O pênalti que Neto desperdiçou custou ao Santos o título paulista. Mas, ainda que tivesse sido convertido e o restante da disputa desse a taça ao alvinegro, não seria suficiente para apagar a luz amarela que se acendeu na Vila Belmiro desde a primeira partida da decisão do estadual. A realidade é que a final do Paulistão e o confronto entre Santos e Mixto pela Copa do Brasil mostraram que o trabalho de Oswaldo de Oliveira pode não ser a coisa boa que pareceu no início.
O Santos começou o ano bem demais. O time tinha características interessantes: era ofensivo, mas sem se descuidar atrás. Na verdade, o time parecia se destacar pelo PREPARO FÍSICO. Às vezes, parecia que o Peixe mandava 20 atletas a campo, contra 11 dos adversários. Isso se via bem na obtenção da segunda bola: tudo quanto é rebote ficava nos pés do Santos, dominado por jogadores que apareciam aqui e ali, se multiplicando diante da defesa inimiga.
Era um 4-4-3 que se transformava em 4-2-4, ou seja lá qual for a distribuição numérica. O que importa é que o time todo ia pra cima. Cícero agia como o maestro, o distribuidor de bolas; Arouca (em sua melhor temporada desde 2010) continha os adversários e se mandava para a frente com a desenvoltura que nos encantou naquele ano de título estadual e da Copa do Brasil; Geovânio era uma flecha, incisivo e preciso pela lateral; Thiago Ribeiro, embora irregular, desempenhava bem sua função; até mesmo Damião não comprometia tanto assim; Gabriel evoluía a cada partida e, se ainda assim nada funcionasse, poderíamos recorrer a Rildo no banco de reservas.
Foi dessa forma que o Santos fez a melhor campanha da primeira fase do estadual, goleou o Corinthians e chegou favoritíssimo para a etapa decisiva do torneio.
Mas aí veio a semi com o Penapolense e um sufoco bem maior do que o esperado. Depois, a decisão contra o Ituano e o apagão que todos viram. Contra o Mixto, um jogo pra lá de sem-vergonha em que o 3x0 traduziu como poucas vezes a frase "não fez mais do que a obrigação".
É esse retrospecto recente que traz as incertezas à Vila. Até duas semanas atrás, não seria nada absurdo cravar o Santos entre os principais favoritos ao Brasileiro - não podemos esquecer que se trata de um torneio longo e que tradicionalmente prejudica quem está na Libertadores. Agora, embora eu ainda ache que o time é bom e tem condições de fazer um bom papel, essa certeza não é das mais fortes. Dúvida é a melhor palavra para descrever o sentimento.
Damião e Geovânio
Leandro Damião se tornou o alvo principal da torcida santista e, mais que isso, uma explicação pronta para os problemas do clube. Não ganhamos do Ituano, não fizemos cinco gols em outro jogo? Basta culpar a má forma do cara, e - isso é importante - lembrar a cada instante que ele custou R$ 42 milhões e que a transação que o levou à Vila é mais do que controversa.
OK, não vou aqui forçar a barra na "do contrice" e dizer que Damião está jogando bem. Não, ele não está. Hoje, HOJE, é menos jogador do que Gabriel e nem está muita coisa á frente de Stéfano Yuri, a revelação da Copinha. Um banco para ele não seria mal nenhum. A questão é que é equivocado transferir a ele toda a responsabilidade pelos insucessos. Ontem, por exemplo, ele não jogou. E o Santos foi mal da mesma forma. Há mais problemas do que Damião.
E um deles atende pelo nome de Geovânio. Aliás, serei mais incisivo: a "decadência" (ô palavrinha forte, mas não pensei em outra) do Santos nessas últimas semanas tem tudo a ver com o declínio do Caveirinha. O moleque que começou o ano voando baixo, vestindo a 10 e sendo o melhor jogador do time, hoje é um arremedo do que já foi. Não identifico motivações táticas para o problema, acho que não é por aí. Também nunca ouvi falar nada relacionado a baladas ou a outros fatores que são apontados como as causas da diminuição do futebol de sujeitos que estouram com tudo. A realidade é que Geovânio está menos dinâmico, menos preciso, menos participativo. Não tem chamado o jogo como fazia.
Acredito que é o caso de Oswaldo apostar todas as suas fichas na reabilitação do moleque, que é bom jogador e vinha sendo o craque do time no Paulista. Pode ser ele a saída para que o trabalho amado de OO não vá para o brejo.
Um comentário:
Bom, eu acompanhei mais o Santos desde a última rodada da primeira fase. Mesmo naquele jogo achei que o Palmeiras jogou bem e poderia não ter perdido o jogo. Inclusive não achei que o Santos jogou tão bem como falaram. Criou apenas uma chance além dos gols.
O fato é que, da mesma forma que aconteceu com o Palmeiras, não tivemos testes realmente válidos para avaliar ambos os times nesse Paulista. Quando a coisa apertou, os grandes não conseguiram mostrar um bom futebol. No caso do Santos, algo que eu já havia desconfiado desde o clássico da última rodada é que a defesa é extremamente insegura e comete falhas demais. Palmeiras, Penapolense e Ituano conseguiram criar algumas boas chances por conta de falhas de marcação bobas (marcar bola, não acompanhar tabelas, etc).
Eu não acho que o time inteiro é fraco e ainda acho que Palmeiras e Santos poderiam fazer frente a outros campeões estaduais, embora todos estejam agora descartando os Paulistas na briga pelo Brasileiro.
Especificamente falando do Santos, acho que o Paulista não pode servir para jogar fora nenhum trabalho, como você disse. Há coisas para acertar, mas há mais coisas boas.
Já o Ituano foi um exemplo de como uma defesa bem armada e rodízio de faltas podem derrubar um bom ataque quando não há obrigação de atacar. Sou o primeiro a refutar reclamações sobre o regulamento mas o fato é que vantagem do empate para Palmeiras e Santos seria suficiente para ambos terem tido melhor sorte (Palmeiras não teria aberto tão desorganizadamente o time se o empate o favorecesse).
Postar um comentário