trabalhar e colher, em 2015 (ou depois), os frutos de suas ações. O problema é que é bem difícil pensar que isso vai verdadeiramente acontecer.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

A segunda página

Não procurem o Santos na primeira metade da tabela de classificação do Campeonato Brasileiro. O lugar do alvinegro não é aquele próximo dos times com um grifo em azul ao lado do número que designa a sua posição na tabela, mas sim um em que as posições destacadas em vermelho são mais próximas. O 11º lugar é o que restou após uma rodada que marcou a segunda derrota consecutiva no nacional, e o sexto revés em sete jogos. Em todo o mês de agosto, o Santos disputou 18 pontos e conseguiu apenas três (na vitória sobre o Atlético-PR por 2x0, na Vila).

Os números descrevem uma crise. Mas, não, descrever um cenário catastrófico não é procedente com o que se vê no time da Vila atualmente - até porque, em meio a esse fraco desempenho no Brasileirão, o time teve uma exibição de gala pela Copa do Brasil, com os 2x0 no Grêmio na casa do adversário.

Acredito que Oswaldo de Oliveira está construindo um trabalho que pode ser qualificado entre o médio e o bom. O ano começou com o time voando, houve depois uma queda de rendimento que culminou na perda do Paulista e, a partir do Brasileirão, o time adquiriu sua postura mediana, com altos e baixos (mais baixos do que altos no momento presente).

Mas a realização de um trabalho que, como já descrito, fica entre o médio e o bom, é credencial o suficiente para que eu deseje a permanência de Oswaldo de Oliveira no Santos, salvo um desandar monumental a ser verificado a partir de agora (ou um setembro pior do que agosto). Além de enxergar méritos no que foi construído de lá até agora, o que me faz ter essa posição é a falta de alternativas concretas: qual seria uma solução melhor? Enxotar OO e trazer Geninho, Gilson Kleina, Celso Roth ou qualquer outro que viria com prazo de validade? Dispenso.

É claro que há ajustes a serem feitos. O mais importante tem nome e sobrenome: Thiago Ribeiro. É complicado vê-lo como titular, em especial nas ocasiões em que seus concorrentes no ataque - Rildo, Leandro Damião e Gabriel - estão há disposição. Nenhum deles, nem mesmo Damião!, tem futebol inferior ao ex-São Paulo e Cruzeiro. No caso de Damião, há ainda um fator tático, seu posicionamento em campo, o que o torna uma opção melhor do que Ribeiro no atual momento.

Outro ponto a ser resolvido é a dependência excessiva de Lucas Lima. Sim, o rapaz é bom, foi uma grata surpresa a todos os santistas (que atire a primeira pedra o que colocava 1% sequer de fé no sujeito), mas não pode ser consagrado como o principal articulador peixeiro, o cérebro do meio campo, o único ponto de desafogamento. Há de se ter uma opção à lucasdependência.

O Santos pode acreditar em um Brasileiro melhor. Tem time para isso e sua concorrência não é essa maravilha toda. Esse grupo tem condições de se ver distante da segunda página.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Mantra

Foram só dois jogos. Só dois jogos, só dois jogos, só dois jogos. Esse mantra pode e deve ser repetido por todos os santistas de forma incessante nos próximos dias, para que não entremos num surto de autoconfiança exagerado.

Mas se Robinho fizer no restante da temporada o que mostrou nesses dois jogos desde que voltou à Vila, contra Londrina e Corinthians, o santista pode ter o direito de sonhar com coisas boas em 2014.

Em poucas palavras, pode-se dizer que ele jogou demais nas duas partidas. Se o Corinthians saiu vitorioso da Vila, em nada a culpa pode ser atribuída ao camisa 7 - até porque, como todos sabem, ele deixou o campo antes de Gil anotar para o time do Parque São Jorge. Contra o Londrina, outra atuação de gala, materializada com o gol que abriu o placar e com o passe para o segundo, que liquidou a fatura.



Robinho foi bem não apenas por ser um atleta rápido e habilidoso, suas principais características. Ele também cumpriu um papel tático importante e quebrou a letargia que há (havia?) na parte ofensiva do meio-campo santista. Porque se por um lado Arouca está fazendo a sua melhor temporada desde 2010, pelo outro Lucas Lima é irregular demais para ser o 10 (metafórico, não literal, já que a camisa está com Gabriel) peixeiro. E o 4-3-3 teórico formado por Damião, Gabriel e Thiago Ribeiro não estava trazendo ao time a ofensividade esperada.

A versatilidade de Robinho está atendendo inclusive a um dos fatores mais mencionados quando de sua contratação: o "ele vai fazer o Damião jogar". O ex-colorado não marcou nesses dois jogos, mas está com uma postura diferente - ao menos, não foi o bonde presente em tantas outras partidas nessa temporada. Não tardará a estufar as redes, seja após um passe de Robinho ou seja por mérito próprio, fortificado pela autoconfiança que o ídolo está trazendo a todo o grupo. Foram só dois jogos, vamos lá com o mantra de novo. Mas que o Santos é outro, isso não se discute.

E para manter a serenidade, nada melhor do que lembrar de Elano. Ele voltou ao Santos em 2011 após seis anos longe da Vila. Não houve nenhum santista sequer que tenha reprovado a contratação. Ele era menos craque e ídolo do que Robinho, mas havia jogado muito bem e sempre se apresentado como um cara sério, profissional, responsável, que jamais desrespeitaria a camisa que o levou à seleção. Pois bem: depois de uns jogos iniciais ótimos, Elano foi definhando de maneira irreversível até acabar (merecidamente) enxotado da Vila.

É pouco provável que isso aconteça com Robinho. Uma dosezinha de cautela, porém, não faz mal nenhum.

- Pitacos adicionais para fechar a análise sobre o jogo de ontem: Thiago Ribeiro perdeu dois gols absurdos, feitos, inacreditáveis, bizarros. E que poderiam ter feito falta - afinal, o Santos superou o Londrina por apenas um gol de vantagem, visto que o jogo no Paraná fora 2x1 para o time da casa. Quando o time perde e o goleiro toma um frango, a culpa vai toda para ele, ainda que tenha feito milagres no restante da partida. Será que essa responsabilidade seria direcionada a Thiago se o Santos fosse eliminado ontem?

- Menos de 5 mil pagantes estiveram na Vila ontem. Em um jogo decisivo de um confronto aberto, com o time titular em campo, a presença de Robinho, com risco pequeno de violência e sem transmissão pela TV. Há inúmeros motivos que explicam a historicamente baixa presença de público na Vila. Mas é preciso reconhecer que a apatia/desinteresse do santista é um deles.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Sobre "previsões" e "desrespeito"

A piada do dia é essa imagem abaixo:



Como todos sabem, o que aconteceu no Maracanã passou longe de ser um "coletivo de luxo". O Fluminense, que poderia perder por até dois gols de diferença, sofreu um inusitadíssimo 5x2 para o América-RN e acabou eliminado da Copa do Brasil. Foi um triunfo de um time que hoje é o 13º da Série B sobre o quarto colocado da primeira divisão. Trata-se de um resultado que será lembrado para sempre (especialmente pelos rivais do Flu) e que integrará a já célebre galeria de vexames dos times grandes na Copa do Brasil, que contém Palmeiras x ASA, Santos x CSA, Vasco x Baraúna e outros.

Mas o que quero abordar aqui não é o resultado propriamente dito, e sim as reações que a imagem que abre esse post despertou. Acho válido, mais que válido, fazer piada sobre o texto, destacar o inusitado do fato, a imprecisão da manchete e tudo o mais. O que critico é quem enche o peito, AGORA, para dizer que houve desrespeito do jornal (que nem sei qual é, aliás) e que o confronto entre Fluminense e América-RN estava aberto.

Não, meus caros. O duelo NÃO estava aberto. Estava mais do que decidido. Um time grande vai à casa de outro menor e ganha por 3x0. O jogo de volta, nesses casos, é apenas para cumprir tabela. E pronto! É isso que os fatos dizem. É assim que a história do futebol mostra. Cansamos de ver times reservas indo a campo nessas condições e, mesmo assim, garantindo a vaga.

Um exemplo recente: pela Liga dos Campeões desse ano, o futuro campeão Real Madrid fez 6x1, na Alemanha, sobre o Schalke 04 no jogo de ida das oitavas de final da competição. Na volta, o time espanhol não teve dúvidas e mandou uma equipe reserva a campo. Vejam essa chamada do R7 no dia do jogo: "Classificado", Real Madrid joga com reservas na Liga dos Campeões. O Real mandou um expressinho para um duelo eliminatório de sua competição mais importante que disputava. E avançou - como deveria realmente ser.

Se o Schalke fizesse um milagre e despachasse a equipe de Cristiano Ronaldo, o jogo deveria ser interpretado da forma exata como abri a frase: um milagre. Porque seria isso que ocorreria. E foi isso que vimos ontem no Maracanã.

E o pior de tudo é ver que muitos dos "sabichões" que, após o fim do jogo, encheram o peito para afirmar que confiavam na classificação do América, estão também investindo em outro fator para criticar a chamada do jornal que abre o post - um suposto preconceito regional, já que o Fluminense é do Rio e o América é do Nordeste.

A quem diz isso, eu pergunto: sério mesmo que vocês conseguem ver desrespeito quando um time faz TRÊS A ZERO SOBRE O OUTRO fora de casa e tem mais camisa e está em uma divisão superior? Vocês acham que se o Sport pegasse o Guaratinguetá pela Copa do Brasil e enfiasse 3x0 no interior de São Paulo, o jogo de Recife seria visto como uma partida disputadíssima de um confronto aberto? Menos, galera.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

... e o bicho vai pegar!

Robinho voltou ao Santos e deve estrear já no domingo, contra o Corinthians - o adversário que mais se 'identifica' com sua trajetória na Vila (título em 2002, cinco vitórias consecutivas naquele ano, invencibilidade histórica, aquilo que todo mundo sabe).

A negociação entre Robinho e o Santos foi arrastada. Aliás, a novela esteve longe de se iniciar agora: a cada fim de semestre, o nome do camisa 7 era sempre citado nas especulações citadas ao Peixe. Uma conversa chata, modorrenta, que nunca saía do lugar e, mais grave que isso, revelava o quanto a torcida (e a diretoria) do Santos insistia no sebastianismo. Parece que só teríamos jeito com Robinho, Diego, Elano (isso antes de 2011...) e outros que tanto fizeram sucesso no passado.

É por isso que permaneci reticente a cada vez que Robinho era especulado. Era hora de o Santos mostrar que estava em um novo momento - distante da "magia" dos Meninos da Vila (vamos mesmo crescer com base em crendices, esperando que a natureza faça a sua parte?), e também de ídolos aos quais devemos ser gratos, mas que devem permanecer na história, e não no presente.

Somava-se a isso o fato da má forma de Robinho nos últimos anos. Desde que saiu do Peixe em 2010, ele não brilhou. Foi vítima de um Milan decadente como um todo, mas ele também não fez sua parte. Escondeu-se no time italiano, não foi (merecidamente) para a Copa de 2014, fez pouquíssimos gols e jogos brilhantes.

Mas...

Não se pode jogar fora a relação entre clube e ídolo. E não se discute que Robinho é, sim, um dos maiores jogadores da história do Santos - eu o cravo como o segundo maior da história do clube depois de 1970, atrás apenas de Neymar. Sua simbiose com a torcida, aliás, era maior do que a construída com o hoje camisa 11 do Barcelona. Neymar era reverenciado pela torcida santista por ser um craque; Robinho era por, além de jogar pra caramba, ser um caiçara, um cara da baixada, um moleque com cara similar à de tantos que estavam ali se espremendo nas acanhadas arquibancadas da Vila.

Ele fez o que fez em 2005 - um episódio lamentável - e, desde então, muitos santistas passaram a odiá-lo. Não os condeno. Foi realmente irritante ver um cara com contrato com o clube se recusando a entrar em campo para forçar sua negociação. A questão é que quando colocamos na balança, o que Robinho fizera para o Santos até então era muito, mas MUITO superior à besteira daqueles meses de negociação com o Real Madrid.

Por isso não há como não celebrar a chegada de Robinho agora. Pode dar errado? É evidente que pode. A contratação de Elano em 2011 era um negócio com potencial de risco muito menor e acabou mal sucedida. Mas é possível acreditar que as coisas podem ser melhores agora.

E, putz, se o Santos vencer o Corinthians com uma boa atuação dele... vai ser difícil conter a idolatria.

Foto: Ricardo Saibun / Santos FC

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

O estranho caso dos goleiros reservas

O Santos jogou ontem pela Copa do Brasil e perdeu para o Londrina por 2x1, fora de casa. O time que representou o Peixe era composto integralmente por jogadores considerados reservas. Dessa vez, diferentemente do que ocorre em tantos outros casos, até o goleiro não era o principal. A titularidade ficou com Vladimir - que acabou falhando no primeiro gol da equipe paranaense.

Vladimir é reserva de Aranha. Assim como fora de Felipe e Rafael. Integra a equipe profissional desde 2009. E, apesar de poder dizer que tem no currículo títulos como a Libertadores de 2011, a Copa do Brasil de 2010 e outros, tem apenas nove - isso mesmo, nove - jogos pelo Peixe, segundo o site oficial do clube. Apenas a título de comparação, o atacante Rildo, que chegou esse ano e não desfruta do status de titular, já tem 17 partidas em seu cartel.

O caso de Vladimir é curioso, mas está longe, bem longe de ser o único. Nosso futebol está cheio de goleiros reservas que permanecem anos e anos nos mesmo time, sempre na condição de reserva, assistindo a tudo direto do banco, vendo a vida passar enquanto as coisas acontecem para os outros.

Exemplos? Um célebre é o de Júlio César, o jogador com mais títulos na história do Corinthians. Ele fez parte do elenco principal do clube do Parque São Jorge entre 2005 e o mês passado e, embora tenha sido titular em algumas ocasiões, passou a maior parte da carreira no banco de gente como Fábio Costa, Felipe e, mais recentemente, Cássio. Outros igualmente famosos são os suplentes de Rogério Ceni no São Paulo, categoria que consagrou os nomes de Bosco e Roger - este, quando enjoou de ficar no banco no Morumbi (depois de quatro temporadas), correu para o Santos, onde... foi reserva do Fábio Costa.

Tendo a achar que a trajetória de um goleiro conformado em ser reserva de um time grande era resultado da falta de ambição do sujeito. Sim, porque o cara que tem bola para ser reserva de Santos, São Paulo e Corinthians tem todas as condições de brigar pela titularidade em equipes de outro porte, ou de dar uma guinada na carreira - por exemplo, como fez Diego Cavalieri, insatisfeito em ser banco de Marcos, que acabou virando ídolo no Fluminense e campeão com a seleção.

É claro que há situações opostas. Os citados Marcos e Rogério Ceni comeram um bom tempo de banco para depois se consagrarem e entrarem na galeria dos maiores nomes da história de seus times. Porém, o que aconteceu com os pentacampeões foi exceção. É mais comum vermos goleiros reservas que esperam, esperam, esperam e depois veem a titularidade parar nas luvas de um sujeito recém-contratado.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Em busca de gols inusitados e decisivos

O título do Atlético-MG na Recopa ficou marcado pelo sufoco - que contrariou quem previa uma barbada, já que o Galo havia vencido na Argentina - e também pelo inusitadíssimo gol do título, um tento contra assinado por Ayala. O gol sacramentou a vitória do Atlético na prorrogação e derrubou de vez qualquer entusiasmo do Lanús, que ainda ambicionava um empate no tempo extra. Para quem não viu, fica o registro:



Estamos acostumados a ver gols engraçados aqui e ali, mas é raro que eles sejam verdadeiramente importantes, como foi o de ontem. Puxando pela cabeça, lembro do involuntário (e absurdamente decisivo) marcado por Muller, no Mundial Interclubes de 1993: ele pulou para evitar o choque com o goleiro e viu a bola bater em seu calcanhar, e posteriormente morrendo na rede.



Alguém sabe de mais algum gol bizarro que tenha definido título, rebaixamento, vaga em Copa do Mundo ou coisa parecida?

terça-feira, 15 de julho de 2014

Que o respeito definitivo ao futebol alemão seja também um legado da Copa

A Alemanha ganhou três Copas do Mundo entre 1930 e 2010. Na primeira, derrubou Puskas. Na segunda, Cruyff. E na terceira, Maradona.

E ainda assim, aqui no Brasil havia (há?) muita gente que não levava o futebol alemão a sério.

Movidos por um misto de preconceito, patriotismo equivocado e sentimento anti-colonialista, muitos brasileiros se recusavam a acreditar que o futebol praticado pelos alemães é, sim, de qualidade. E colocavam nos germânicos a pecha de retranqueiros, cintura-dura, caneludos e por aí vai. Para coroar o raciocínio, volta e meia apelava-se à seguinte frase: "a Europa é boa apenas na organização; para formar jogadores, ninguém supera Brasil e Argentina".

Opa opa, peraí. Mas peraí MESMO.

Uma parte da frase é até correta. Não deixemos o vexame de 2014 (e os de 2010, 2006...) nos influenciar: o Brasil tem, sim, a mais bonita história do futebol mundial. Ganhamos cinco copas, proporcionamos jogos épicos e somos o berço de gente como Pelé, Garrincha, Tostão, Ronaldo, Romário e, claro, Rivaldo (melhor falar o nome do cara para não ser atacado...).

Agora a Argentina... bem, não se trata de desmerecer o futebol dos nossos vizinhos. É apenas uma questão de enxergar a realidade. Não há nenhuma lógica em afirmar que o futebol argentino é superior - em qualquer aspecto! - ao alemão. A Argentina teve Maradona e tem Messi? Ótimo, realmente um feito impressionante. Mas a Alemanha teve e tem Beckenbauer, Gerd Muller, Thomas Müller, Fritz Walter, o maior artilheiro das Copas, quatro mundiais no currículo, um futebol de clubes excepcional e tantas outras realizações.

Acredito que o tetracampeonato alemão de agora define, com muita propriedade, quem é o segundo maior país do futebol (o primeiro lugar, reitero, é do Brasil). Embora a Alemanha agora tenha apenas empatado com a Itália, é indiscutível que as quatro estrelas alemãs brilham com mais intensidade do que as italianas - não se pode comparar os mundiais de 1934 e 1938 com 1954 e 1974, apenas para equiparar as duas primeiras taças de cada país. Além disso, no somatório geral a Alemanha vence de longe a Itália, devido a sua participação muito maior em finais e semifinais.

Os 7x1 escancararam a superioridade que existe atualmente da seleção alemã sobre a brasileira. E, depois, os mesmos alemães retificaram sua condição de melhor do mundo ao vencer a poderosa Argentina, e abrir sobre os conterrâneos de Maradona uma vantagem que só poderá ser equalizada no mínimo em 2022. Foi uma lição inequívoca do respeito que os germânicos merecem. Aceitemos isso como um bom legado da Copa.
Na foto, um entre tantos espetáculos proporcionados pela torcida do Borussia Dortmund. Porque se o assunto for a festa fora de campo, eles também estão à frente dos argentinos

domingo, 13 de julho de 2014

O fim de carreira transformou Rivaldo de "tímido" em chato

Houve um tempo em que uma frase era repetida quase que de forma unânime: Rivaldo era um craque, um gênio da bola, mas que só não desfrutava mais desse status por ser um cara tímido, feio e avesso a badalações. A sentença fazia muito sentido. O cara comia a bola no Barcelona, já havia destruído aqui no Brasil e prosseguia muito questionado. Não fazia anúncios, não obtinha a verba publicitária de seus contemporâneos Ronaldo e Romário, só pra ficar nesses.

O lance é que o tempo passou, Rivaldo envelheceu, deixou de ser craque e parece que, hoje em dia, quer descontar toda essa frustração dos tempos de "craque não midiático".

A nova dele, como todos já sabem, é o "desabafo" contra Galvão Bueno. Ele disparou em seu Facebook: "Não preciso do seu reconhecimento Galvão Bueno. O povo brasileiro e o mundo sabem da minha importância para a história da seleção brasileira e do futebol mundial. Nunca precisei puxar saco de ninguém da mídia".

O "crime" de Galvão? Até segunda ordem, foi não ter citado o nome de Rivaldo durante a transmissão do jogo de ontem, quando, em dado momento, o locutor da Globo citou jogadores que fizeram história com a camisa amarela. Segundo matéria do UOL Esporte, Galvão falou de Pelé, Garrincha, Didi, Nilton Santos, Tostão, Zagallo, Gerson, Rivelino, Jairzinho, Romário, Ronaldo e também dos "derrotados" Júnior, Casagrande, Falcão, Zico Sócrates. E deixou Rivaldo de fora.

Se foi só isso mesmo - deixo uma ressalva, talvez outra coisa tenha acontecido e não estamos por dentro, sei lá - só há uma coisa a dizer: menos, Rivaldo, menos. Galvão também não citou Gilmar, Bebeto, Zito, Djalma Santos, Marcos, Ronaldinho Gaúcho, tão vitais para a conquista dos mundiais. Também "excluiu" nada menos que os capitães de todas as taças - a saber, Bellini, Mauro, Carlos Alberto, Dunga e Cafu. Gente boa "ignorada" é o que não falta, pois. Longe, muito longe, de ser algo direcionado a Rivaldo.

É curioso ver que a não-exposição da qual Rivaldo desfrutou ao longo de sua carreira - voluntária ou involuntariamente, não sabemos - acabou por ajudar a todos nós. Sim, isso mesmo. Afinal, foi por conta dela que deixamos de saber uma coisa: mais do que tímido, reservado ou discreto, Rivaldo é um baita de um chato. Simples.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Primeira fase da Copa: viva a zebra, mas... que tal rever os critérios dos grupos?

Argélia, Nigéria (que eram um único território no War, vejam só que coisa) e Grécia estão na segunda fase da Copa do Mundo. Itália, Espanha e Inglaterra, não. Muito será dito sobre o feito das classificadas e o vexame das eliminadas. Porém, vejo pouca gente (ou ninguém) trazer outro tema para debate: será que o critério adotado para a formação dos grupos da Copa está justo?

Sim, já antevejo a réplica de quem ler esse texto: "pô, mas isso é uma desculpa esfarrapada! O grupo foi feito por sorteio, e qualquer um poderia ter caído em uma chave complicada! Se o time não teve competência para superar os adversários, que não venha colocar a culpa no sorteio!".

Acontece que não se trata de "colocar a culpa". É uma questão de observar os fatos. A Copa de 2014 teve um grupo pra lá de surreal, o H, composto por Bélgica, Argélia, Rússia e Coreia do Sul. A falta de renome das seleções da chave gerou até um hilário perfil no Twitter, o El Grupo H :( (sim, a carinha faz parte do nome). Mais uma chave fraquinha foi a da Argentina, que reuniu, além do time de Messi, Nigéria, Bósnia e Irã.

Posso cravar que seria muito difícil a Argélia passar de fase se tivesse como adversários EUA, Alemanha e Portugal, os oponentes enfrentados por sua vizinha de continente Gana, despachada na primeira fase. Assim como talvez Rooney e cia. ainda estivessem no Mundial se a Inglaterra, e não a Bósnia, fosse o time europeu do Grupo F, o da Argentina.

E aí, agora, citei o xis da questão: "time europeu". Pois é. De 1994 para cá, a FIFA definiu que, com exceção dos cabeças-de-chave, o único critério que distinguiria as seleções é o geográfico. O horror supremo para a federação seria juntar três europeus ou dois sul-americanos, por exemplo. Então, por isso a maldição dos potes. E é a partir daí que tivemos Inglaterra (e a Holanda, FINALISTA DO ÚLTIMO MUNDIAL!!!) equiparada com a Bósnia, Equador no mesmo nível do ótimo Chile, e o razoável México, campeão olímpico, pareado com o fraquíssimo time de Honduras.

A FIFA tem em suas mãos um ranking, que, embora possa ser contestado, é um indicador correto sobre o desempenho das seleções. Foi a ele que a entidade recorreu na hora de definir os cabeças-de-chave. Por que não estabelecer os potes seguintes também de acordo com o critério estabelecido? Será mesmo que chocar três times de um mesmo continente na fase inicial é um pecado maior do que fazer, simultaneamente, grupos insanos e varzeanos na primeira parte do Mundial?

Cabe lembrar que não estou falando de nenhuma inovação. A Copa de 1990 teve seus grupos formados de acordo com os níveis das seleções. A Folha de S. Paulo de 9 de dezembro de 1989, o dia do sorteio, noticia: Os nomes de 18 seleções estarão distribuídos por três urnas, agrupadas por categorias: seleções 'fortes' (Espanha, URSS, Escócia, Áustria, Iugoslávia e Holanda), 'intermediárias' (Colômbia, Uruguai, Tchecoslováquia, Eire, Romênia e Suécia) e 'fracas' (Camarões, Egito, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Costa Rica e EUA).

Note que a Costa Rica está ali entre os fracos. Exatamente como foi pintada antes de a bola rolar em 2014. E, em outra repetição, passou de fase em 1990, como fez agora. Como explicar isso? Ora, com a riqueza do futebol, e sua imprevisibilidade de que tanto gostamos. Zebras acontecerão, com ou sem grupos organizados, independentemente do critério do torneio. E isso é bom. O Objetivo não é acabar com nada de bacana que caracteriza o futebol, e sim acrescentar uma dose extra de racionalidade.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Porque torcerei contra / a favor das seleções na Copa

Bem, falta menos de um mês para o Mundial e, como vai ter Copa sim, podemos nos dedicar a falar um pouco sobre seleções, futebol, bola rolando, assunto tão negligenciado (com certa razão) em virtude das confusões extracampo que o torneio despertou, tem despertado e ainda despertará.

Eu não sou um apaixonado pela seleção brasileira, mas estou longe, bem longe, de ser daqueles que torce contra "em forma de protesto" (embora já tenha pensado assim, admito). No meu caso - reiterando que se trata de uma postura inequivocadamente pessoal - é apenas uma questão de não haver aquela conexão entre a seleção brasileira e meus gostos, meus interesses quando me disponho a torcer.

Isto posto, apresento alguns motivos que nortearão minha torcida durante a Copa. Fatores que me farão torcer contra ou a favor das principais seleções do torneio. Mais uma vez, são critérios pessoais; mas acredito que encontrarão eco no pensamento de muita gente.

Brasil
Porque torcer a favor:
porque é meu país, porque a Copa é aqui, porque seria legal para o próprio futebol que a seleção mais vitoriosa da história levantasse uma taça dentro de seu lar. Mas meu principal motivo para torcer a favor do Brasil é pelo fato de que o clima que se instala aqui quando a seleção perde um Mundial é insuportável. A começar porque a culpa pela derrota não é colocada no goleiro, no centroavante, no técnico; a rapaziada prefere insistir em componentes psicológicos, do tipo "eles ganham milhões e não tão nem aí pra nada". Sem contar que, invariavelmente, pouco depois da Copa sempre rola de esportistas brasileiros ganharem torneios em outras modalidades e começar aquela comparação irritante: "olhaí, tá vendo, esses que são atletas de verdade, têm amor ao esporte, não são mercenários como os de futebol". É um ambiente daqueles que dá dor no pâncreas só de pensar. Tô fora.
Porque torcer contra: porque um título brasileiro legitimaria (como foi em 2002) algumas cagadas feitas pela CBF na preparação do time. Não, não estou dizendo que "tem que perder pra moralizar". Ganhando ou perdendo, o Brasil continuará com o seu futebol do jeitinho que é agora - e, além disso, tenho a certeza de que o desempenho da seleção dentro de campo não afetará em nada a conjuntura política. O que me refiro é a bizarrices como a escolha de Felipão - cujo último trabalho no Brasil levou ao rebaixamento de um time grande -, a titularidade de Júlio César, entre outros fatores.

Argentina
Porque torcer a favor: Messi. E pronto. Messi já é um dos maiores jogadores da história do futebol. Ele não está no nível de Tostão, George Best, Zico, Gerd Muller; está no nível de Pelé, Garrincha, Zidane, Maradona. Mas, porém, contudo, todavia, há gente que não o coloca nesse patamar - e única e exclusivamente pelo fato de ele não ter uma Copa do Mundo em seu currículo. Se ele arrebentar no Mundial, se consagrará de maneira inequívoca entre as lendas. E nós testemunharemos a história sendo feita.
Porque torcer contra: não tenho rigorosamente nada contra a população argentina e pouco contra o futebol argentino em si. Também não compactuo, com intensidade, da rivalidade Brasil x Argentina - que, embora exista de verdade, acabou se tornando um pretexto para propagandas péssimas. Porém, eu tenho MUITA raiva de brasileiros que consideram o futebol argentino um modelo. Um argentino driblou três zagueiros? "Oh, essa é a habilidade porteña, coisa rara de ser ver aqui" - e quando o Neymar faz o mesmo, é firulinha. Um argentino deu um carrinho preciso e desarmou um adversário na hora H? "Oh, essa é a raça porteña, coisa que não há no Brasil" - e quando um brasileiro faz o mesmo, está "apelando para a violência". O futebol brasileiro não é perfeito, mas é muito superior do que o argentino, e em quase todos os aspectos (eles só ganham de nós em termos de torcida, mas isso é outra história). O título argentino, e logo aqui, servirá como combustível para a papagaiada.

Alemanha
Porque torcer a favor: geralmente, os mesmos que endeusam o futebol argentino costumam descer a lenha no futebol alemão - e isso, invariavelmente, sem ver nenhum jogo de lá. "Cintura dura", "retranqueiros", etc. E isso mesmo com a Alemanha, atualmente, tendo uma geração ótima, habilidosa, veloz e... ofensiva. É, isso mesmo, hoje em dia a Alemanha joga pra frente. Curiosamente, essa geração - de Khedira, Ozil, Muller, Kroos e outros - não ganhou nenhuma taça. Nem Euro, nem Mundial, nem mesmo Olimpíada. Tá na hora dessa turma ganhar algo.
Porque torcer contra: sinceramente, são poucos os motivos. Acho que só me oporia mesmo a um título alemão se o adversário na decisão fosse o Brasil (peço a releitura do tópico 'Brasil' para compreensão dos motivos) ou uma zebra (porque zebras são legais).

França
Porque torcer a favor: guardadas todas as imensas proporções, o que falei em relação ao Messi se aplica também ao Ribery. Ele é um dos grandes da sua geração, mas não consegue se posicionar como o melhor do mundo pela concorrência com Cristiano Ronaldo e Messi. Numa dessas, com a taça na mão, pode evoluir a ponto de ser, ele também, considerado uma lenda.
Porque torcer contra: tá certo que, como eu já disse, não sofro pela seleção brasileira. Mas não há como desprezar 1998, né? E, pô, se eles ganhassem o bi logo aqui, ia ser meio doído...

Itália
Porque torcer a favor: há pouca coisa que anime qualquer não-italiano a torcer pela Itália hoje. Bem, talvez o Balotelli, sei lá. Ele é uma figura carismática até não poder mais, ia ser divertido ele fazendo a festa com a taça. Também seria bacana ver Buffon e Pirlo encerrando suas extraordinárias carreiras com mais uma Copa do Mundo.
Porque torcer contra: a Itália é tetra. Ganhando aqui, igualaria o Brasil como pentacampeã. É claro que a seleção tem méritos históricos, mas uma de suas estrelas é para um dos piores mundiais de todos os tempos, o de 1934. Sei lá, acho que o Brasil não é o lugar mais indicado para eles alcançarem o quinto título...

Inglaterra
Porque torcer a favor: a Inglaterra tem apenas um título de Copa, o contestado 1966, e isso é relativamente injusto. Não que eles tenham sido roubados nem nada, mas é fato que o futebol inglês revelou muita gente boa ao longo dos anos, e mais recentemente teve uma geração ótima, com nomes como Rooney, Gerrard, Owen, Lampard, Terry e outros. É uma rapaziada que faria jus a um título mundial.
Porque torcer contra: essa mesma turminha aí já teve duas chances para ganhar a Copa (2006 e 2010) e fez feio. Seria uma baita inversão da lógica eles ganharem agora.

Uruguai
Porque torcer a favor: porque o Uruguai é legal. País de 3 milhões de habitantes (o mesmo que a Zona Leste de São Paulo), que já ganhou duas Copas, foi semifinalista em outras duas, merece muito respeito. E formou uma geração séria e promissora, liderada por Luis Suárez. Sem contar a simbologia monstruosa que teria outra taça no Maracanã.
Porque torcer contra: justamente pelo que aconteceu em 1950, pô!

Holanda
Porque torcer a favor: porque a Holanda é um país legal e tem uma seleção legal, e que injustamente nunca subiu ao topo do pódio em Copas. A Holanda - com o time que for - merece uma estrelinha dourada na camisa. Se for agora, tudo bem.
Porque torcer contra: justamente pelo fato de que o grupo atual holandês é pra lá de sem graça. Com a exceção de Robben (e olhe lá), são poucos os holandeses que hoje encantam. Seria estranho ver a geração holandesa atual campeã do mundo e a de Cruyff não.

Espanha
Porque torcer a favor: hegemonias são chatas? Sim, são, é legal que haja uma alternância entre os que conquistam a glória. Por outro lado, eu gosto de testemunhar a história, de ver a consagração de mitos. A Espanha ganhou a Euro em 2008 e 2012 e a Copa em 2010. Se vencer agora, a Espanha obterá um bi em Copas do Mundo que ninguém consegue desde 1962, quando o Brasil faturou a coroa no Chile. Poderei dizer, no futuro, que vi jogar um dos melhores times de todos os tempos.
Porque torcer contra: porque tudo o que se diz sobre a Espanha está condenado ao esquecimento. O que a seleção fez desde o título da Euro não encantou ninguém. Explica muito isso o desmantelamento do histórico Barcelona. A Espanha, hoje, é um time mais sem graça do que foi nas outras disputas.

Portugal
Porque torcer a favor:
Cristiano Ronaldo, é claro. Ele está ainda uns degraus abaixo do Messi, mas também caminha para almejar uma posição entre os mitos. A Copa pode ser seu passaporte definitivo. E, além disso, calaria a boca dos que o acham um cara "mais preocupado com o cabelo do que com o futebol".
Porque torcer contra: quem mais tem a seleção de Portugal? O título consagraria uma geração de medianos.

Quanto às outras seleções... bem, zebras são sempre bem-vindas! Mas com moderação...

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Estrago seu trabalho amado em três dias

O pênalti que Neto desperdiçou custou ao Santos o título paulista. Mas, ainda que tivesse sido convertido e o restante da disputa desse a taça ao alvinegro, não seria suficiente para apagar a luz amarela que se acendeu na Vila Belmiro desde a primeira partida da decisão do estadual. A realidade é que a final do Paulistão e o confronto entre Santos e Mixto pela Copa do Brasil mostraram que o trabalho de Oswaldo de Oliveira pode não ser a coisa boa que pareceu no início.

O Santos começou o ano bem demais. O time tinha características interessantes: era ofensivo, mas sem se descuidar atrás. Na verdade, o time parecia se destacar pelo PREPARO FÍSICO. Às vezes, parecia que o Peixe mandava 20 atletas a campo, contra 11 dos adversários. Isso se via bem na obtenção da segunda bola: tudo quanto é rebote ficava nos pés do Santos, dominado por jogadores que apareciam aqui e ali, se multiplicando diante da defesa inimiga.

Era um 4-4-3 que se transformava em 4-2-4, ou seja lá qual for a distribuição numérica. O que importa é que o time todo ia pra cima. Cícero agia como o maestro, o distribuidor de bolas; Arouca (em sua melhor temporada desde 2010) continha os adversários e se mandava para a frente com a desenvoltura que nos encantou naquele ano de título estadual e da Copa do Brasil; Geovânio era uma flecha, incisivo e preciso pela lateral; Thiago Ribeiro, embora irregular, desempenhava bem sua função; até mesmo Damião não comprometia tanto assim; Gabriel evoluía a cada partida e, se ainda assim nada funcionasse, poderíamos recorrer a Rildo no banco de reservas.

Foi dessa forma que o Santos fez a melhor campanha da primeira fase do estadual, goleou o Corinthians e chegou favoritíssimo para a etapa decisiva do torneio.

Mas aí veio a semi com o Penapolense e um sufoco bem maior do que o esperado. Depois, a decisão contra o Ituano e o apagão que todos viram. Contra o Mixto, um jogo pra lá de sem-vergonha em que o 3x0 traduziu como poucas vezes a frase "não fez mais do que a obrigação".

É esse retrospecto recente que traz as incertezas à Vila. Até duas semanas atrás, não seria nada absurdo cravar o Santos entre os principais favoritos ao Brasileiro - não podemos esquecer que se trata de um torneio longo e que tradicionalmente prejudica quem está na Libertadores. Agora, embora eu ainda ache que o time é bom e tem condições de fazer um bom papel, essa certeza não é das mais fortes. Dúvida é a melhor palavra para descrever o sentimento.

Damião e Geovânio
Leandro Damião se tornou o alvo principal da torcida santista e, mais que isso, uma explicação pronta para os problemas do clube. Não ganhamos do Ituano, não fizemos cinco gols em outro jogo? Basta culpar a má forma do cara, e - isso é importante - lembrar a cada instante que ele custou R$ 42 milhões e que a transação que o levou à Vila é mais do que controversa.

OK, não vou aqui forçar a barra na "do contrice" e dizer que Damião está jogando bem. Não, ele não está. Hoje, HOJE, é menos jogador do que Gabriel e nem está muita coisa á frente de Stéfano Yuri, a revelação da Copinha. Um banco para ele não seria mal nenhum. A questão é que é equivocado transferir a ele toda a responsabilidade pelos insucessos. Ontem, por exemplo, ele não jogou. E o Santos foi mal da mesma forma. Há mais problemas do que Damião.

E um deles atende pelo nome de Geovânio. Aliás, serei mais incisivo: a "decadência" (ô palavrinha forte, mas não pensei em outra) do Santos nessas últimas semanas tem tudo a ver com o declínio do Caveirinha. O moleque que começou o ano voando baixo, vestindo a 10 e sendo o melhor jogador do time, hoje é um arremedo do que já foi. Não identifico motivações táticas para o problema, acho que não é por aí. Também nunca ouvi falar nada relacionado a baladas ou a outros fatores que são apontados como as causas da diminuição do futebol de sujeitos que estouram com tudo. A realidade é que Geovânio está menos dinâmico, menos preciso, menos participativo. Não tem chamado o jogo como fazia.

Acredito que é o caso de Oswaldo apostar todas as suas fichas na reabilitação do moleque, que é bom jogador e vinha sendo o craque do time no Paulista. Pode ser ele a saída para que o trabalho amado de OO não vá para o brejo.

segunda-feira, 31 de março de 2014

A insistência na ideia de que o futebol do interior era mais forte antigamente - ainda que os fatos não justifiquem a teoria

Esses dias fiz no Facebook um post em que falava sobre os feitos do Penapolense no Paulistão atual - goleada sobre o Santos na primeira fase, eliminação do São Paulo no Morumbi e que posso atualizar agora, após o duríssimo duelo com o Peixe pela semi do estadual - e que dizia que, se fosse antigamente, essas façanhas do clube seriam cantadas em verso e prosa e serviriam como argumento para dizer que "o futebol do interior do passado era muito mais forte".

Recebi muitos comentários, todos pertinentes, concordando e discordando da minha avaliação. Uma das ponderações lá feitas era a de que os estaduais de antigamente eram mais valorizados do que os atuais - o que é uma verdade indiscutível - e que, por isso, alcançar outrora decisões e vitórias sobre os grandes é algo muito mais digno de aplausos do que os triunfos nos tempos de WhatsApp.

Pois bem, concordo plenamente.

A questão - e isso eu deixei de desenvolver lá no Facebook - é que a lista das façanhas dos times pequenos no passado é bem, mas bem menor do que a mistura entre folclore positivista e saudosismo exagerado nos faz pensar.

Uma análise rápida sobre a bíblia (www.rsssf.com) nos deixa claro que os clubes grandes monopolizavam os estaduais no passado com uma força muito maior do que a atual. Entre 1960 e 1979, uma das eras mais nobres do nosso futebol, sabem em quantas vezes nós tivemos times fora dos 12 grandes vencendo os quatro principais estaduais do Brasil (SP, RJ, RS e MG)? Quatro: duas vezes no Rio (América/60 e Bangu/66), uma em Minas Gerais (Siderúrgica/64) e uma em São Paulo (Portuguesa em 1973 - com todas as ressalvas ao fato de a Lusa não ser exatamente um time pequeno e de aquele campeonato ter tido um desfecho controverso). Desses quatro, apenas um triunfo é de times de fora da capital, vale registrar.

Em compensação, nos 20 campeonatos que separam 1993 e 2013 (não errei a conta; excluo daí as edições de 2002, enfraquecidas por conta dos torneios regionais), a diversidade é maior. Foram seis vezes: três em Minas Gerais (América/93 e 2001 e Ipatinga 2005), duas no Rio Grande do Sul (Juventude/98 e Caxias/2001) e uma em São Paulo (São Caetano/2004).

Sem contar que nesse período também vimos alguns dos times "menores" levantando taças nacionais, como as Copas do Brasil faturadas por Juventude (1999), Santo André (2004) e Paulista de Jundiaí (2005). Rebate isso no passado somente o título brasileiro do Guarani em 1978.

"Pô, mas você tá falando besteira e sendo contraditório. Acabou de falar que os estaduais antigamente eram mais priorizados e agora vem com esse dado de que os times menores estão mais fortes hoje? Esses números não fazem sentido! Os grandes hoje em dia dão menos bola pro estadual, e por isso os pequenos aparecem."

Não estou desprezando isso. Meu ponto é um só: os pequenos, antigamente, não colhiam resultados tão expressivos assim. Provem o contrário!

"Ah, o Santos de Pelé perdeu pro XV de Jaú de 2x0 em 1965!" (estou inventando isso, antes que alguém vá olhar na tabela). De fato! Assim como o Santos de Neymar perdeu para o São Caetano no Paulista de 2012. E que o Corinthians que viria a ser campeão mundial foi derrotado pela Ponte Preta no mesmo ano. E que o Inter em 2010, ano em que ganhou a Libertadores, perdeu de 3x0 para o modesto São José no Gauchão. E que o Vasco em 2011, o melhor ano de sua história recente, levou de 3x1 do Macaé. E etc., etc., etc.

As realizações dos times pequenos do passado não são, em número, tão maiores do que as dos nanicos da atualidade.

Achei importante fazer esse texto porque li há pouco, o artigo "Futuro", de Ugo Giorgetti. Nele, o autor lamenta a decadência do futebol do interior paulista, baseando-se em declínios específicos de algumas equipes e em uma boa dose de memória afetiva - em que pese o fato de seu post ser aberto por uma citação ao Fernando Martinez, do ótimo Jogos Perdidos, cuja opinião sobre as equipes menores tem peso dois, três, quatro.

Discordo de quase tudo o que disse Ugo - até mesmo de sua análise sobre a mídia e a importância dada aos times do exterior, mas isso fica para outro post. Só queria destacar a menção que ele faz ao rebaixamento do Comercial de Ribeirão Preto, apontado por ele como uma das "provas" dessa decadência do futebol do interior.

Mais uma vez, recorro à RSSSF. Lá vejo que o Comercial foi rebaixado do Paulistão em 1968 e só voltaria a enfrentar os grandes do estado em 1974. Mas e aí, "os times do interior não eram mais fortes antigamente"?

E cabe ainda um último ponto: os defensores da tese do "os times do interior eram mais fortes antigamente" em geral agarram-se ferrenhamente ao declínio de tradicionais como o próprio Comercial, "XV's" de Jaú e Piracicaba, Portuguesa Santista e outros para justificar seus pontos de vista. OK, mas... o Ituano não representa o interior? O Penapolense não representa o interior? O Guaratinguetá, melhor time da primeira fase do Paulista em 2008, não representa o interior? Que critérios são esses, que definem um interior que "vale" e um que "não vale"? A entender.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Uma curiosa "rivalidade civilizada" na Espanha

A fachada do estádio do Real Madrid, o Santiago Bernabéu, impressiona por sua grandiosidade, sua beleza, mas também por outro aspecto que me soou bem inusitado: os mastros com as bandeiras de outros times espanhóis, entre eles os principais rivais dos merengues, Barcelona e Atlético de Madrid.

Bandeiras de diferentes clubes espanhóis - entre eles o Barcelona - na fachada do estádio do Real Madrid
A prática não é exclusiva do time da capital. Eu vi o mesmo em Barcelona, quando fui ao Camp Nou para assistir à vitória do Valencia sobre o time da casa. Dei aquela olhada para os mastros, pensei um "não é possível, estou vendo coisas", e depois, na casa dos madrilenhos, comprovei a ideia.

Esportividade, civilidade, chamem como quiser. Não sei se é uma regra; até desconfio que sim, e que deve ser aplicada também aos outros times que integram a elite do futebol espanhol (se alguém tiver mais informações, agradeço). É possível também que seja uma simples troca de gentilezas, uma cortesia que ganhou força e se tornou prática rotineira, a ponto de nem ser mais contestada por lá.

Diante de um quadro desses, é comum que nós, brasileiros, pensemos em como estão as coisas por aqui, e se teríamos condições de aplicar procedimento semelhante. O complexo de vira-lata poderia fazer a festa e dizer que nós, violentos e antiquados, jamais teríamos condições de dar essa mostra de fair play e deixar claro que a rivalidade se resume ao dentro de campo.

Bem, é fato que estamos distantes de, um dia, vermos uma bandeira do Grêmio no estádio do Inter, do Flamengo no estádio do Vasco, do Corinthians no estádio do Palmeiras, do Bahia no estádio do Vitória, etc., etc..

Mas a pergunta que eu faço é: nós precisamos disso? Mais: é com atos como esse que transformaremos o futebol em um espetáculo seguro, confiável, atraente para diferentes parcelas da população?

Acredito em simbologias, é claro. Sei da força delas para o futebol e para outros tantos elementos da sociedade. Mas não vejo que a exibição de um símbolo de um rival no estádio do outro possa ter todo esse caráter positivo que poderíamos imaginar. Talvez seja uma "nobreza" que não tenha muita razão de ser - ao menos não para nós, brasileiros; que os espanhóis continuem procedendo da maneira que acharem mais conveniente.

E, numa boa, falando na maior das sinceridades, eu não conseguiria achar NADA positivo em ver uma bandeira de Corinthians, Palmeiras ou São Paulo em destaque na Vila Belmiro... mas não mesmo!

PS: E que ninguém venha dizer que a rivalidade na Espanha não é tão forte assim. Acho que, em muitos casos, ela chega até a ser bem superior à do Brasil, devido a fatores étnicos - o duelo Catalunha-Barcelona x "Espanha"-Real Madrid é o maior exemplo. A pichação abaixo, retratada por mim na ida ao Camp Nou, deixa claro que o pessoal de lá não é muito de aliviar...

Antimadridistas sempre! - em catalão, é claro.