A essa altura todo mundo já sabe, mas não custa nada reforçar: a AFA (a CBF da terra de Carlos Alberto Galván) decidiu impor uma virada de mesa no Campeonato Argentino, que vigorará a partir da temporada 2012/3. A medida prevê que a partir desta temporada em questão o campeonato local passará a ter 40 times, em oposição aos 20 atuais. O inchaço será feito com a promoção de praticamente todos os times que disputarão a próxima edição da Nacional B (a Série B local) - apenas quatro, que cairão para a terceirona, não subirão de nível.
A medida tem como objetivo óbvio e descarado salvar o River Plate. O time millionario foi rebaixado no mês passado após perder um playoff com o Belgrano que definia quem jogaria a elite. Vale ressaltar que o River "fez esforço" pra cair: a Argentina adota (ou adotava até essa virada de mesa) o sistema de promedio, no qual o rebaixamento é definido pela média de pontos obtidos pelos clubes nas últimas três temporadas. Ou seja, não basta um único campeonato ruim para ser rebaixado, mas sim uma sequência na draga.
Temerosa que o tradicionalíssimo clube ficasse por muito tempo no purgatório futebolístico, a AFA deu um jeito para que voltemos a ter o River na elite logo logo. Criou assim um monstrengo. A Argentina, que utilizou o sistema de pontos corridos antes do Brasil, terá a partir de 2012/3 um campeonato em que os clubes serão divididos em cinco grupos com oito equipes cada. Parte passará para a próxima fase, a partir da qual se iniciará um mata-mata até a determinação do campeão.
No Brasil, o clube que ficou tachado por ter sido beneficiado com viradas de mesa foi o Fluminense. Mas a medida argentina relembra, na verdade, algo que não teve como destinatário o tricolor carioca, e sim o gaúcho.
Em 1992, o Grêmio jogava a segunda divisão nacional. O clube fez péssima campanha no Brasileirão de 1991 - apenas três vitórias em 19 jogos -, ficou em penúltimo lugar e amargou o descenso. Que realmente ocorreu; não houve virada de mesa. O Grêmio jogou, pra valer, a Série B de 1992, tendo como adversários clubes do naipe de Picos-PI, Confiança-SE e Itaperuna-RJ.
Pois bem: apesar de todo este quadro, a campanha do gigante gaúcho era péssima. O time chegou a se classificar para a segunda fase do torneio, mas sua trajetória não empolgava ninguém. Havia um real risco de se ter o Grêmio jogando a segundona por dois anos seguidos.
O que decidiu a CBF, então? Que a segunda divisão de 1992 passaria a ser o campeonato mais camarada do mundo! De seus 32 clubes, 12 subiriam para a elite brasileira no ano seguinte. O detalhe é que isso foi atestado depois do campeonato em curso, ou seja, times foram promovidos sem sequer perceberem que estavam alcançando tal feito.
Assim, o Grêmio conseguiu subir de divisão. Com ele, potências como União São João e Desportiva-ES também chegaram à elite.
E a pataquada foi coroada quando da decisão do formato do Brasileirão de 1993. Sem respeitar qualquer critério técnico, a CBF decidiu que o Nacional daquele ano teria quatro chaves - duas para a elite, nas quais não havia rebaixamento, e duas para o restante. O Grêmio ficou no grupo superior.
É isso que lembramos quando vemos o que a Argentina acabou de decidir. Tempos que, se tinham jogadores brilhantes em campo e festas na arquibancada incomparáveis às atuais, no que se refere ao extracampo estão longe de merecerem qualquer espécie de saudosismo. O Brasil evoluiu, e a Argentina, infelizmente, foi na mão oposta.
E para fechar o post, ilustro o texto com o vídeo de Vitória x Paraná, duelo entre os times da "não-elite" do Brasileiro de 1993 que colocou o time baiano nas semifinais do torneio maior:
Nenhum comentário:
Postar um comentário