sábado, 1 de junho de 2013

Aqui tem que ser trabalho, meu filho

O acaso e a sorte fazem parte dos times campeões. Com o Santos de 2011 não foi diferente. Ao mesmo tempo em que a experiência com Adilson Batista na Vila Belmiro se confirmava como uma má ideia, Muricy Ramalho se enrolava no Fluminense e pedia demissão do tricolor do Rio.

Era uma conspiração dos astros. Um fato ocorrido a mais de 500 quilômetros de Santos poderia fazer com que o time de Neymar se resolvesse na Libertadores e, ainda que não levantasse a taça, ao menos revertesse o vergonhoso vexame que seria uma eliminação na primeira fase em um grupo que tinha também Cerro Porteño, Deportivo Táchira e Colo Colo.

A correção veio. Muricy estreou em um épico jogo, o 2x1 sobre o Cerro no Paraguai, decisivo para que o Santos se mantivesse vivo no torneio (além de ser a última boa partida de Paulo Henrique Ganso pelo Peixe). A partir daí, construiu um time sólido, aguerrido, que no limite (venceu TODOS os mata-matas ganhando um jogo pelo placar mínimo e empatando o outro) trouxe a histórica Libertadores para a Vila Belmiro.

Acontece que, aí, no momento em que deu a entrevista coletiva após a decisão contra o Peñarol, Muricy falou uma frase-chave: "eu merecia esse título".

Ali, naquela declaração de quatro palavras, o técnico descarregou uma frustração que o acompanhava havia anos. E indicava: chegara ao auge. Ao ápice da carreira de um treinador de futebol no Brasil. Sim, há o Mundial de Clubes, mas este é um torneio mais na base da fatalidade, do improvável. Há também a seleção, recusada por ele um ano antes.

A impressão que tenho, dois anos depois daquilo, é que a frase foi a sina para deixar claro que o "aqui é trabalho, meu filho" já não mais faria sentido.

Porque Muricy deixou de trabalhar. Deixou de criar alternativas táticas e técnicas dentro do Santos que comandava. Deixou de olhar para as categorias de base do clube e para outros times na busca de reforços de qualidade. Deixou de observar os adversários e de estudá-los. E deixou o Santos à mercê de um sistema que não funcionava, não fazia bem a ninguém. E nem, claro, ao Neymar. Ou alguém discorda que, apesar de permanecer gênio-mito-melhor-jogador-do-Brasil-na-atualidade o moleque rendeu menos em 2013 do que fizera em anos anteriores?

E é por isso que a demissão de Muricy, anunciada ontem, foi benéfica ao Santos. Não, eu não espero um técnico que resolva todos os problemas de uma hora para outra; quero simplesmente um cara que queira trabalhar, se desenvolver e desenvolver o time que comanda. Alguém que não se sinta no auge. Alguém que saiba que o topo sempre pode ser alcançado mais e mais vezes.

Um comentário:

Fabricio disse...

Eu acho que ele carrega e sempre carregará a decepção de ter sido barrado na seleção pelo patrocinador do Fluminense.

Ele merecia ter passado pela seleção há muito tempo. Em 2010 ele colocaria meio time do São Paulo tri em 2008 e teríamos feito melhor naquela Copa.