quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Nossa complacência com os erros de arbitragem que protegem os times pequenos

Tá certo que a maior parte das pessoas nem sabe que teve jogo dos estaduais ontem (eu próprio não lembrava), mas o Vasco x Barra Mansa em São Januário, que acabou 1x1, foi marcado por um episódio curioso: aos 45 do segundo tempo, o Vasco marcou o gol que decretaria a sua vitória. O tento foi marcado em condição legal, mas acabou anulado pelo juiz.

Não, não é o primeiro caso de jogo com erro de arbitragem (e nem o erro de arbitrgem mais importante de ontem), mas quero debatê-lo por ter identificado nele - ou melhor, na ausência total de repercussões sobre ele - a comprovação de algo que já tenho sacado há um tempo.

Que é o seguinte: erros de arbitragem contra times menores geram muito, mas muito mais burburinhos do que aqueles em que o time grande é prejudicado.

Fica fácil perceber isso na comparação entre a (não) polêmica do jogo de ontem e o estardalhaço feito após a partida do último fim de semana, em que o Corinthians venceu o Botafogo de Ribeirão Preto por 2x1. Ambos os gols corintianos foram de pênalti - e os dois pênaltis foram pra lá de controversos. O juiz da partida, Marcelo Alfieri, foi afastado pela Federação Paulista por conta de seu péssimo desempenho no Itaquerão.

Algum corintiano mais fanático poderia explicar a distorção entre os dois casos na linha do "todo mundo persegue o Corinthians, contra a gente é tudo mais difícil". Mas, e nem preciso me estender nisso, essa argumentação não dura cinco minutos. O fenômeno se repete em tudo quanto é ocasião similar - tente se lembrar qual foi o último escândalo de arbitragem que envolveu um erro contrário ao time grande. Não falo do erro em si, mas de um rebuliço. Dificilmente você lembrará.

Acredito que essa discrepância reside no nosso tão distorcido senso de justiça. Temos dó dos times pequenos, especialmente os mais tradicionais (onde o Botafogo de Ribeirão se encaixa), e por isso queremos vê-los em destaque, principalmente aprontando contra as equipes grandes. Daí desenvolvemos um espírito meio Robin Hood - tudo bem roubar um Corinthians aqui, um Grêmio ali, um Vasco acolá. Mas não o oposto, pelo amor de deus. Aí já é vandalismo, para usar um bordão consagrado em 2013.

Não sei qual será o destino de Raphael Silvano Ferreira, o apitador de Vasco x Barra Mansa. Pode ser que ele até receba uma punição maior do que seu colega paulista. Mas, ao menos por enquanto, escapou de toda a pressão pública que Marcelo Alfieri recebeu.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Quem entendeu Aranha?

Quando começou a leva de processos dos jogadores insatisfeitos com os salários atrasados no Santos, minha postura inicial foi muito simples: defesa ampla, geral e irrestrita dos atletas. Clube (ou qualquer empresa, aliás) que não paga o que promete tem mais é que responder na justiça. Acho que já estamos, todos nós, bem maduros e crescidinhos e nem é preciso gastar linhas explicando que futebol é profissional, que os caras precisam pagar contas e assim por diante.

Mas o que parecia simples foi ganhando contornos estranhos no caso de Aranha. Primeiro com as declarações dele em 21 de janeiro, quando participou de audiência na ocasião. Lá disse que a procura por outros arqueiros - Jeferson, Ochoa e Renan foram publicamente ventilados - deixou claro para ele que o ciclo no Santos já havia se esgotado. Hum.

E hoje, ao se apresentar ao Palmeiras, Aranha falou com todas as letras: "não estou saindo do Santos por causa dos salários atrasados". E voltou a repetir o papo do ciclo em esgotamento - não sem antes, de maneira contraditória, declarar respeito a diretoria e torcida peixeira.

Confesso que acabei não entendendo nada.

Processar um clube que deve salários, como eu já disse, é algo mais do que compreensível. O que é estranho é brigar na justiça com a alegação de que a contratação de outros atletas o afetou. E, dias depois, fechar com um clube que tem um titularíssimo no gol: no caso, Fernando Prass.

Alguém explica?