quinta-feira, 17 de abril de 2014

Estrago seu trabalho amado em três dias

O pênalti que Neto desperdiçou custou ao Santos o título paulista. Mas, ainda que tivesse sido convertido e o restante da disputa desse a taça ao alvinegro, não seria suficiente para apagar a luz amarela que se acendeu na Vila Belmiro desde a primeira partida da decisão do estadual. A realidade é que a final do Paulistão e o confronto entre Santos e Mixto pela Copa do Brasil mostraram que o trabalho de Oswaldo de Oliveira pode não ser a coisa boa que pareceu no início.

O Santos começou o ano bem demais. O time tinha características interessantes: era ofensivo, mas sem se descuidar atrás. Na verdade, o time parecia se destacar pelo PREPARO FÍSICO. Às vezes, parecia que o Peixe mandava 20 atletas a campo, contra 11 dos adversários. Isso se via bem na obtenção da segunda bola: tudo quanto é rebote ficava nos pés do Santos, dominado por jogadores que apareciam aqui e ali, se multiplicando diante da defesa inimiga.

Era um 4-4-3 que se transformava em 4-2-4, ou seja lá qual for a distribuição numérica. O que importa é que o time todo ia pra cima. Cícero agia como o maestro, o distribuidor de bolas; Arouca (em sua melhor temporada desde 2010) continha os adversários e se mandava para a frente com a desenvoltura que nos encantou naquele ano de título estadual e da Copa do Brasil; Geovânio era uma flecha, incisivo e preciso pela lateral; Thiago Ribeiro, embora irregular, desempenhava bem sua função; até mesmo Damião não comprometia tanto assim; Gabriel evoluía a cada partida e, se ainda assim nada funcionasse, poderíamos recorrer a Rildo no banco de reservas.

Foi dessa forma que o Santos fez a melhor campanha da primeira fase do estadual, goleou o Corinthians e chegou favoritíssimo para a etapa decisiva do torneio.

Mas aí veio a semi com o Penapolense e um sufoco bem maior do que o esperado. Depois, a decisão contra o Ituano e o apagão que todos viram. Contra o Mixto, um jogo pra lá de sem-vergonha em que o 3x0 traduziu como poucas vezes a frase "não fez mais do que a obrigação".

É esse retrospecto recente que traz as incertezas à Vila. Até duas semanas atrás, não seria nada absurdo cravar o Santos entre os principais favoritos ao Brasileiro - não podemos esquecer que se trata de um torneio longo e que tradicionalmente prejudica quem está na Libertadores. Agora, embora eu ainda ache que o time é bom e tem condições de fazer um bom papel, essa certeza não é das mais fortes. Dúvida é a melhor palavra para descrever o sentimento.

Damião e Geovânio
Leandro Damião se tornou o alvo principal da torcida santista e, mais que isso, uma explicação pronta para os problemas do clube. Não ganhamos do Ituano, não fizemos cinco gols em outro jogo? Basta culpar a má forma do cara, e - isso é importante - lembrar a cada instante que ele custou R$ 42 milhões e que a transação que o levou à Vila é mais do que controversa.

OK, não vou aqui forçar a barra na "do contrice" e dizer que Damião está jogando bem. Não, ele não está. Hoje, HOJE, é menos jogador do que Gabriel e nem está muita coisa á frente de Stéfano Yuri, a revelação da Copinha. Um banco para ele não seria mal nenhum. A questão é que é equivocado transferir a ele toda a responsabilidade pelos insucessos. Ontem, por exemplo, ele não jogou. E o Santos foi mal da mesma forma. Há mais problemas do que Damião.

E um deles atende pelo nome de Geovânio. Aliás, serei mais incisivo: a "decadência" (ô palavrinha forte, mas não pensei em outra) do Santos nessas últimas semanas tem tudo a ver com o declínio do Caveirinha. O moleque que começou o ano voando baixo, vestindo a 10 e sendo o melhor jogador do time, hoje é um arremedo do que já foi. Não identifico motivações táticas para o problema, acho que não é por aí. Também nunca ouvi falar nada relacionado a baladas ou a outros fatores que são apontados como as causas da diminuição do futebol de sujeitos que estouram com tudo. A realidade é que Geovânio está menos dinâmico, menos preciso, menos participativo. Não tem chamado o jogo como fazia.

Acredito que é o caso de Oswaldo apostar todas as suas fichas na reabilitação do moleque, que é bom jogador e vinha sendo o craque do time no Paulista. Pode ser ele a saída para que o trabalho amado de OO não vá para o brejo.