Depois de um longo período de hibernação, eis que retorno a este espaço digital. Meu afastamento se prolongou mais do que eu desejava por conta do nascimento de minha pequena Luísa, que não estava no Canadá, mas sim em Catanduva, na barriga da mãe.
Agora que minha vida começa a retornar aos eixos, posso me dar ao luxo de dedicar meu tempo a questões efêmeras, como o Paulistão. Nesta quarta à noite, tive o desprazer de assistir ao empate do São Paulo com o Bragantino. Confesso que nunca imaginei que um jogo de seis gols pudesse ser tão maçante.
As equipes se mostraram bastante limitadas, principalmente o Tricolor em seu setor defensivo. A bem da verdade, tivesse o Bragantino atacantes competentes, teria enfiado uns seis gols na desarranjada zaga são-paulina. É justamente sobre esse assunto que quero comentar, e não sobre o resultado em si, que é o de menos.
O que me chamou a atenção nessa partida - e em outras do São Paulo nesta temporada - foi o enorme impacto provocado pela ausência de Rogério Ceni na meta. Alguns tricolores fanáticos talvez fiquem indignados com o que vou dizer, mas é preciso quem alguém o faça enquanto ainda é cedo.
No meu entender, na mesma medida em que trouxe benefícios ao São Paulo, Rogério também trouxe uma imensidão de prejuízos. O maior desses males foi tornar o time dependente de seu enorme carisma.
Nos últimas apresentações do Tricolor, ficou visível o embaraço da zaga nos momentos em que estava com a bola. Com Rogério em campo, todos sabiam exatamente o que fazer: despachar a pelota o mais rápido possível para os pés do goleiro-líbero, que se encarregava de armar a jogada para os atacantes.
Na “Era Denis”, o desespero dos defensores é visível, consumidos pela dúvida entre arriscar a armação da jogada ou o recuar para um goleiro desprovido de talento nos membros inferiores.
Essa situação, por sinal, era visível já nos primeiros anos da carreira de Rogério, mas foi se disseminando da zaga para os demais setores da equipe. Começou com os gols em cobranças de falta de pênalti, para chegarmos a situações que beiram ao absurdo, em que o goleiro deixava a pequena área para armar jogadas de bola parada no ataque – isso sem contar as temporadas em que ele ocupou a artilharia do time.
De certa forma, Rogério está para o Tricolor tal como Bismarck estave para a Alemanha, segundo bem observou Weber (não confundir com Webber da Fórmula-1). Ao monopolizar o poder em todos os setores da equipe, Ceni deixou o São Paulo desprovido de personalidade.
Rogério se tornou ele próprio a alma do time, de modo que, sem ele, o Tricolor se converteu em um amontoado de jogadores, todos carentes de liderança. Reconstruir a alma da equipe é uma tarefa para lá de complicada e não depende da vontade da comissão técnica.
Essa missão cabe unicamente à diretoria. Difícil saber se os atuais dirigentes são-paulinos reúnem condições de dar uma guinada no clube, livrando-o do lado negativo do carisma exercido por seu maior ídolo em tempos recentes.
Um comentário:
Achei que você fazia uma referência àquele discutível jogador do Vasco que foi para a Copa de 1990.
O desempenho do Dênis no clássico de ontem reforça a carência, não?
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