sábado, 4 de maio de 2019

Futebol nas Astúrias

Passei minhas férias de 2019 na Espanha. Fiquei baseado na cidade de León e fui fazendo passeios a outros lugares. Dois deles foram às principais cidades das Astúrias (um "estado" da Espanha), Oviedo e Gijón. Meu roteiro contemplou o básico do turismo nos dois locais e, claro, aproveitei pra incluir futebol na parada. Visitei os estádios dos arquirrivais Real Oviedo e Sporting Gijón, e tive duas experiências bem bacanas.

O primeiro passeio foi em Oviedo, onde conheci o estádio Carlos Tartiere. Sim, a gente sabe que a Espanha é um país rico e que é natural que os estádios sejam melhores do que os brasileiros, mas ainda assim não deixa de ser um pouco chocante ver que um time pequeno (o Real Oviedo fica oscilando entre a primeira e a segunda da Espanha, ultimamente mais no andar de baixo do que no de cima), de uma cidade de menos de 230 mil habitantes consiga ter uma arena bacana, para 30 mil torcedores, e que costuma ter ocupação superior a 50%.

(quando comentei que meu time, o Santos, costuma jogar para 5 ou 6 mil pessoas, as pessoas ficaram em estado de choque...)

Além de o estádio em si ser muito legal, a visita foi muito rica. Inclui a circulação pelas estruturas do campo e também uma passagem pelo museu do clube. No dia da minha visita, fui guiado pelo Miguel, assessor de imprensa do clube. E não teria como ser melhor! Além de ser um cara muito simpático e educado, o Miguel é, indiscutivelmente, um apaixonado pelo Real Oviedo. Fala do clube com uma convicção empolgante, complementa as histórias eom detalhes interessantíssimos, consegue colocar o visitante em contato com a alma do clube.

Entre as diversas histórias relatadas, a mais saborosa, sem dúvida, é a relacionada com a foto que vai aqui ao lado. Na temporada de 1931, o Sporting Gijón fazia boa campanha na Segunda Divisão e estava com tudo encaminhado para o acesso. Seria o primeiro time das Astúrias a chegar na elite espanhola. Só precisava ganhar mais um jogo para realizar o sonho. E esse jogo seria justamente em casa, contra o Real Oviedo. Na ocasião, o Oviedo já não tinha mais pretensões no campeonato; não tinha risco de cair e nem chances de subir. Com o adversário apenas cumprindo tabela, as coisas ficaram fáceis para o Sporting, certo? Que nada! O Oviedo se superou e fez 3x1. Com isso, o Gijón não apenas deixou de subir, como ficou mais um tempão na Série B. E a façanha de ser o primeiro time das Astúrias na elite ficaria com o próprio Oviedo, anos depois. Achei um exemplo espetacular daquele espírito de sacanagem que só o futebol pode proporcionar.

O orgulho com a história é tão grande que o jogo acabou por receber destaque no museu do Real Oviedo!

Um personagem que recebe muito destaque no museu é Isidro Langara (de quem, vergonhosamente, eu nunca tinha ouvido falar). Ele é o maior craque da história do clube e tem também histórico na seleção espanhola - jogou a Copa de 1934 e foi autor de um dos gols da vitória de seu time sobre o Brasil.

Já em Gijón, a visita foi também muito interessante. A começar pelo estádio em si. O El Molinón tem algo que eu nunca vi em estádio nenhum, nem no Brasil e nem na Europa - a parte inferior é ocupada quase que integralmente por estabelecimentos comerciais, como restaurantes, escritórios de diferentes atividades, academia de ginástica e até mesmo um supermercado! Vejam na foto ao lado. Quando fui, na hora do almoço de uma sexta-feira, os bares e restaurantes estavam bem ocupados, por pessoas que estavam ali para tomar uma cerveja ou fazer a refeição.

O estádio em si é de primeira linha; se fosse instalado aqui no Brasil, certamente seria mencionado entre os melhores do país. A capacidade é para 30 mil torcedores e a visibilidade que se tem de qualquer ponto é perfeita. Os ingressos não figuram entre os mais caros, com bilhetes na casa dos 25 euros, e a ocupação costuma também ser bem elevada.

Assim como em Oviedo, faz-se ainda um passeio pelo museu do clube. O El Molinón é considerado o estádio mais antigo da Espanha e sediou jogos da Copa de 1982. Passou por reformulações ao longo dos anos e, como já dito, é hoje um campo de primeiro mundo.

Tanto em Oviedo quanto em Gijón algo a ser destacado é a paixão pelo futebol que as cidades exalam. Não fiquei muito tempo em nenhuma delas, mas ainda no breve período que passei notei muitas camisas, bandeiras, referências diversas em diversos pontos. É uma atmosfera bem bacana e chamativa até porque, como já dito, nem Sporting e nem Real Oviedo figuram entre os times grandes, e não detêm muitas façanhas dentro de campo para ostentar. Mas conseguiram construir um patrimônio material bem decente e um histórico que ajuda a engrandecer o futebol.

Informações práticas
A visita ao estádio do Real Oviedo custou 5 euros, e a do Sporting Gijon ficou por 7. Eu agendei as duas antecipadamente, por email (visitas@realoviedo.es, elmolinontour@realsporting.com). Os tours acontecem em horário comercial e são influenciados pela realização de jogos e outros eventos. Tanto o Carlos Tartiere quanto o El Molinón ficam distantes das regiões centrais de suas cidades - ou seja, para quem estiver fazendo turismo e quiser combinar o passeio com outros pontos, o táxi será necessário.

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