Nasci em 1980. Comecei a acompanhar futebol na virada dos anos 80 para os 90. Mas posso dizer que a minha vida "efetiva" de torcedor do Santos se iniciou em 1991. É a partir daquela temporada que lembro com clareza de acompanhar os campeonatos, monitorar as tabelas, saber o desempenho dos adversários, e por aí vai.
E, claro, conhecer o elenco do time e ter na ponta da língua a escalação. O onze daquela temporada vem na mente como um mantra, como um hino: Sérgio; Índio, Pedro Paulo, Luiz Carlos e Flavinho; Bernardo, Axel e Sérgio Manoel; Almir, Paulinho e Cilinho.
De lá até os dias atuais foram tantas outras formações que vão se acumulando - e eventualmente se perdendo, infelizmente - na memória. O time ali formadinho, do goleiro ao atacante final (ponta esquerda nos anos 90, segundo atacante nos 2000, ponta de novo nos últimos anos), com uma exceção ou outra, era conhecido por mim ou por qualquer outro torcedor mais disposto.
Pois bem: chegamos a 2019, ao Santos de Sampaoli, atual líder do Brasileirão.
E eu não sei a escalação do meu time.
Já virou um ritual. Minutos antes da partida, as redes sociais do Santos soltam - eventualmente com alguma gracinha - a formação do dia. Abre-se a partir daí o debate nas redes, no Whatsapp e em qualquer outro espaço: "rapaz, o Aguilar foi pro banco!", "mas o Derlis vai jogar dessa vez?", "vixe, o Cueva nem relacionado foi", "pô,vamos de três zagueiros", e por aí vai.
Não preciso dizer que está dando certo. O Santos é líder do campeonato e mesmo antes de alcançar o topo já estava com um futebol que encantava muita gente. É tudo, menos um time modorrento - as goleadas sofridas conta Ituano, Botafogo de Ribeirão e Palmeiras provam isso.
Curioso ver que o momento desafia algo que costuma ser uma regra no futebol, a busca pelo tal entrosamento. Quando uma equipe está em má fase, é comum que a imprensa resgate as escalações e diga: "o técnico não conseguiu repetir o time duas vezes seguidas em nenhum dos últimos 10 jogos" - e aí pode ser tanto resultado de uma "invencionice" quanto culpa de lesões, suspensões ou vendas, que transformam o treinador da vez de vilão em vítima.
Cabe ressaltar um aspecto importantíssimo para compreender o momento atual do Santos: o apoio da torcida. Sampaoli não estaria fazendo o que faz se não tivesse respaldo. Daí o debate vai para as motivações deste respaldo.
É uma mistura de coisas:
- o efeito novidade: Sampaoli, pro bem ou pro mal, goste-se dele ou não, é uma inovação em nosso futebol. Antes dele o Santos quase fechou com Abel Braga e em 2018 tinha Cuca. Ou seja, ficou na mesmice. Sampaoli veio sacudir tudo. Para um time que não dispõe de fortunas e cuja torcida sabe que os títulos só poderiam vir com algo diferenciado, a proposta se encaixou.
- o espírito do Santos: eu não sou o maior fã disso, quem me conhece sabe, mas o Santos tem sim o tal "DNA ofensivo". A torcida gosta, é fato. Então um técnico que se propõe a jogar pra cima, a buscar o jogo, vai ter mesmo mais suporte que os outros. Nota: muitos técnicos na história recente do Santos, como Jair Ventura, foram criticados por serem "retranqueiros". Crítica injusta. Eles não eram retranqueiros, e sim incompetentes; retranqueiro é quem planeja o time para ficar na defensiva. No caso do Santos de Jair e outros ruins, não havia planejamento tático algum.
E fecho dizendo que, além da escalação, eu não sei quem é o craque do time hoje. Sanchez seria o nome mais natural. Soteldo - a quem critquei bastante no começo - também desponta como um possível indicado a tal, se manter o futebol dos últimos jogos. Mas, honestamente, isso é menos importante.
Nunca ter um time indefinido foi tão bom.
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