A derrota de 1950 criou a horrível teoria de que "só no Brasil ninguém valoriza o vice". Como resposta à fortíssima pressão que sofreram os superados no Maracanã, implantou-se uma cultura redentora, defendida por alguns que se vendiam (ou vendem) como os heróis da resistência, capazes de superarem um ambiente perverso e algoz de todos os que não conseguiram chegar ao topo do esporte. Fora do Brasil, apregoam esses, os vice-campeões recebem louros; aqui é só pedrada. A teoria é, evidentemente, falsa como uma nota de três reais.
Introdução feita, passemos a debater a dimensão histórica da final da Eurocopa para a França. Do contexto, todos sabemos: os franceses chegaram à decisão favoritíssimos, por jogarem em casa, por terem feito uma campanha mais consistente do que o adversário e por serem, falando de forma direta e reta, mais time do que Portugal. Todo esse favoritismo elevou-se ao cubo quando Cristiano Ronaldo sucumbiu ainda no primeiro tempo. Mas Portugal venceu na prorrogação e deixou a França com a medalha de prata.
Não acho que a França deva lembrar da Eurocopa como uma experiência de todo traumática. Mas o que houve em Saint-Denis no domingo é, sim, um vexame. Por todo o contexto que já falamos, adicionado por outro componente: a camisa. Afinal, a França vinha com um título de Copa do Mundo, duas Euros e, de quebra, um vice-campeonato mundial no retrospecto, enquanto Portugal poderia apenas ostentar no peito um vice europeu (também vexaminoso, cabe o registro) e duas semifinais de Copa.
A essa altura, alguém poderia retrucar: "a França não deu vexame! Vexame foi o 7x1 que o Brasil levou da Alemanha". A resposta para isso é de fácil elaboração. Não é porque exista um vexame maior do que o seu que você não deu vexame, saca? É ÓBVIO que o que o Brasil fez foi de uma vergonha incomensurável, maior que talvez qualquer outra coisa que já veremos no futebol.
O retrospecto histórico da França faz com que possamos subir o nível com o país de Pogba e Griezmann. Fosse uma Ucrânia da vida chegando em uma final de Euro, até poderíamos achar bonitinho, mas isso não se aplica aos franceses. E o mesmo vale aqui para o Brasil. O dia em que "valorizarmos o vice" de uma seleção brasileira de futebol, é que a coisa está feia. Bem feia.
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