quinta-feira, 26 de junho de 2014

Primeira fase da Copa: viva a zebra, mas... que tal rever os critérios dos grupos?

Argélia, Nigéria (que eram um único território no War, vejam só que coisa) e Grécia estão na segunda fase da Copa do Mundo. Itália, Espanha e Inglaterra, não. Muito será dito sobre o feito das classificadas e o vexame das eliminadas. Porém, vejo pouca gente (ou ninguém) trazer outro tema para debate: será que o critério adotado para a formação dos grupos da Copa está justo?

Sim, já antevejo a réplica de quem ler esse texto: "pô, mas isso é uma desculpa esfarrapada! O grupo foi feito por sorteio, e qualquer um poderia ter caído em uma chave complicada! Se o time não teve competência para superar os adversários, que não venha colocar a culpa no sorteio!".

Acontece que não se trata de "colocar a culpa". É uma questão de observar os fatos. A Copa de 2014 teve um grupo pra lá de surreal, o H, composto por Bélgica, Argélia, Rússia e Coreia do Sul. A falta de renome das seleções da chave gerou até um hilário perfil no Twitter, o El Grupo H :( (sim, a carinha faz parte do nome). Mais uma chave fraquinha foi a da Argentina, que reuniu, além do time de Messi, Nigéria, Bósnia e Irã.

Posso cravar que seria muito difícil a Argélia passar de fase se tivesse como adversários EUA, Alemanha e Portugal, os oponentes enfrentados por sua vizinha de continente Gana, despachada na primeira fase. Assim como talvez Rooney e cia. ainda estivessem no Mundial se a Inglaterra, e não a Bósnia, fosse o time europeu do Grupo F, o da Argentina.

E aí, agora, citei o xis da questão: "time europeu". Pois é. De 1994 para cá, a FIFA definiu que, com exceção dos cabeças-de-chave, o único critério que distinguiria as seleções é o geográfico. O horror supremo para a federação seria juntar três europeus ou dois sul-americanos, por exemplo. Então, por isso a maldição dos potes. E é a partir daí que tivemos Inglaterra (e a Holanda, FINALISTA DO ÚLTIMO MUNDIAL!!!) equiparada com a Bósnia, Equador no mesmo nível do ótimo Chile, e o razoável México, campeão olímpico, pareado com o fraquíssimo time de Honduras.

A FIFA tem em suas mãos um ranking, que, embora possa ser contestado, é um indicador correto sobre o desempenho das seleções. Foi a ele que a entidade recorreu na hora de definir os cabeças-de-chave. Por que não estabelecer os potes seguintes também de acordo com o critério estabelecido? Será mesmo que chocar três times de um mesmo continente na fase inicial é um pecado maior do que fazer, simultaneamente, grupos insanos e varzeanos na primeira parte do Mundial?

Cabe lembrar que não estou falando de nenhuma inovação. A Copa de 1990 teve seus grupos formados de acordo com os níveis das seleções. A Folha de S. Paulo de 9 de dezembro de 1989, o dia do sorteio, noticia: Os nomes de 18 seleções estarão distribuídos por três urnas, agrupadas por categorias: seleções 'fortes' (Espanha, URSS, Escócia, Áustria, Iugoslávia e Holanda), 'intermediárias' (Colômbia, Uruguai, Tchecoslováquia, Eire, Romênia e Suécia) e 'fracas' (Camarões, Egito, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Costa Rica e EUA).

Note que a Costa Rica está ali entre os fracos. Exatamente como foi pintada antes de a bola rolar em 2014. E, em outra repetição, passou de fase em 1990, como fez agora. Como explicar isso? Ora, com a riqueza do futebol, e sua imprevisibilidade de que tanto gostamos. Zebras acontecerão, com ou sem grupos organizados, independentemente do critério do torneio. E isso é bom. O Objetivo não é acabar com nada de bacana que caracteriza o futebol, e sim acrescentar uma dose extra de racionalidade.

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