Eleições e o duelo Palmeiras x Corinthians (ninguém sabia que esses eventos seriam realizados?) fizeram com que o jogo entre São Paulo e Goiás, pela última rodada do Campeonato Brasileiro, fosse transferido para uma segunda-feira. A marcação de uma partida do Brasileirão para o menos futebolístico dos dias da semana gerou reações: Muricy Ramalho reclamou do calendário, Antonio Carlos, zagueiro tricolor, disse que jamais havia jogado em uma segunda-feira, o jornalista Mauricio Stycer twittou dizendo que a partida representava um "desdobramento da última fronteira" e a Folha de S. Paulo até publicou uma estatística com o desempenho histórico do time do Morumbi em segundas-feiras.
É claro que futebol profissional numa segunda-feira é um negócio estranho. Mas para mim e outros da minha geração há algo familiar nisso. Porque na década de 1990 os jogos na segunda não eram tão raros assim.
O Campeonato Brasileiro de 1991, por exemplo, tinha regulares jogos às segundas-feiras. Era uma forma - acredito eu - de distribuir melhor as partidas e possibilitar mais transmissões pela televisão. Cabia à Bandeirantes exibir os confrontos. Lembro bem de um Santos 3x1 Sport, vencido pelo Peixe de virada, que o YouTube se encarregou de deixar claro que o jogo tinha se desenhado na minha memória correspondia à realidade (aliás, o que mais me surpreendeu ao rever os lances dessa partida é a qualidade - sem ironia - do gramado da Vila. Para mim, o relvado do Urbano Caldeira tinha sido um pasto permanente ao longo de todos os anos 1990, antes da reforma de 1996).
Mas a experiência do Brasileirão às segundas foi curta. O que ligou, pra valer, futebol e segunda-feira nos anos 1990 foi a transmissão do Campeonato Carioca, também na Bandeirantes. A cada semana, as partidas do estadual do Rio eram exibidas nacionalmente e conduzidas pela trinca Januário de Oliveira (foto) - Gérson Canhotinha - Addison Coutinho. Em tempos pré-internet, era ali que os que não moravam no Rio tinham a oportunidade de conviver com um estadual que não o "seu". E o Cariocão da Band nos anos 1990, hoje, ganhou uma aura cult entre quem era moleque naquela época. Até hoje os bordões de Januário de Oliveira são lembrados por aí.
É claro que não dá para não condenar a realização constante de jogos às segundas-feiras. Nem só por uma questão de tradicionalismo, mas pelo próprio calendário - como as rodadas precisam acontecer nos fins de semana, não há como os jogos se fixarem apenas um dia depois. Mas o saudosismo que distorce, sempre ele, diz em algum canto que esses jogos no mesmo dia da Tela Quente não são tão errados assim.
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