O ano começa bizarro para o Santos, como todos já sabem. O ídolo Arouca, o bom (ou, na pior das hipóteses, médio) Aranha, o quebra-galho Mena, o capitão Edu Dracena e o ruim Leandro Damião deixaram o clube - e todos pela porta dos fundos, após pendências salariais. Os reforços que chegaram (Werley, Valencia, Chiquinho, Elano, Ricardo Oliveira) não são nenhuma garantia de bom futebol. E nada nos faz ter a certeza de que a sangria já acabou - e que os principais jogadores do elenco atual, como Robinho, Lucas Lima e Geovânio, permanecerão na Vila.
Não é o primeiro início de ano ruim para o Santos, claro. Lembramos bem de algumas temporadas, como 2002 (sim, 2002) e 2008, quando as perspectivas eram tão ou mais assustadoras do que as de agora.
O duro é ver, mais uma vez, o cenário de crise reforçando uma das mentalidades que mais irrita em relação ao Santos Futebol Clube: a crença inabalável de que as categorias de base, sempre elas, vão resolver tudo de forma mágica, indiscutível, e que o Santos sairá por cima, carregado pelos braços de sua garotada.
A filosofia aparece nos comentários de santistas por aí. Não temos Aranha? Vamos de Gabriel Gasparotto, "que foi bem na Copinha". Leandro Damião foi fraco e Thiago Ribeiro decai a cada dia? Deixa pra lá, é só colocar Stefano Yuri e Jorge Eduardo para jogar. Arouca, ídolo de tantos jogos e títulos, brigou e saiu? Sem problemas: basta escalar Lucas Otávio. "Esse menino é bom".
E assim a torcida do Santos legitima a diretoria do clube para se abster, para não se planejar, crescer, contatações. A frase do presidente Modesto Roma Júnior destcada no Painel da Folha ontem expressa bem a mentalidade: "O Santos é o Santos, sempre tem uma luz no fim do túnel". Pois é. Viva a magia, não é mesmo?
Não vou aqui desprezar completamente a identidade do clube para que torço. É óbvio que a base deu inúmeras alegrias aos santistas. Mas não podemos esquecer que de onde saíram Neymar, Robinho e Pelé, também saíram Wesley, Tiago Luís, Carleto, Halisson e outros que nunca deram em nada. Não podemos achar que tudo se resolverá num passe de mágica.
Cabe registrar que o Santos está longe de ser o único time brasileiro que sofre o estigma da "virtude que atrapalha". O Corinthians penou muito, e ainda sofre com isso, com a mentalidade do "tem que ser sofrido", que também motivou o time a abrir mão de planejamentos e reflexões sérias. Já o São Paulo sofre o oposto - às vezes parece que torcida e diretoria precisam se exibir como planejados e diferenciados, como no papo que apareceu recente de que o clube busca um técnico estrangeiro. Vejo isso ainda no Grêmio e sua necessidade de reverenciar quem fale espanhol, seja qual for o nível técnico do sujeito.
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