sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Mantra

Foram só dois jogos. Só dois jogos, só dois jogos, só dois jogos. Esse mantra pode e deve ser repetido por todos os santistas de forma incessante nos próximos dias, para que não entremos num surto de autoconfiança exagerado.

Mas se Robinho fizer no restante da temporada o que mostrou nesses dois jogos desde que voltou à Vila, contra Londrina e Corinthians, o santista pode ter o direito de sonhar com coisas boas em 2014.

Em poucas palavras, pode-se dizer que ele jogou demais nas duas partidas. Se o Corinthians saiu vitorioso da Vila, em nada a culpa pode ser atribuída ao camisa 7 - até porque, como todos sabem, ele deixou o campo antes de Gil anotar para o time do Parque São Jorge. Contra o Londrina, outra atuação de gala, materializada com o gol que abriu o placar e com o passe para o segundo, que liquidou a fatura.



Robinho foi bem não apenas por ser um atleta rápido e habilidoso, suas principais características. Ele também cumpriu um papel tático importante e quebrou a letargia que há (havia?) na parte ofensiva do meio-campo santista. Porque se por um lado Arouca está fazendo a sua melhor temporada desde 2010, pelo outro Lucas Lima é irregular demais para ser o 10 (metafórico, não literal, já que a camisa está com Gabriel) peixeiro. E o 4-3-3 teórico formado por Damião, Gabriel e Thiago Ribeiro não estava trazendo ao time a ofensividade esperada.

A versatilidade de Robinho está atendendo inclusive a um dos fatores mais mencionados quando de sua contratação: o "ele vai fazer o Damião jogar". O ex-colorado não marcou nesses dois jogos, mas está com uma postura diferente - ao menos, não foi o bonde presente em tantas outras partidas nessa temporada. Não tardará a estufar as redes, seja após um passe de Robinho ou seja por mérito próprio, fortificado pela autoconfiança que o ídolo está trazendo a todo o grupo. Foram só dois jogos, vamos lá com o mantra de novo. Mas que o Santos é outro, isso não se discute.

E para manter a serenidade, nada melhor do que lembrar de Elano. Ele voltou ao Santos em 2011 após seis anos longe da Vila. Não houve nenhum santista sequer que tenha reprovado a contratação. Ele era menos craque e ídolo do que Robinho, mas havia jogado muito bem e sempre se apresentado como um cara sério, profissional, responsável, que jamais desrespeitaria a camisa que o levou à seleção. Pois bem: depois de uns jogos iniciais ótimos, Elano foi definhando de maneira irreversível até acabar (merecidamente) enxotado da Vila.

É pouco provável que isso aconteça com Robinho. Uma dosezinha de cautela, porém, não faz mal nenhum.

- Pitacos adicionais para fechar a análise sobre o jogo de ontem: Thiago Ribeiro perdeu dois gols absurdos, feitos, inacreditáveis, bizarros. E que poderiam ter feito falta - afinal, o Santos superou o Londrina por apenas um gol de vantagem, visto que o jogo no Paraná fora 2x1 para o time da casa. Quando o time perde e o goleiro toma um frango, a culpa vai toda para ele, ainda que tenha feito milagres no restante da partida. Será que essa responsabilidade seria direcionada a Thiago se o Santos fosse eliminado ontem?

- Menos de 5 mil pagantes estiveram na Vila ontem. Em um jogo decisivo de um confronto aberto, com o time titular em campo, a presença de Robinho, com risco pequeno de violência e sem transmissão pela TV. Há inúmeros motivos que explicam a historicamente baixa presença de público na Vila. Mas é preciso reconhecer que a apatia/desinteresse do santista é um deles.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Sobre "previsões" e "desrespeito"

A piada do dia é essa imagem abaixo:



Como todos sabem, o que aconteceu no Maracanã passou longe de ser um "coletivo de luxo". O Fluminense, que poderia perder por até dois gols de diferença, sofreu um inusitadíssimo 5x2 para o América-RN e acabou eliminado da Copa do Brasil. Foi um triunfo de um time que hoje é o 13º da Série B sobre o quarto colocado da primeira divisão. Trata-se de um resultado que será lembrado para sempre (especialmente pelos rivais do Flu) e que integrará a já célebre galeria de vexames dos times grandes na Copa do Brasil, que contém Palmeiras x ASA, Santos x CSA, Vasco x Baraúna e outros.

Mas o que quero abordar aqui não é o resultado propriamente dito, e sim as reações que a imagem que abre esse post despertou. Acho válido, mais que válido, fazer piada sobre o texto, destacar o inusitado do fato, a imprecisão da manchete e tudo o mais. O que critico é quem enche o peito, AGORA, para dizer que houve desrespeito do jornal (que nem sei qual é, aliás) e que o confronto entre Fluminense e América-RN estava aberto.

Não, meus caros. O duelo NÃO estava aberto. Estava mais do que decidido. Um time grande vai à casa de outro menor e ganha por 3x0. O jogo de volta, nesses casos, é apenas para cumprir tabela. E pronto! É isso que os fatos dizem. É assim que a história do futebol mostra. Cansamos de ver times reservas indo a campo nessas condições e, mesmo assim, garantindo a vaga.

Um exemplo recente: pela Liga dos Campeões desse ano, o futuro campeão Real Madrid fez 6x1, na Alemanha, sobre o Schalke 04 no jogo de ida das oitavas de final da competição. Na volta, o time espanhol não teve dúvidas e mandou uma equipe reserva a campo. Vejam essa chamada do R7 no dia do jogo: "Classificado", Real Madrid joga com reservas na Liga dos Campeões. O Real mandou um expressinho para um duelo eliminatório de sua competição mais importante que disputava. E avançou - como deveria realmente ser.

Se o Schalke fizesse um milagre e despachasse a equipe de Cristiano Ronaldo, o jogo deveria ser interpretado da forma exata como abri a frase: um milagre. Porque seria isso que ocorreria. E foi isso que vimos ontem no Maracanã.

E o pior de tudo é ver que muitos dos "sabichões" que, após o fim do jogo, encheram o peito para afirmar que confiavam na classificação do América, estão também investindo em outro fator para criticar a chamada do jornal que abre o post - um suposto preconceito regional, já que o Fluminense é do Rio e o América é do Nordeste.

A quem diz isso, eu pergunto: sério mesmo que vocês conseguem ver desrespeito quando um time faz TRÊS A ZERO SOBRE O OUTRO fora de casa e tem mais camisa e está em uma divisão superior? Vocês acham que se o Sport pegasse o Guaratinguetá pela Copa do Brasil e enfiasse 3x0 no interior de São Paulo, o jogo de Recife seria visto como uma partida disputadíssima de um confronto aberto? Menos, galera.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

... e o bicho vai pegar!

Robinho voltou ao Santos e deve estrear já no domingo, contra o Corinthians - o adversário que mais se 'identifica' com sua trajetória na Vila (título em 2002, cinco vitórias consecutivas naquele ano, invencibilidade histórica, aquilo que todo mundo sabe).

A negociação entre Robinho e o Santos foi arrastada. Aliás, a novela esteve longe de se iniciar agora: a cada fim de semestre, o nome do camisa 7 era sempre citado nas especulações citadas ao Peixe. Uma conversa chata, modorrenta, que nunca saía do lugar e, mais grave que isso, revelava o quanto a torcida (e a diretoria) do Santos insistia no sebastianismo. Parece que só teríamos jeito com Robinho, Diego, Elano (isso antes de 2011...) e outros que tanto fizeram sucesso no passado.

É por isso que permaneci reticente a cada vez que Robinho era especulado. Era hora de o Santos mostrar que estava em um novo momento - distante da "magia" dos Meninos da Vila (vamos mesmo crescer com base em crendices, esperando que a natureza faça a sua parte?), e também de ídolos aos quais devemos ser gratos, mas que devem permanecer na história, e não no presente.

Somava-se a isso o fato da má forma de Robinho nos últimos anos. Desde que saiu do Peixe em 2010, ele não brilhou. Foi vítima de um Milan decadente como um todo, mas ele também não fez sua parte. Escondeu-se no time italiano, não foi (merecidamente) para a Copa de 2014, fez pouquíssimos gols e jogos brilhantes.

Mas...

Não se pode jogar fora a relação entre clube e ídolo. E não se discute que Robinho é, sim, um dos maiores jogadores da história do Santos - eu o cravo como o segundo maior da história do clube depois de 1970, atrás apenas de Neymar. Sua simbiose com a torcida, aliás, era maior do que a construída com o hoje camisa 11 do Barcelona. Neymar era reverenciado pela torcida santista por ser um craque; Robinho era por, além de jogar pra caramba, ser um caiçara, um cara da baixada, um moleque com cara similar à de tantos que estavam ali se espremendo nas acanhadas arquibancadas da Vila.

Ele fez o que fez em 2005 - um episódio lamentável - e, desde então, muitos santistas passaram a odiá-lo. Não os condeno. Foi realmente irritante ver um cara com contrato com o clube se recusando a entrar em campo para forçar sua negociação. A questão é que quando colocamos na balança, o que Robinho fizera para o Santos até então era muito, mas MUITO superior à besteira daqueles meses de negociação com o Real Madrid.

Por isso não há como não celebrar a chegada de Robinho agora. Pode dar errado? É evidente que pode. A contratação de Elano em 2011 era um negócio com potencial de risco muito menor e acabou mal sucedida. Mas é possível acreditar que as coisas podem ser melhores agora.

E, putz, se o Santos vencer o Corinthians com uma boa atuação dele... vai ser difícil conter a idolatria.

Foto: Ricardo Saibun / Santos FC

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

O estranho caso dos goleiros reservas

O Santos jogou ontem pela Copa do Brasil e perdeu para o Londrina por 2x1, fora de casa. O time que representou o Peixe era composto integralmente por jogadores considerados reservas. Dessa vez, diferentemente do que ocorre em tantos outros casos, até o goleiro não era o principal. A titularidade ficou com Vladimir - que acabou falhando no primeiro gol da equipe paranaense.

Vladimir é reserva de Aranha. Assim como fora de Felipe e Rafael. Integra a equipe profissional desde 2009. E, apesar de poder dizer que tem no currículo títulos como a Libertadores de 2011, a Copa do Brasil de 2010 e outros, tem apenas nove - isso mesmo, nove - jogos pelo Peixe, segundo o site oficial do clube. Apenas a título de comparação, o atacante Rildo, que chegou esse ano e não desfruta do status de titular, já tem 17 partidas em seu cartel.

O caso de Vladimir é curioso, mas está longe, bem longe de ser o único. Nosso futebol está cheio de goleiros reservas que permanecem anos e anos nos mesmo time, sempre na condição de reserva, assistindo a tudo direto do banco, vendo a vida passar enquanto as coisas acontecem para os outros.

Exemplos? Um célebre é o de Júlio César, o jogador com mais títulos na história do Corinthians. Ele fez parte do elenco principal do clube do Parque São Jorge entre 2005 e o mês passado e, embora tenha sido titular em algumas ocasiões, passou a maior parte da carreira no banco de gente como Fábio Costa, Felipe e, mais recentemente, Cássio. Outros igualmente famosos são os suplentes de Rogério Ceni no São Paulo, categoria que consagrou os nomes de Bosco e Roger - este, quando enjoou de ficar no banco no Morumbi (depois de quatro temporadas), correu para o Santos, onde... foi reserva do Fábio Costa.

Tendo a achar que a trajetória de um goleiro conformado em ser reserva de um time grande era resultado da falta de ambição do sujeito. Sim, porque o cara que tem bola para ser reserva de Santos, São Paulo e Corinthians tem todas as condições de brigar pela titularidade em equipes de outro porte, ou de dar uma guinada na carreira - por exemplo, como fez Diego Cavalieri, insatisfeito em ser banco de Marcos, que acabou virando ídolo no Fluminense e campeão com a seleção.

É claro que há situações opostas. Os citados Marcos e Rogério Ceni comeram um bom tempo de banco para depois se consagrarem e entrarem na galeria dos maiores nomes da história de seus times. Porém, o que aconteceu com os pentacampeões foi exceção. É mais comum vermos goleiros reservas que esperam, esperam, esperam e depois veem a titularidade parar nas luvas de um sujeito recém-contratado.