quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Obrigado por tudo, Vila Belmiro. Mas não dá mais

Antes de mais nada, uma introdução aos torcedores dos outros times: pra nós, santistas, o tópico "jogar na Vila ou jogar no Pacaembu (ou outro estádio)" é daquelas discussões surradas, cansativas, daquele tipo que se roda, roda e nunca se chega a lugar algum. É o nosso Brasileiro de 87, nosso Mundial de 2000, nossa Copa Rio de 1951. Já conhecemos todos os argumentos e contra-argumentos, as implicações de uma coisa e de outra.

Mas esse 2017 está tendo para nós um poder meio que decisivo nesse imbróglio eterno. Os argumentos fora de campo se acumulam - média de Corinthians no Pacaembu, de CSA na Vila - e, agora, juntam-se a eles os de dentro. A Vila viu o Santos ser eliminado pelo Flamengo na Copa do Brasil (mas 80% da responsabilidade é do jogo no Rio, registre-se) e, agora, a trágica eliminação da Libertadores contra o Barcelona do Equador.

Nós, santistas, sempre soubemos que a Vila era um estádio antiquado, acanhado, insuficiente para receber a nossa torcida. Mas usávamos dois escudos em resposta a essas condições. O primeiro é o da tradição - afinal, aquele é o campo que viu a consagração do maior jogador e de um dos maiores times da história. E o segundo, o do "alçapão". Tínhamos pra nós que a Vila compensava todos os seus defeitos se tornando um - peço perdão pelo chavão - décimo-segundo jogador em campo. Na Vila, dizíamos, não tem pra ninguém.

A realidade, no entanto, deixa claro que, sim, tem. A Vila hoje não mete tanto medo quanto já meteu - ou, sei lá, o futebol mudou a ponto de que o "fator casa" já não tem o mesmo peso que outrora. O fato é que é um estádio que não se compensa. Nem financeiramente, nem em termos de conforto, nem nos aspectos esportivos.

Ah, sim: um argumento que tem aparecido nos últimos tempos é o de que a Vila perdeu a sua força desde que foi... "elitizada". Quem defende isso cita a retirada do alambrado e a inserção da divisória de vidro dos setores no nível do campo. Sinceramente? Isso é trazer uma romantização que não faz muito sentido. Com ou sem alambrado, não teríamos muita qualidade no estádio.

Daí surge o questionamento óbvio: se a Vila é tão ruim assim, o que fazer? E aí voltamos ao nosso Brasileiro de 87: um estádio pra 40 mil em Santos, uma arena em Cubatão, um campo grande em São Paulo... rodamos e não saímos do lugar. A resposta mais rápida é o Pacaembu. É a ele que devemos recorrer. E quanto à Vila... obrigado por tudo!

domingo, 4 de junho de 2017

Cai Dorival, cai uma "regra" para o bom futebol

O Santos começou 2017 seguindo o manual do-time-que-vai-dar-certo-ao-longo-da-temporada: manteve a base que havia ido bem na temporada anterior, dispunha de um técnico há mais de um ano e meio no cargo, trouxe reforços de qualidade e disputaria a Libertadores. A torcida estava junto. 2017 parecia ser o ano da consagração, da consolidação de um bom trabalho, de colocar a mão em uma taça que não a estadual, algo que não ocorre desde 2011.

Mas o ano passou, os campeonatos foram ficando pra trás, e o tal "longo prazo" que a gente espera que chegue um dia quando apostamos nos "trabalhos a longo prazo" não chegou nunca.

E Dorival - que segue sendo o melhor técnico que já vi nos meus mais de 25 anos de acompanhamento cotidiano do Santos Futebol Clube - caiu. Caiu merecidamente. Caiu porque tinha que cair. Caiu porque não fez esse time jogar bola.

É claro que a responsabilidade não é só dele. O Santos, tal qual muitos dos seus adversários da Série A do Brasileirão, tem um elenco caro. Cheio de lideranças. De jogadores experientes, líderes pro bem e pro mal, que quando parecem que não querem se empenhar e fazer as coisas certo, ninguém segura (sim, Ricardo Oliveira, estou falando com você).

Além disso, há questões estruturais, muito superiores ao comandante do time. O Santos prossegue vítima de uma diretoria frágil. E, neste 2017, o irritante debate que opõe santistas paulistanos e santistas da Baixada voltou com tudo, com uma intensidade que parecia arrefecida.

Mas, porém, contudo, não fazia mais sentido Dorival continuar na chefia da equipe. O Brasileirão é implacável, e esses nove pontos perdidos nas quatro primeiras rodadas cobrarão sua fatura lá em dezembro. Além disso, há a Libertadores - em que passamos de fase, somos o único time invicto, mas não empolgamos nem um grão de areia da praia do José Menino.

Quem vem? Difícil dizer. As especulações estão à solta e até a manutenção de Elano como efetivo não me surpreenderia tanto (será que vem aí o "professor Elano Blumer"?). Levir Culpi é o nome que mais me agradaria. E há um pedaço meu, aquele que crê que o ser humano não desaprende tão fácil o que já dominou, que veria com bons olhos a chegada de Marcelo Oliveira.

Sobre Dorival, da minha parte há a torcida mais do que sincera para que ele seja bem sucedido na carreira. A passagem de 2010 foi estrondosa e essa de agora foi, sem a menor dúvida, mais positiva do que negativa. Dá até uma sensação curiosa: se ele tivesse recebido uma proposta do mundo árabe e fosse nadar em dinheiro ao fim do ano passado, estaríamos todos mais felizes e ansiando por um retorno. Que, acho eu, ainda vai ocorrer.

Por fim, todo esse episódio deixa claro como o futebol brasileiro carrega eternamente sua dose de imprevisibilidade, e que fórmulas prontas não devem ser engolidas. O Santos seguiu o manual. Deu no que deu.

sexta-feira, 3 de março de 2017

Devemos mudar os símbolos dos nossos clubes?

Falarei sobre um assunto que já foi notícia há um bom tempo, mas os bons debates no futebol sempre podem acontecer. Então, antes de mais nada, pergunto: vocês já viram o novo símbolo da Juventus, que começará a ser utilizado na próxima temporada? Se ainda não, segue a comparação entre o atual e o novo.



A mudança é completa, transformadora, agressiva. Sai um símbolo com o jeitão habitual dos escudos de futebol e entra algo estranho ao universo em que vigorará.

Como não podia deixar de ser, uma mudança dessa monta recebeu dezenas de ataques - em especial, dos saudosistas-de-boutique, aqueles que amam um futebol que não viram ou evitavam viver. Mas até mesmo gente menos apegada aos tempos idos (como eu) tomaram um baita susto com a mudança.

Até porque o novo logo da Juventus não se resume a uma simples "atualização no escudo", algo com o qual estamos acostumados. Vimos isso, por exemplo, com o Internacional, que adicionou em 2009 o nome completo e ano de fundação em seu distintivo, e com o Atlético de Madri, que deu uma mudada boa na sua marca, mas mantendo o mesmo espírito (vale muito ler essa análise que explica e justifica a alteração colchonera).

É então que trago a pergunta do título do post: estaríamos prontos para uma mudança desse tipo nos clubes brasileiros? Ou melhor: estamos interessados nisso? Queremos esse tipo de mudança?

Para essa discussão, temos que levar em conta, antes de mais nada, que alterações em distintivos não são algo exclusivo da contemporaneidade. Ao contrário: até os clubes se consolidarem como marcas históricas, as transformações aconteciam com grande frequência. O Estadão publicou um ótimo levantamento esses dias com as mudanças nos clubes paulistas, e a imagem abaixo mostra bem como o Corinthians alterou sua marca ao longo dos anos.



Ou seja: mudar não é novidade.

A questão é que, hoje, teríamos que incluir duas coisas no debate. A primeira é: por que mudar? Existe uma razão palpável para alterar o mais nobre dos símbolos de um clube? Seria a "mudança pela mudança"? Já o outro ponto é justamente levar em conta o tradicionalismo e ponderar se a alteração - ainda que com todas as eventuais justificativas - seria algo que valesse a pena.

Falando como torcedor e trazendo o debate para o caso específico do meu time, eu tenderia a ser contrário a qualquer mudança. Considero o símbolo do Santos bonito, adequado, "redondinho". Mas creio que uma eventual modificação deveria ser posta à mesa, para reflexão. Se queremos melhor gestão para os nossos clubes, podemos aprender com as lições dos dirigentes do passado que, pensando à frente, mudaram suas marcas.


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

A Arena Amazônia precisa ser a nova casa da seleção brasileira

A proibição de times mandarem jogos fora de seus estados no Brasileirão é daqueles casos em que o debate não traz uma solução definitiva. Há argumentos consideráveis de todos os lados: a favor da proibição, a lembrança de que a venda de mandos pode desequilibrar uma tabela, em um campeonato tão equilibrado quanto o nacional; contra o veto, a autonomia dos clubes e - é disso que este texto trata - a necessidade de se aproveitar as arenas da Copa do Mundo.

(A controvérsia, por outro lado, é algo que não identifico na proibição da grama sintética: esta sim é uma decisão absurda, arcaica, retrógrada.)

Mas voltando às arenas: se nada de excepcional acontecer, teremos um restante de 2017 com pouquíssimos ou nenhum jogo dos times grandes em campos como Arena Pantanal, Arena Amazônia ou Mané Garrincha. Primeira Liga, Copa do Brasil e - vá lá - Libertadores podem apresentar um respiro, mas de antemão sabemos que não será uma agenda rotineira.

Isto posto, a solução para o aproveitamento dos elefantes brancos parece que precisa vir de uma instituição acima dos clubes: a seleção brasileira. A Arena Amazônia precisa se tornar a nova casa da seleção. Manaus tem todas as condições de abrigar delegações e torcedores brasileiros e estrangeiros. Que todos os jogos das Eliminatórias e amistosos, salvo raras exceções, sejam mandados lá.



Mas por que a Arena Amazônia e não os estádios de Cuiabá ou Brasília? A resposta está no fato de que, em primeiro lugar, Mato Grosso tem um time na Série B do Brasileiro. Então poderíamos ter o Luverdense recebendo adversários como Náutico, Santa Cruz, Goiás e, principalmente, Internacional na capital do seu estado. Já Brasília tem mais condições de abrigar jogos das outras competições citadas acima (Libertadores, Copa do Brasil e Primeira Liga) e seu estádio tem uma agenda um pouco mais ativa para shows e outros eventos.

O debate, evidentemente, vai além dos jogos da seleção brasileira principal. Os times femininos e de base também deveriam disputar seus jogos nesses estádios - quem explica o fato de que o Brasil NUNCA sediou os sul-americanos sub-20 e sub-17? E outra coisa que precisa entrar em cena é uma eventual proibição para que cidades não contempladas com a Copa - Florianópolis, Goiânia e Campo Grande, por exemplo - não pleiteiem ser essas sedes, para evitar a construção de novos espaços custosos.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Poluição visual

A imagem abaixo reúne camisas à venda nas lojas oficiais de Arsenal, Bayern, Real Madrid e Santos. Quatro times tradicionais do futebol mundial. Há uma coisa que distingue a camisa do Santos das demais. Fácil perceber, não?



Sim, a camisa do único brasileiro nesse grupo é diferente das outras por não ostentar patrocínios. É, portanto, mais bonita, mais limpa do que a das outras equipes comparadas nesse post. Mas, porém, contudo, comparemos a camisa citada acima com a que o Santos utilizou no último jogo:



Toda a "pureza" que está disponível ao torcedor na loja online se esvai quando o time vai a campo - o que há, na prática, é um conflito desarmônico de marcas, desesperadas por chamar a atenção do torcedor.

Não se trata de uma crítica de tom "saudosista". Não contesto o fato de um time vender espaço na sua camisa para um patrocinador. Ao contrário: meu viés é plenamente mercadológico. Não há como dissociarmos, hoje, os uniformes de Real, Arsenal e Bayern (escolhi os times aleatoriamente, só pra registrar) de seus patrocinadores. Já no caso do Santos - e de outros brasileiros - as marcas não conseguem se coligar com a torcida. Até porque sofrem boicote da própria loja oficial do clube.

Times precisam de dinheiro. Falar ao mercado é fundamental. Só contesto se é por aí que a arrecadação fará mais sentido.