sexta-feira, 26 de agosto de 2016

A obrigação de Neymar não era maior do que a de Marta

A Olimpíada acabou, e o futebol masculino, que começou o torneio (justamente) massacrado, acabou campeão, enquanto o feminino, tão (justamente) celebrado no início, terminou de mãos abanando.

Temos então condições melhores para refletirmos um pouco mais sobre as cobranças feitas a cada um dos times, a realidade das duas modalidades, e até onde as críticas são pertinentes.

O ataque que mais apareceu comparava salários e estrutura de que dispunham homens e mulheres e fazia uma constatação aparentemente inderrubável: por terem muito mais dinheiro, os homens teriam a obrigação de jogar mais bola do que as mulheres.

Acontece que esse discurso não é tão sustentável assim quanto possa parecer.

Para desenvolver meu raciocínio, vou a uma metáfora.

Toda vez que um clube brasileiro vai jogar na Bolívia o tema altitude entra em debate. Discute-se os efeitos que os 3 mil e tantos metros acima do mar causam sobre os jogadores e, mais que isso, fala-se do quanto que os jogadores locais, habituados com o ar rarefeito, tiram vantagem da situação. Não é desculpa esfarrapada: o bicho pega mesmo com quilômetros de altitude e o desempenho esportivo é prejudicado.

Pois bem, agora imaginem se houver uma Copa do Mundo na Bolívia (o que seria bem legal, aliás). E lá se enfrentarem, por exemplo, Itália e Japão, e os japoneses vencerem de goleada. Os italianos poderão reclamar da altitude? Não. Porque, embora a altitude realmente influa, ela atacaria os dois times, estrangeiros que são, da mesma forma. E portanto não pode ser citado como um diferencial competitivo.

Creio que seja por aí que devemos iniciar os raciocínios sobre o futebol feminino. O machismo e a falta de estrutura que as jogadoras brasileiras passam é real, e é, sim, um problema grande, que precisa ser superado. Porém, é falsa - bem falsa, aliás - a ideia de que essa desvalorização ocorre apenas aqui.

Por exemplo, vejam o que Marta diz em uma ótima entrevista que concedeu à revista TPM (link aqui). "Quando fui jogar na Suécia ganhava em torno de R$ 3 mil. Tendo que ajudar a minha família, não sobrava muito. As pessoas acham que o contrato das jogadoras que se destacam chega perto do contrato de um Neymar, mas isso é fora da realidade do futebol feminino". Ou seja, Marta e as grandes atletas, dentro e fora do Brasil, não ganham grandes salários.

Além disso, as ligas de futebol feminino no exterior não são das mais estruturadas. Os EUA, país que é, de longe, o mais bem-sucedido na modalidade, conta com um campeonato recém-criado, estabelecido em 2013, que tem apenas 10 times (o masculino tem 20) e uma baixa média de público. Na Europa, as duas últimas finais da Liga dos Campeões feminina foram realizadas em estádio que comportavam pouco mais de 20 mil torcedores.

A "falta de apoio" pela qual passam as atletas brasileiras do futebol não chega a ser uma exceção, portanto. O futebol feminino é relegado a segundo plano em todo o mundo.

Saio disso e passo agora a um debate meramente esportivo. Cobranças excessivas nunca fazem bem, mas igualmente danosa é a adulação demasiada, a "passada de mão na cabeça". Será, mesmo, que o time brasileiro mereceu aplausos após não conseguir furar a retranca de um adversário sobre o qual havia feito 5x1 três jogos antes? Será, mesmo, que não cabe criticar o desempenho de uma equipe incapaz de vencer o Canadá - que, embora não seja tão frágil quanto a equipe masculina do esporte, está longe de ser uma potência? Será que teríamos essa condescendência se fosse a equipe masculina a perder o bronze nessas mesmas circunstâncias? Será que é positivo para a seleção feminina brasileira ser eternamente vista como um time de "coitadinhas", de "guerreiras",  e não como uma equipe esportiva qualquer, que acerta e erra, como todas?

Pra arrematar, retomo a frase "Marta é melhor do que Neymar", tão falada no início da Olimpíada. A comparação nasce bobinha em sua origem, por comparar pessoas que praticam esportes em condições diferentes. Mas vá lá, dá para estabelecer um parâmetro para esse tipo de comparação: é só ver o que cada um representa para a sua área de atividade. Por essa lógica podemos, por exemplo, dizer que Placido Domingo é melhor do que Gilberto Barros, já que Domingo é melhor músico do que o "Leão" é apresentador; que Carlos Drummond de Andrade foi melhor do que Lauro Corona; que Bill Gates é melhor do que Rodriguinho, ex-Travessos.

Minha opinião a respeito? É ÓBVIO que Marta é melhor do que Neymar - afinal, ela foi cinco vezes eleita a melhor do mundo, enquanto ele figurou apenas uma vez entre os três melhores.

E justamente por ser tão superior é que a obrigação de ser campeã com a seleção talvez fosse dela, não dele.

Um comentário:

dakodauhles disse...

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