quinta-feira, 5 de março de 2015

Demissão de Enderson, "alma do torcedor", e lá vamos nós começar tudo de novo

OK, vamos lá: Enderson Moreira foi demitido do Santos hoje.

Aliás, foi demitido não. Nem isso dá pra saber. A bizarrice começa aí. O cara treinou o time de manhã, deu coletiva normal à imprensa, na hora do almoço começam a pipocar os boatos sobre sua saída e o presidente Modesto Roma Júnior ratifica, à tarde, o desligamento. Mas joga à imprensa: ele não foi demitido. Saiu porque quis. Então um cara que deu treino normal no início do dia, quando chegou o almoço, talvez motivado por uma azeitona com caroço mais volumoso do que devia ou por um refrigerante sem gás, resolveu quebrar seu vínculo contratual com o clube que o empregava.

Vínculo esse que vinha resultando um trabalho que, sei lá, ficava numa faixa entre 6,5 e 8, dependendo do gosto do freguês. O Santos não estava encantando ninguém - mas também estava longe de fazer feio. A classificação ao mata-mata do Paulista já está encaminhada e a forma do time sugere um Brasileirão que, se não de título e nem de vaga na Libertadores, ao menos não é (seria?) de luta contra o rebaixamento.

Mas a parceria acabou. E mesmo com o Santos estando invicto neste ano.

Não há, como já adiantado, uma explicação precisa para a saída de Enderson. Mas todos os caminhos apontam para um rumo só: problemas entre ele e os jogadores da base, mais notadamente Gabigol. O choque entre o treinador e o atacante era público e notório e, coincidentemente ou não, Gabriel desceu bem de nível a partir do início do segundo semestre de 2014.

E, bem, chegamos ao cerne do meu texto. Eu já havia adiantado - em post de janeiro - a linha do raciocínio que adotarei a partir daqui. O fato de que, no Santos, a virtude atrapalha. O peso de que o raio já caiu duas, três, vezes, e aí se espera que caia sempre, sempre e sempre.

Perdoa-se praticamente tudo de um técnico do Santos. Menos que ele não dê à base a moral que parte de diretoria e torcida esperam. O quanto é isso? Sei lá, é difícil quantificar. Mas não é pouca coisa.

É irritante, triste mesmo, ver um técnico sair do time - e para isso nem importa tanto ele ter sido demitido ou ter pedido demissão - por não atender a um requisito metafísico, celestial, supersticioso ou o diabo. A base do Santos já contribuiu ao longo da história? Ô! Demais! Possivelmente mais do que qualquer outro time brasileiro. Mas não é por isso que devemos ser reféns dela. Não é por isso que as virtudes (ou defeitos) táticos e técnicos do "professor" devem ser jogados a segundo plano.

Para que não pareça implicância/delírio meu, analisem essa frase de Modesto na coletiva de hoje: "Não adianta contratar um treinador que não tenha a alma do torcedor santista. Temos achar um treinador que se engaje no perfil do clube". O que é essa alma? Uma matéria de A Tribuna sugere os caminhos: "Para definir o novo treinador, o Peixe analisa três fatores - vocação ofensiva, experiência em lidar com jogadores da base e salário baixo"

É isso aí rapaziada. "Vocação ofensiva" e "experiência em lidar com jogadores da base". Afinal, vale mais perpetuar um estereótipo do que contratar um profissional que entenda de futebol e, ao observar o time, identifique se é o caso de montar time que vá pra cima ou não, que utilize a base ou contrate, né não?

Sei lá, se essa é a "alma do torcedor santista", me senti um pouco mais desalmado hoje. Pra mim, a alma do santista é a de quem gosta de ver o time vencer e mostrar um futebol consistente - seja com contratação ou base, seja com ofensividade ou com espera.

E pra fechar, leio que dois dos mais cotados para a vaga são Dorival Júnior e Wagner Mancini. Os dois passaram recentemente pelo Santos. O que achei do trabalho deles? O de Mancini foi médio, quebrou um galho; já o de Dorival posso resumir com uma só palavra: ESPETACULAR. Foi o melhor trabalho de um técnico que vi no Santos desde que comecei a acompanhar o time pra valer, a partir de 1991 (posso depois fazer outro post para desenvolver melhor esse ponto de vista).

Acontece que isso não credencia em nada os dois para agora, em 2015, com o contexto que estamos vivendo. Não esqueçamos que, ano passado, Mancini foi rebaixado e Dorival quase sofreu a degola no Brasileirão.

Mas, bem, acho que de nada adianta ficar reclamando. Logo logo um deles (ou outro de capacidade técnca similar) estará na Vila. E um pouquinho mais logo logo, estará no olho da rua e brigando nos tribunais com o Santos por multas e afins. E assim a vida segue.

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