quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Rogério Ceni, o nosso Bismarck

Depois de um longo período de hibernação, eis que retorno a este espaço digital. Meu afastamento se prolongou mais do que eu desejava por conta do nascimento de minha pequena Luísa, que não estava no Canadá, mas sim em Catanduva, na barriga da mãe.

Agora que minha vida começa a retornar aos eixos, posso me dar ao luxo de dedicar meu tempo a questões efêmeras, como o Paulistão. Nesta quarta à noite, tive o desprazer de assistir ao empate do São Paulo com o Bragantino. Confesso que nunca imaginei que um jogo de seis gols pudesse ser tão maçante.

As equipes se mostraram bastante limitadas, principalmente o Tricolor em seu setor defensivo. A bem da verdade, tivesse o Bragantino atacantes competentes, teria enfiado uns seis gols na desarranjada zaga são-paulina. É justamente sobre esse assunto que quero comentar, e não sobre o resultado em si, que é o de menos.

O que me chamou a atenção nessa partida - e em outras do São Paulo nesta temporada - foi o enorme impacto provocado pela ausência de Rogério Ceni na meta. Alguns tricolores fanáticos talvez fiquem indignados com o que vou dizer, mas é preciso quem alguém o faça enquanto ainda é cedo.

No meu entender, na mesma medida em que trouxe benefícios ao São Paulo, Rogério também trouxe uma imensidão de prejuízos. O maior desses males foi tornar o time dependente de seu enorme carisma.

Nos últimas apresentações do Tricolor, ficou visível o embaraço da zaga nos momentos em que estava com a bola. Com Rogério em campo, todos sabiam exatamente o que fazer: despachar a pelota o mais rápido possível para os pés do goleiro-líbero, que se encarregava de armar a jogada para os atacantes.

Na “Era Denis”, o desespero dos defensores é visível, consumidos pela dúvida entre arriscar a armação da jogada ou o recuar para um goleiro desprovido de talento nos membros inferiores.

Essa situação, por sinal, era visível já nos primeiros anos da carreira de Rogério, mas foi se disseminando da zaga para os demais setores da equipe. Começou com os gols em cobranças de falta de pênalti, para chegarmos a situações que beiram ao absurdo, em que o goleiro deixava a pequena área para armar jogadas de bola parada no ataque – isso sem contar as temporadas em que ele ocupou a artilharia do time.

De certa forma, Rogério está para o Tricolor tal como Bismarck estave para a Alemanha, segundo bem observou Weber (não confundir com Webber da Fórmula-1). Ao monopolizar o poder em todos os setores da equipe, Ceni deixou o São Paulo desprovido de personalidade.
Rogério se tornou ele próprio a alma do time, de modo que, sem ele, o Tricolor se converteu em um amontoado de jogadores, todos carentes de liderança. Reconstruir a alma da equipe é uma tarefa para lá de complicada e não depende da vontade da comissão técnica.

Essa missão cabe unicamente à diretoria. Difícil saber se os atuais dirigentes são-paulinos reúnem condições de dar uma guinada no clube, livrando-o do lado negativo do carisma exercido por seu maior ídolo em tempos recentes.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Nem tudo é ruim

Costumo ser partidário da teoria do "o que vale são os três pontos". Até já falei a respeito aqui mesmo no blog, quando comentei o antológico Santos 4x5 Flamengo. Mas deixarei minha convicção de lado para comentar a estreia do Santos na Libertadores.

Sim, o Santos perdeu para os bolivianos do The Strongest. De virada e com um gol no finalzinho (como ocorrera contra o Palmeiras). Mas há, indiscutivelmente, muitos aspectos positivos a serem pinçados da atuação do time.

Muricy mandou a campo o time em um 4-5-1. Arouca (jogou demais, demais!) e Henrique eram os volantes, Ganso ficou no meio e Ibson e Neymar atuavam pelas pontas; Borges permaneceu como referência no ataque. O esquema até que funcionou bem. O Santos abriu o marcador no começo e, ao longo da primeira etapa, levou mais perigo aos adversários do que foi atacado.

A "consagração" veio na segunda etapa. O Santos pressionou o adversário como, acredito, não fazia desde o primeiro semestre do ano passado. Acabou consagrando a linha defensiva do The Strongest e o desconhecido autor da máxima "quem não faz, toma". Levou um gol no final, quando era nítido que não havia mais pernas para correr na altitude de La Paz.

O fato é que o Santos mostrou cara de time, de uma equipe coesa, apta para encarar desafios de porte nessa Libertadores. Apesar da derrota, terminei a noite confiante.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

As galinhas d'angola do futebol

O recado veio do exterior, e foi dado entre os anos 80 e 90: além de pensar em contratar jogadores e construir estádios, os dirigentes dos clubes deveriam incluir o marketing como uma de suas preocupações essenciais. Afinal, por trabalharem com um negócio que envolve paixão e um número expressivo de consumidores, nada mais lógico do que ganhar dinheiro atendendo às demandas existentes e criando algumas outras.

O boom disso tem sido vivido no Brasil nos últimos anos. O São Paulo fundou o Batismo Tricolor, o Corinthians lançou uma camisa com fotos de torcedores, o Santos lançou um site em japonês, entre outras iniciativas.

Tudo legal, tudo bacana. O problema é que, como toda euforia, alguns tropeços acontecem. Cabeças "geniais" apressam-se e se preocupam em suprir algumas necessidades que não existem. Daí vêm frustrações, descréditos com a ciência do marketing, e, na prática, dinheiro jogado fora.

É sobre esta última ótica que deve haver uma reflexão maior. Há quem pense que marketing se resume a "expor a marca". Será mesmo? Qual o ganho de expor uma marca se isso não se reverter em mais vendas, mais exposição, mais poder de barganha para negociar um contrato de patrocínio?

Pergunto numa boa: alguém sabe qual foi o ganho real que o América-PE teve ao trazer Larissa Riquelme para a apresentação do seu uniforme, além de uma exposição rápida e fugaz? Valeu mesmo a pena?

É preciso ter mais cautela na hora de pensar o marketing. Dinheiro e investimentos sempre merecem uma reflexão mais adequada. Caso contrário, nossos times correm o risco de ficarem como o dono do posto mostrado no ótimo comercial que a Ipiranga veicula atualmente, distribuindo galinhas d'angola à toa.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Novidades e mesmices

O time titular do Santos fez ontem sua estreia na temporada 2012. Havia muita expectativa sobre o grupo, ainda mais se contarmos que seria a primeira atuação de Neymar, Ganso e outros após o vexame na final do Mundial de Clubes.

Mas, quando parecia que estaríamos diante de um futebol artístico e encantador, o que nos deparamos foi com um time mal fisicamente, confuso na tática e apresentando algumas falhas que se mantinham desde o ano passado. Claro que se deve dar um desconto pelo começo de temporada. Nós, santistas, assim como os torcedores dos outros times, não vamos mais ficar nos descabelando por conta das primeiras rodadas do campeonato estadual. A torcida está ciente disso, tanto que apoiou o time durante todo o jogo em Barueri.

De certo modo, é chato ver Elano disperso em campo e em rota de colisão com Muricy Ramalho. E, mais grave, constatar que o time titular do Santos conta com Pará em sua lateral-direita. A diretoria do Santos - que ainda apoio - conseguiu a proeza de não trazer um reforçozinho sequer para a temporada. Parece que Fucile, lateral uruguaio que veio do Porto, se apresenta na próxima semana, mas não há muito como confiar.

A única novidade confirmada por hora é a nova camisa do Peixe (veja aqui). Depois de mais de 15 anos de Umbro, vamos de Nike. Se gostei? Sei lá, não consigo opinar. Só vejo as marcas de BMG e cia, e pouco do Santos. Antes que falem qualquer coisa, não estou sendo saudosista - ou melhor, se estou, evoco uma época que se passou há pouco mais de três anos. Esse excesso de marcas - e a maioria de empresas de menor porte - não faz bem ao futebol brasileiro.

PS: sim, depois de mais de três meses de inatividade, o Escanteio Curto está voltando. Pedimos desculpas pela falha, e queremos estar com tudo em 2012!