quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Amor não correspondido?

Desde pequeno tive uma vida sofrida. Não, não estou dizendo que passei fome, que não tive onde morar ou outras dessas coisas nada importantes comparadas ao futebol. Estou dizendo que eu nasci palmeirense.

Nas classes do ginásio, éramos sempre minoria.  Três, no máximo quatro. E a coisa fica pior quando digo que um deles era meu irmão gêmeo, que nunca ligou muito pra coisa e não sabe nem quem é o Evair. Estudei anos pensando que a sensação de ser campeão não existia. Que era daquelas coisas que só acontecem com "um amigo meu". Anos vendo os moleques desfilando com suas camisas tricolores "da IBM" e corinthianos com suas "da Kalunga". Me consolava no fato de ao menos o número de santistas ser menor. Na verdade acho que o primeiro que conheci de fato foi o Olavo. Chegava ao ponto de ficar feliz com uma eliminação precoce para ser esquecido quando das gozações entre corinthianos e são paulinos. Era muito sofrida aquela vida.

Mas por algum motivo destes inexplicáveis eu seguia meu caminho da mesma forma. Cada dia mais fanático e apaixonado pelo time que nem sequer havia me dado alguma alegria. Acho que meu pai, sábio, tratou de colocar na minha cabeça algo do tipo "mudar de time é coisa do diabo" ou pior. É, era por isso. Só pode ser.


Com o tempo fui aprendendo a conviver com derrotas vexatórias que me transformaram num torcedor extremamente desconfiado. Vi que a felicidade com lindos resultados eram acompanhadas de tombos maiores e por isso qualquer comemoração foi sempre comedida.

O tempo passou, as coisas melhoraram na década de 90. Já no último ano do ginásio pude ir pela primeira vez devidamente uniformizado como vi adversários fazerem durante anos. No colégio as coisas mudaram. Agora éramos em 5 ou 6 numa turma com 18 moleques. Nada mal, pensava. Mas o fato é que o Palmeiras sempre arranja um jeito de te proporcionar vexame. E cada vez pior.

Tá mas e daí?

Daí que essa vida sofrida me deixa preocupado com este ano. Eu sei bem que não temos time para chegar, mesmo com todos os adversários fazendo de tudo para não levar. Estou preocupado pois andei ouvindo comentários de que o penalti perdido contra o Cruzeiro ou o cometido contra o Atlético-PR nos deixariam a poucos pontos da liderança. Mas graças a Deus não aconteceu. Que bom que estamos indo de pouco em pouco pro meio da tabela onde as coisas são calmas e não trazem decepções maiores. Pois o quanto mais chegamos perto com esse time que não inspira a menor confiança, maior será o tombo depois. Não quero perder esse campeonato na última rodada e pro maior rival. Quero terminar como coadjuvante apenas. Esperar que no próximo ano as coisas melhorem, que a confiança volte. Que o Palmeiras recompense esse amor que parece crescer mais com as derrotas. Pois uma coisa é certa, esse amor é cada dia maior. Muito maior.

6 comentários:

Olavo Soares disse...

Todo amor clubístico é não-correspondido.

E acho que isso que faz com que ele se torne cada vez maior!

Cauê Muraro disse...

Os palmeirenses das minhas classes, até a quarta série, foram sempre minoria. Não existiam santistas: só fui conhecê-los depois que me mudei pra Santos. Isso, claro, reduziu ainda mais a proporção de verdes. Uma constante: todo palmeirense era filho de pai palmeirense devotado, e 85% dos moleques eram loiros. Levavam a sério a torcida, também. Aqui em São Paulo, mais que todos os demais times grandes. Lá em Santos, só perdiam dos locais.

Olavo Soares disse...

Ah, e sobre esse aspecto, pra mim aconteceu meio o oposto: até o colegial (ensino médio é o caralho), jamais vivi em ambientes em que os palmeirenses fossem minoria. Sei lá, pra mim o ambiente parecia igualmente dividido entre tricolores, corintianos e palmeirenses.

Ou talvez eu me sentia (e, de fato, era) tão minoria que jamais fosse achar que os torcedores do Palmeiras também fossem "dignos" de tal status.

Fabricio disse...

Olavo, não acho que o maluco que torce pro Milan ou pro Barcelona não sejam correspondidos. Mesmo aqui no Brasil, ser flamenguista é muito bom dado que o Flamengo ganha o estadual todos os anos desde 1734.

O que o Cauê falou é verdade: pro cara ser palmeirense é por ser filho de um. Talvez pelo fato de que naquela época dos nossos ginásios e colégios ninguém seria idiota o suficiente pra virar a casaca e assumir o verdão.

Fabricio disse...

No meu colégio eram 5 palmeirenses, contra 7 e 8 tricolores ou corinthianos (contando apenas dentre os 18 moleques da turma que tinha ainda 22 meninas).

Mas no ginásio era absurdo. 3 palmeirenses numa turma com 25 moleques. Dava dó.

Olavo Soares disse...

E eu que era o único numa escola inteira?!?!