terça-feira, 23 de agosto de 2011

Eu esperava mais, ele merecia mais

Alexandre Vidal/Fla Imagem
Notícia que corre hoje: faltam poucos detalhes para que Zico seja confirmado como novo técnico da seleção do Iraque. O Galinho está animado com a oportunidade, diz não temer a violência no país, celebra o fato de voltar a comandar uma seleção e quer levar o time de volta a uma Copa do Mundo, o que não ocorre desde 1986.

É bacana ver um ídolo do futebol nacional em um país como o Iraque, que, nos últimos 20 anos, só tem aparecido na mídia por conta de desgraça (com exceção do título da Copa da Ásia de 2007, sejamos justos).

Mas, cá entre nós, esperava mais de Zico. Ele foi um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro e emendou o final de carreira com uma consagração de ídolo no Japão - até aí, tudo bem. Coroou a trajetória comandando a seleção japonesa e fez participação até que digna na Copa de 2006. Deixou o Japão para elencar uma trajetória de técnico na Europa, passando por Fenerbahçe, CSKA Moscou e Olympiakos, e foi quando passou a todos a impressão que gostaria de ser tratado como um técnico "de verdade", alguém para ser considerado como opção real para um time que precisa de treinador, mesmo que não no Brasil, devido à sua grande identificação com o Flamengo. Aí ele vai e acerta com o... Iraque?!

Talvez sua traumática recente passagem como dirigente na Gávea tenha pesado. Zico deixou o Olympiakos meio sem moral, veio para o Fla para ser (novamente) uma espécie de redentor do clube e saiu de maneira frustrante. Numa dessas, ele ao mesmo tempo fechou as portas do futebol europeu e abriu mão de um sonho maior, no Flamengo ou em outro gigante mundial.

Zico, hoje, não teria cartaz para bater de frente com José Mourinho, André Villas-Boas, Pep Guardiola e outros treinadores do primeiro escalão internacional. Mas poderia almejar ser algo mais do que um Bora Milutinovic ou Marcos Paquetá. Que, depois do Iraque, retome uma trajetória que tinha tudo para ser mais brilhante.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Sobre 'deserções' e direitos

Foto:David Fernandez/EFE

O rapaz da foto acima está na crista da onda, a ponto de me demover do intuito de escrever a respeito do clássico de domingo. Na verdade, eu não teria muito a acrescentar sobre o tema, até porque discorri fartamente sobre os problemas da zaga tricolor, que acabaram resultando no gol de empate do Palmeiras, em uma jogada aérea.

Quero, sim, falar sobre Henrique - não propriamente sobre o futebol por ele apresentado no Mundial Sub-20, que lhe rendeu os troféus de artilheiro e de craque da competição. Ontem, em meio à euforia pela conquista do pentacampeonato mundial, o atacante deixou escapar que estaria insatisfeito com o São Paulo e disposto a deixar o clube.

Ao tomar conhecimento do caso, inicialmente deixei-me levar por aquele sentimento comum aos maridos traídos que acabaram de descobrir que a parceira é infiel. Em geral, é assim que o torcedor, criatura mais passional da face do Universo - mais até que o Javé no Antigo Testamento -, costuma encarar deserções tramadas por seus ídolos.

Convenhamos, porém, que Henrique está longe de ser um ídolo no Tricolor. Antes, é um jogador promissor, com potencial para oferecer grandes alegrias à torcida - ou decepções, comprovadas por aquele gol feito que ele deixou de anotar na prorrogação contra Portugal.

O que sei é que, depois de analisar friamente a situação, não encontro motivos para condenar a jovem promessa. O fato de eu e milhões de tricolores enxergarmos nele um futuro herói cria algum laço de obrigação entre o atleta e o clube?

É evidente que não. A grande verdade é que, hoje (mais do que em qualquer outra época), o futebol não passa de uma atividade econômica, como tantas outras que existem por aí. Alguém poderá argumentar que a coisa não é bem assim, já que o esporte envolve elementos subjetivos poderosos, como a paixão da torcida ou mesmo a identidade social de milhares de indivíduos.

Pode até ser. Porém, não devemos nos esquecer de que toda e qualquer atividade econômica tem suas peculiaridades, seja a venda de batatas na feira ou o de óxi na Cracolândia. E que, apesar das diferenças, todas possuem uma característica em comum: são regidas pela lógica fria do lucro.

Quando o clube lucra horrores com a venda de atletas, tal como se não passassem de meros objetos, dificilmente veremos algum torcedor se preocupar com a subjetividade desse indivíduo. Assim como ninguém dá a mínima para o destino das centenas de jogadores e técnicos dispensados ao longo dos campeonatos.

Notem bem: não estou aqui a clamar que nosso futebol passe a ser regido por uma ética piedosa. Antes, quero apenas demonstrar que, em relação aos atletas, os clubes representaram por anos o lado forte na disputa.

Podiam tratar os jogadores como escravos, isso em pleno limiar do século 21. A Lei Pelé, dos anos 90, rompeu com essa lógica escravagista e trouxe um avanço enorme nas relações trabalhistas do futebol.

Ironicamente, hoje em dia o Rei é atacado por uma legião de desavisados, que enxergam o fim do passe como o início das mazelas dos clubes. Para mim, está evidente que a legislação em vigor tem vários aspectos positivos.

O jogador de futebol, a exemplo dos demais trabalhadores, deve poder escolher para quem quer trabalhar. Dessa forma, se Henrique não está feliz no São Paulo, que faça as malas e encontre um lugar que o agrade. Oscar obteve esse direito provisório na Justiça e bateu asas rumo ao Inter de Porto Alegre. Particularmente, acredito que ele poderia ter feito uma escolha melhor, haja vista que no Colorado o meia não consegue demonstrar um décimo do talento que possui.

Porém, o fato é que ele pôde escolher.

Alguém poderá dizer que a opção não ocorreu por livre e espontânea vontade, já que Oscar, tal como Henrique hoje, estava nas garras de um empresário inescrupuloso. Isso não deixa de ser verdade. Porém, cabe uma pergunta a esse respeito: foi a Lei Pelé quem criou esses "monstros"? Ou seriam eles fruto da omissão do Estado brasileiro em regulamentar a atividade dos clubes e federações de futebol?

Sabemos que esse vespeiro está recheado não só com milhões em dinheiro, mas também com uma teia intricada de relações promíscuas de poder. Talvez por isso seja mais fácil para os governantes ignorar esse problema. Afinal, o ódio e o desprezo dos torcedores se encarregará de oferecer uma explicação cômoda para tais situações incômodas.

Sonhar não custa nada

Ao vencer o Bahia ontem, o Santos foi aos 18 pontos no Brasileirão. São 19 os pontos de distância para o líder Corinthians. O Peixe tem dois jogos a menos do que a maioria dos times do certame - repõe um deles na quarta, quando pega o Fluminense, e o outro em 5 de outubro, contra o Grêmio. Se ganhar os dois, diminui a diferença para 13 pontos (com os números atuais, que evidentemente não serão mais os mesmos em 05/10). Ainda dá!

Não, não dá. A lógica de um campeonato de pontos corridos é fria e imutável: não se recupera uma distância com uma sequência de dois ou três jogos de qualidade. Por mais que o Santos evolua, vai ser bem difícil reparar os erros cometidos durante a competição. E num torneio em que o Santos nada almeja que não o título, as emoções acabam se esvaindo.

Ontem, em Salvador, o time mostrou algumas alternativas interessantes. Adriano ocupou a lateral-direita no lugar do suspenso Pará. "Mas o Adriano é volante", pensará um perspicaz leitor. Exatamente. Ao escalar um camisa 5 de ofício para a posição, Muricy efetivou uma "linha de três" no setor defensivo (Léo continuou atuando como sempre) e mandou Elano para a ponta. Embora o ex-namorado de Nívea Stellman tenha jogado mal como de costume, ficou no ar a possibilidade de termos uma boa variação tática a ser adotada. Talvez com Ibson, quando ele voltar de contusão.

Ganso não foi brilhante, mas não se pode dizer que jogou mal. Já Neymar fez gol e até mostrou qualidade, mas também é injusto dizer que arrebentou - até porque perdeu um gol quando o Santos vencia por 1x0 que é daqueles que dão margem para os que acham que o garoto é "só firula e pouco futebol".

O gol espírita de Alan Kardec (argh!) selou a vitória santista, e acabou justificando a entrada do centroavante em campo. Ele substituiu Borges, que vinha fazendo um bom jogo. Muricy seguiu sua linha de não mexer muito no time - a outra alteração foi a de Rafael por Vladmir, curiosamente numa partida em que o arqueiro vinha desenvolvendo uma atuação extraordinária, digna de excluir da memória as más partidas anteriores.

Que venha agora o Fluminense na quarta-feira, acompanhado de mais três pontos para a classificação santista. Para que possamos continuar sonhando.




Meio sem querer, veio o penta

Rafael Ribeiro/CBF

Aos 5 do primeiro tempo, Oscar foi, em cobrança de falta, alçar uma bola na área. Brasil 1x0. Aos 6 do segundo tempo da prorrogação, foi cruzar para os atacantes que fechavam esperando o jogo aéreo. Brasil 3x2. Seleção brasileira campeã mundial sub-20, obtendo assim um pentacampeonato que iguala o time principal (os outros títulos vieram em 1983, 1985, 1993 e 2003).

Os gols meio ao acaso de Oscar - além desses, houve o segundo, aí sim intencional, em boa jogada do cruzeirense Dudu - deram justiça ao jogo e ao Mundial como um todo. Embora Portugal tenha mostrado um belo futebol, e uma atuação irrepreensível na decisão, a taça ficou em melhores mãos com os brasileiros.

O time de Ney Franco mostrou virtudes em meio-campo, defesa e ataque. E também no gol - aliás, seria uma baita injustiça se a seleção perdesse o troféu por conta do segundo gol português, uma falha feia do goleiro Gabriel, que fez um bom Mundial e não mereceria ser crucificado pelo lance. Talvez quem tenha brilhado menos do que o esperado foi Philippe Coutinho, estrela da Internazionale e que até já esteve na seleção principal em algumas ocasiões.

O centroavante Henrique foi coroado como artilheiro e melhor jogador do campeonato. Honrarias justas - e que dão uma dor de cabeça adicional à torcida do São Paulo, já que o atleta tem declarado que não quer voltar ao Morumbi.

O chato de tudo isso é que Ney Franco não comandará o time olímpico no ano que vem, cuja base deve certamente derivar da equipe campeã mundial. Será Mano Menezes o técnico. Em tempos em que o gaúcho está mais do que contestado, dar a ele a chefia de uma equipe (muito) bem montada por outro treinador não parece ser uma decisão das mais sábias.

sábado, 20 de agosto de 2011

O problema é na área!

Quem assistiu ao empate do São Paulo com o América-MG, talvez tenha notado que, embora o time sofra de sérias deficiências no setor de criação, ainda é capaz de levar perigo para as imediações do gol adversário.

Na partida em questão, principalmente no segundo tempo, os são-paulinos conseguiram emendar pelo menos uma meia dúzia de cruzamentos venenosos em direção à meta do Coelho, mas que não foram aproveitados pelos atacantes tricolores (detalhe curioso é que todos esses lances saíram da esquerda, sinal de que o São Paulo transformou-se em uma equipe manca das pernas, sem criatividade pela direita).

O fato é que o excesso de chances desperdiçadas deixa claro o quanto o Tricolor anda necessitado de um matador, um sujeito com plena desenvoltura para atuar no setor ofensivo. Deixarei de lado os lances bizarros protagonizados por Cícero e Fernandinho e focarei apenas no gol de Marlos.

O meia fez boa jogada pela esquerda e colocou Wellington cara a cara com o Neneca. Só faltou gritar: "Faz!" Pois o volante teve a capacidade de tropeçar, justo no momento decisivo, e mandar a bola em cima do goleiro do América.

Por sorte o lance sobrou para Marlos, que estava com a pontaria um pouco mais afiada, não o bastante para evitar que a bola resvalasse em um defensor da equipe mineira, ao entrar no gol.

Talvez o retorno de Henrique, artilheiro da Seleção Sub-20, ajude a solucionar essa carência do time na finalização das jogadas. Digo isso por ainda considerar uma incógnita a novela em torno da recuperação de Luís Fabiano. Com ele em campo - em plena forma, é evidente -, as coisas seriam diferentes para o Tricolor.

Defesa

Sem querer menosprezar o golaço marcado pelo Kempes "paraguaio" do América-MG, há de se considerar que a desatenção da defesa são-paulina colaborou para que a partida de quinta terminasse empatada.

O atacante mineiro estava completamente livre quando armou uma meia bicicleta na marca do pênalti da área tricolor. Não é de hoje que o problema vem ocorrendo. No empate com o Atlético-GO, por exemplo, os dois gols sofridos pelo São Paulo vieram de falhas de posicionamento da defesa, em bolas alçadas na área.

Fica então a dúvida: o problema está nos zagueiros, que são incompetentes, ou no técnico, incapaz de acertar o posicionamento da defesa?

Talvez seja um pouco de cada. E pensar que, dias atrás, a diretoria do São Paulo se deu ao luxo de enxotar Alex Silva do Morumbi...

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Esperando um raio tricolor de seis anos atrás

O Campeonato Brasileiro de 2005 rebaixou Coritiba, Atlético-MG, Paysandu e Brasiliense. Paranaenses e mineiros voltaram rapidamente à elite; já os paraenses e candangos jamais sentiram o gostinho da Série A novamente, e hoje militam na ingrata Série C.

Mas na primeira metade daquele torneio, outra equipe ocupava a famigerada zona do rebaixamento: o São Paulo, que poucos meses antes havia conquistado a América com um implacável título da Libertadores.

Na ocasião, o mau desempenho tricolor era visto com certa naturalidade, e atribuído à euforia do título continental. O São Paulo havia colocado jogadores reservas em muitas partidas do torneio e torcida e diretoria não escondiam que o Brasileiro acabara por se tornar algo irremediavelmente desinteressante. No decorrer do campeonato, o São Paulo voltou aos trilhos e fez uma campanha que ainda o colocou no 11º lugar, à frente de times como Vasco e Flamengo, que haviam começado o campeonato com aspirações maiores.

Pois bem: seis anos depois, o Santos parece repetir a trajetória tricolor. Após a derrota para o Coritiba por 3x2, numa Vila Belmiro vazia e melancólica, o Peixe entrou na zona do rebaixamento e é possível que passe a virada de turno entre os quatro piores do torneio.



A diferença é que - e os são-paulinos me corrijam se eu estiver errado - enquanto no caso do São Paulo a "crise" era vista como reflexo de um desinteresse pelo campeonato, o Santos tem perdido porque... tem jogado mal. Se há desprezo pelo Brasileirão, ele é indireto, escondido, e ocorre apenas no tal submundo dos bastidores.

Neymar, mais uma vez, jogou muita bola. Teve ao seu lado um Borges esforçado que foi às redes duas vezes e só não chegou ao hat-trick por méritos de Edson Bastos - é regra atribuir a perda de um pênalti única e exclusivamente ao batedor, mas no caso da partida de quarta acho mais justo enaltecer o arqueiro do que detonar o Humberlito. Mas o meio-campo santista foi pífio. Ganso foi mal, mais uma vez. E os três volantes que ao lado dele atuaram também não ajudaram muito. Arouca não é armador e, colocado nessa função, acaba sendo queimado. Henrique não funcionou, como não tem funcionado.

Tropeços também ocorreram numa defesa que não soube se portar e por parte do goleiro Rafael - que vem falhando seguidamente e que se tornou uma preocupação que o santista não tinha até algumas rodadas atrás.

O São Paulo acabou como campeão mundial de 2005, e falar que o time passou por alguma "crise" naquela temporada de três títulos (teve também o Paulistão) hoje em dia parece piada. Pode ser que aconteça a mesma coisa com o Santos. Mas não está muito fácil acreditar.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Produto nacional

Marcelo Sadio / www.vasco.com.br
Nos anos 80, os craques começaram a ir para a Europa. Zico na Udinese, Careca no Napoli e outros. Os anos 90 viram, além dos craques, os atletas de nível "médio-quase-bom" também tomando o rumo do exterior. E aí, quando chegou a década de 2000, ocorreu um verdadeiro samba do crioulo doido, com jogadores de qualidade mais do que questionável também tomando o rumo da Europa ou de mercados alternativos.

Resumindo: só a exceção da exceção acaba fazendo carreira integral por aqui.

Com todo este contexto, a trajetória de Diego Souza acaba se tornando ainda mais única.

Ele tem em seu currículo uma estadia na Europa: no Benfica, onde esteve em 2005 e 2006 e, segundo a Wikipedia, fez poucos jogos. Mas é no Brasil que sua carreira se consolidou.

Enquanto jogadores de maior e menor qualidade trocavam Ucrânia por Arábia, Coreia por Turquia e Espanha por Inglaterra, Diego ia do Fluminense para o Flamengo. Do Flamengo para o Grêmio. E do Grêmio para o Palmeiras, depois para o Atlético-MG, e por fim (por ora) para o Vasco.

É quase impossível pensarmos em um jogador que tenha sido transacionado tantas vezes por clubes brasileiros em tempos recentes. E com um adendo: se Diego não é craque (certamente não é), não pode ser chamado de mau jogador. Teve bons momentos no início da carreira, foi um dos principais nomes do Grêmio vice-campeão da Libertadores de 2007, comandou aquele Palmeiras que acabaria fracassando no Brasileiro de 2009 e, agora, é um dos pilares do Vasco que ganhou a Copa do Brasil e luta sério pelo título brasileiro.

Reitero: Diego Souza não é craque. Mas é mais jogador do que, numa pensata rápida, André (ex-Santos, atualmente no Atlético), Dentinho (ex-Corinthians) e outros que estão ou estiveram recentemente no exterior.

Talvez a razão de tudo isso seja apenas uma questão empresarial - quem controla a carreira de Diego pode não ser tão bem relacionado ou não tão ávido para ganhar as comissões que chegam depois de uma transação internacional. Mas não deixa de ser um fato interessante e contra a situação vigente.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Nosso querido Palmeiras

O Palmeiras é o time mais querido do futebol brasileiro há algum tempo. Adversários deveriam torcer para encarar o alviverde quando precisam poupar titulares, estão enfrentando alguma crise ou precisam desesperadamente pontuar no campeonato. Times trocando de técnico ou eliminados de campeonatos mais importantes sempre têm nos duelos frente ao Palmeiras a chance de se reabilitarem.

A mais clara destas demonstrações de companheirismo em 2011 foi no campeonato Paulista, justamente contra o arquirrival Corinthians. Recém eliminado da pré-Libertadores pelo Tolima, o futuro time do Itaquerão tinha o alviverde pela frente para tentar acalmar os torcedores que foram apredrejar o ônibus no centro de treinamento do clube. O Palmeiras vinha bem na época, liderava o campeonato e todos acreditavam que era a chance de fechar de vez o caixão do rival até mesmo com uma goleada. A torcida do Palmeiras, mandante da partida, lotou o Pacaembu para ver uma atuação muita boa do time, uma atuação magistral de Julio César, e uma inesperada derrota de 1x0, gol já no final da partida. E o Palmeiras dava de presente um fim de crise para o rival.

Não preciso mudar muitas palavras no parágrafo anterior para falar sobre o jogo de ontem contra o Vasco. O Palmeiras pareceu ter aprendido com os erros da última quinta-feira contra o mesmo adversário e no mesmo local e jogou como se estivesse em casa. Criou chances, dominou o adversário, afastou todas as bolas altas, terror da derrota anterior, e deu aquela sensação maldita pra sua torcida de "agora vai...". Só que ao passo que a defesa mostrou-se diferente do que apresentou no meio de semana, o ataque reformulado conseguiu piorar. Os gols perdidos foram tantos quanto as chances criadas. O Vasco que está numa ótima fase desde o título da Copa do Brasil aproveitou para marcar de falta no final e levar os 3 pontos pra tabela. O time carioca não jogou bem, não merecia vencer, não criou chances pra isso, mas... graças a Deus tinha o querido Palmeiras para salvar o dia.

Os comentários após a partida começam a ficar comuns nas mesas redondas ultimamente. Kléber enfrenta um jejum que já começa a irritar até quem não o criticou durante a novela de sua possível ida para o Flamengo. Dinei e Maikon Leite parecem jogar pra perder a posição a cada rodada e Felipão já dá sinais de que a paciência esta se esgotando e que não há mais o que fazer. E não há mesmo. Ou aparece algum centroavante capaz de colocar a bola dentro do gol ou o Felipão vai conseguir ficar mais careca que o Marcos.

O Palmeiras está naquela fase mais temida pelos torcedores. A do "não fede nem cheira". O time parece caminhar calmamente pro meio da tabela, onde não trará emoção alguma para seu torcedor. Invejará os times brigando no topo de cima e se vangloriará de não estar tentando sair da ponta de baixo. E se tudo se manter da mesma forma, no fim não vai conseguir nem dar ao seu torcedor aquela "alegria" de escapar do rebaixamento na última rodada.

Não vou falar por toda a torcida do Palmeiras, mas eu já estou sentindo o mesmo que uma criança que espera ansiosamente um Natal repleto de brinquedos mas ganha um par de meias, digo, uma vaga na Sulamericana.

Brasil cascudo chega às semis do Sub-20

Brasil e Espanha fizeram um jogo legal de se ver ontem, pelas quartas-de-final do Mundial Sub-20. A seleção brasileira acabou triunfando nos pênaltis, após 1x1 no tempo normal e outro 1x1 na prorrogação.

Não dá para dizer que o duelo foi um primor técnico. Mas rendeu bons lances, emoções, divididas, empurra-empurra, dedo na cara, ou seja, tudo o que a gente quer ver numa decisão. Os dois times jogaram com bastante ímpeto e buscaram o gol a todo momento.

Se bem que, apesar da classificação, a seleção brasileira mostrou falhas que precisam ser corrigidas. A partir da segunda etapa, quando o time teve bem mais posse de bola do que o adversário, ficou evidente a falta de repertório de jogadas ofensivas - principalmente quando Negueba, do Flamengo, entrou em campo. Não por culpa dele; pelo contrário, ele correu pra caramba e fez bons dribles, inclusive um chapéu maravilhoso que desnorteou o zagueiro espanhol. Mas pelo fato de que, com ele em campo, a tática da seleção brasileira se resumiu a um "joga a bola no Negueba que ele resolve". Por mais que o cara seja bom, não é assim que uma seleção brasileira deva jogar. E aí grande parte das jogadas do flamenguista se encerrava em um cruzamento na área aproveitado por ninguém, já que os demais jogadores do setor ofensivo não acompanhavam o lance.

Quem foi bem mesmo foi a defesa. Ou melhor, o goleiro Gabriel. Ele ficou como herói por ter defendido os dois pênaltis na disputa derradeira, mas seria injusto resumir sua atuação a isso. Nos 90 convencionais e nos 30 da prorrogação ele também foi uma muralha, só sendo vazado em lances mais de mérito dos espanhóis do que qualquer outra coisa.

E na disputa de pênaltis, os cobradores brasileiros - Dudu (Cruzeiro), Henrique (São Paulo), Danilo (Santos) e Casemiro (São Paulo) - foram perfeitos.

Agora o Brasil encara o México, que superou Camarões e a anfitriã Colômbia. A outra semifinal tem França x Portugal.


domingo, 14 de agosto de 2011

Descendo a ladeira

O Santos entrou em campo ontem pelo Brasileirão e, como vem sendo rotina no torneio, levou ferro. O carrasco da vez foi o Atlético-GO - e apesar do jogo ser em Goiânia, não se atenua muito o vexame da derrota, visto que se trata de um dos clubes mais fracos do campeonato.

A partida teve dois tempos bem distintos. No primeiro, ambos os times jogaram um futebol péssimo e o 0x0 foi mais do que merecido. Mas mal sabia o torcedor santista que aquela seria a melhor das duas metades da partida. O segundo tempo viu um Santos igualmente sonolento e um Atlético que resolveu jogar. Aliás, o time goiano cresceu no jogo justamente após fazer o primeiro gol - também não estava encantando ninguém, mas ganhou confiança e depois acabou fazendo o segundo com todas as justiças.

O Santos foi refém de um esquema tático ineficaz. Seus laterais pouco produziram (como vem sendo rotina, infelizmente) e o meio-campo de três volantes - Arouca, Adriano e Henrique - não foi nem combativo nem criativo. Borges mal pegou na bola.

Neymar e Ganso
As duas estrelas do time merecem uma avaliação à parte.

O Neymar ontem fez uma atuação daquelas que dá corda para seus críticos. Lembrou os fracos momentos dele no segundo semestre do ano passado, quando o Santos já não mais alimentava esperanças de título brasileiro. Até tentou, foi pra cima, meteu uma bola na trave e em outro lance só não fez gol porque o zagueiro foi esperto e retirou a bola em cima da linha; mas o que mais marcou em sua apresentação foram as inúmeras tentativas ineficazes de dribles - que consagraram os volantes do Atlético-GO - e uma simulação que lhe rendeu um merecidíssimo cartão amarelo. Neymar é muito mais do que foi ontem, por isso não chega a representar uma preocupação efetiva. Mas foi chato.

Já o Ganso... bem, sabem quando um jogador não erra nenhum lance em campo, mas não por méritos seus, e sim por se esquivar da partida? Isso que ocorreu com o camisa 10 peixeiro ontem. Ganso mal pegou na bola. Se posicionou mal, não criou jogadas, não se apresentou. Talvez tenha sido vítima também do esquema de três volantes - Arouca, embora seja um monstro na marcação, não é um companheiro ideal para o setor ofensivo do meio-campo. Mas craque como ele é (ou parecia ser), deveria superar isso e conduzir o time.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Nada a declarar

Ontem à noite, perdi algumas horas de meu "precioso" tempo para acompanhar a estreia do SPFC pela Copa Sul-Americana. Disse precioso, embora esta não seja a palavra mais adequada: só é precioso o tempo de quem produz; como, no momento atual, nada produzo, minhas horas valem pouco menos que nada.

Sim: estou desempregado. A notícia me pegou de surpresa, na semana passada, razão pela qual não tive muita cabeça para postar o que quer que fosse nesta ágora digital.

Luiz Inácio cultiva uma simpática mania de reduzir todos os fenômenos do universo às quatro linhas. Com ele, uma rusga entre ministros ou uma crise planetária acabam fatalmente se transformando em metáforas futebolísticas.

Farei o mesmo, talvez sem a mesma maestria: perder o emprego é como levar uma virada histórica em uma final de campeonato. O bom é que sempre haverá um outro torneio à nossa espera, pronto para nos fazer esquecer do fracasso de ontem.

E ontem - ontem mesmo - eu poderia dizer que o Tricolor teve seu fracasso particular - mas não o farei. A verdade é que o time fez o máximo que podia. Por outro lado, o Ceará lutou de maneira incansável pelo bom resultado em casa.

O gol de Rivaldo acabou por representar um cruel castigo para o Vozão, que dominou a partida e buscou o gol desde que a bola começou a rolar. Alguém dirá que este meu texto está um tanto simpático ao Ceará.

E de fato está. Difícil não simpatizar com um adversário tão lutador, principalmente depois daquela pintura de Rudnei, que empatou a partida, no final do primeiro tempo, abrindo o caminho para a vitória do time cearense.

Há de se considerar que a derrota não foi de todo ruim para o São Paulo, ainda mais levando-se em conta que a equipe marcou um gol fora de casa. Para ficar com a vaga, basta que os atletas parem de cochilar em campo, imitando, quem sabe, o espírito de luta do Ceará.

Queimadas de língua

Tudo bem, admito: queimei feio a língua com meu último post. Pelo andar da carruagem, Flamengo - e, de certa forma, o São Paulo - têm vida longa no Brasileirão. É provável que terminem na frente do Corinthians, que, por outro lado, continua (na minha visão) a ser um dos principais candidatos ao título.

Se bem que, permitam-me ser polêmico: que adjetivo, senão mequetrefe, poderia ser usado para definir um campeonato cujo craque é Ronaldinho Gaúcho em plena decadência?

Posso estar enganado, mas acredito que, com muita sorte, o dentuço seria reserva na Ucrânia, na Grécia ou na Turquia. Aqui, deita e rola sobre a legião de jogadores limitados, que tanto encantam os cartolas corruptos e técnicos tacanhos de nosso país.

Hora de mudar o disco

Acabo de ver na Record a chamada de uma matéria especial sobre o Pan de Guadalajara. Como de praxe, os atletas são tratados como heróis pelo simples fato de participarem da competição.

E eis que aparece a farsa Daiane dos Santos, tratada como um gênio do esporte. Sabe-se que o principal talendo da gauchinha é frustrar a torcida brasileira nos jogos olímpicos. Ela executa essa função com maestria, melhor até do que quando ganha campeonatos fajutos contra atletas de países sem qualquer tradição na ginástica.

Incrível que uma derrotada como ela ainda receba pompas de heroína. Fosse um futebolista com tantos fracassos nas costas, receberia como única láurea o sonoro desprezo do povo brasileiro.

Porém, a mídia nacional costuma ter extrema complacência com os fracassados. É provável que Daiane continue a desfrutar por décadas de seu manto de rainha, ainda que sem coroa.

Entressafra

A seleção brasileira perdeu mais um jogo, desta vez para a Alemanha, lá na terra de Michael Schumacher. Em tese, perder um jogo para a seleção alemã - historicamente injustiçada aqui no Brasil, injustamente tratada como uma coletânea de caneleiros, mas isso é outro assunto - fora de casa não deveria ser algo tão preocupante assim. Mas isso, somado ao desempenho ridículo da seleção brasileira na Copa América, faz com que a batata de Mano Menezes asse em proporções explosivas.

Para satisfazer aos que criticavam uma suposta defensividade do time de Dunga (que não existia; mas tal qual o dito acima, "isso é outro assunto"), Mano tem mandado a campo três atacantes, Robinho, Neymar e Pato. A questão é que qualquer um que acompanhe futebol um pouquinho só a fundo sabe que 4-3-3, 3-5-2, 4-4-2 ou sei lá o quê são apenas esquemas jogados em uma prancheta (ou naquele gerador de caracteres do início do jogo), e não representam, por si só, ofensividade ou retranca. De nada adianta manter uma linha de três atacantes se não há criação no meio-campo, se não há laterais que efetivamente participam do jogo. Quando Fernandinho é seu homem de ligação no meio e seus laterais são Daniel Alves (um dos melhores do mundo no Barça, mas fraco na seleção) e André Santos (aquém do que se espera de seleção brasileira), fica difícil.

(Já que utilizei quatro vezes os parênteses num singelo parágrafo de quatro linhas, vai aí mais um uso, pra sacramentar a prática. Critiquei Fernandinho, mas não sei quem seria o tal meia da minha preferência. Ganso? Ele não joga futebol de alto nível desde agosto do ano passado. Primeiramente por estar sem condições físicas, "segundamente" por ter entrado em campo e não correspondido, tanto pelo Santos quanto pela seleção. Ainda acho que ele é craque, mas a história está repleta de caras que arrebentaram por seis meses e depois caíram no ostracismo. Cautela, portanto.)

Pra fechar, pergunta direta e reta: fora Mano? Se sim, pra colocar quem?

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Do Qatar pode vir um indulto histórico

"Por lei, a maior pena que há no Brasil é de 30 anos. Eu estou cumprindo a minha há 50", dizia, no fim de sua vida, o ex-goleiro Barbosa. Ele estava em campo no fatídico Brasil 1x2 Uruguai e, por conta de sua posição (e há quem diga que também pela sua etnia) acabou sendo o ícone do maior vexame da história da seleção brasileira em todos os tempos, a perda do título mundial em 1950, num Maracanã que continha mais de 200 mil pessoas.

A despeito da força de sua frase, ainda em vida Barbosa contou com certas doses de "absolvição". Uma espécie de revisionismo da tragédia transferiu a culpa aos dirigentes - ah, essa essencial classe, "os dirigentes", assim, no plural, sempre o alvo perfeito das críticas vagas - que teriam perturbado a concentração dos atletas e assim prejudicado a preparação do time que ainda jogaria uma final de Copa do Mundo. E em seus últimos anos Barbosa foi recebedor de muitas homenagens. Em votação promovida pela Placar em 1994, foi eleito o melhor goleiro do Vasco em todos os tempos; foi também selecionado quando a Placar repetiu a dose em 2006. E tantas outras.

Se a história acabou por ser condescendente com Barbosa, ela não foi com outro personagem, que esta semana voltou à mídia.

Ou alguém aí consegue retirar qualquer centelha de culpa de Sebastião Lazaroni? Alguém consegue olhar para ele e não atribuir a ele o fracasso no Mundial de 1990, o desperdício de uma geração que tinha Romário, Careca e Bebeto, não lembrar do esquema com três zagueiros e um líbero, e visualizar, em sua figura, a ressurreição de uma Argentina que parecia um defunto cujo carrasco se chamava Roger Milla e vinha do longínquo Camarões?

Barbosa teve em sua trajetória como goleiro muito mais do que a Copa do Mundo de 1950. Foi titular do Vasco por mais de 10 anos e na Colina faturou inúmeras taças, entre elas o Sul-Americano de Clubes de 1948, espécie de embrião da Libertadores.

Já Lazaroni... só o técnico sabe explicar se foi voluntária ou involuntariamente, mas a carreira do técnico em terras nacionais, após a Copa de 1990, é algo que se aproxima do zero. A nem sempre confiável Wikipedia reporta uma passagem pelo Vasco em 1994, outra pelo Botafogo entre 2000 e 2001 e uma terceira pelo Juventude em 2005 (é também o que a memória deste escriba traz à tona). No estrangeiro, o técnico peregrinou por Itália (sua Waterloo), Arábia Saudita, México, Turquia, China, Jamaica, Japão, Kuweit, Portugal e, ufa, Qatar.

E é na terra dos skeiks, dos petrodólares, das denúncias e da Copa de 2022 que Sebastião tenta voltar a desfrutar de um relativo status de mainstream. Não deve ter vida fácil: será o terceiro treinador da equipe somente em 2011, e nada indica que disputará, até o final, a classificação para a Copa de 2014, a ser realizada aqui no Brasil.

Lazaroni não fez como Barbosa; não triunfou em sua própria terra e, ao que tudo indica, também não contará com aquela nostalgia quase que invariavelmente destinada a todos os ícones do passado. Carregará para sempre a pecha de "o pior treinador brasileiro em Copas do Mundo", a não ser que o futebol apronte das suas.

O mesmo Brasil que Lazaroni desprezou - ou por quem foi desprezado - pode ser a terra da redenção do técnico. Caso triunfe nas Eliminatórias, trará seu Qatar para aqui disputar uma Copa do Mundo, voltando à disputa mais de 20 anos depois. Diz um sábio ditado: "de onde menos se espera, é de onde não vem nada mesmo". É portanto próxima de zero a chance de Lazaroni fazer algo de digno em terras nacionais, se é que irá chegar até aqui. É pequena, bem pequena, a chance deste Barbosa contemporâneo mudar de status.

domingo, 7 de agosto de 2011

Quem é o dono da camisa 1?

Na tarde deste domingo, o Corinthians entrou em campo na Arena da Baixada para enfrentar o Atlético-PR com uma novidade em campo: a entrada do goleiro Danilo Fernandes, atleta das divisões de base do clube que teve sua primeira oportunidade no time principal, no lugar de Renan, goleiro que vinha tendo atuações instáveis nas três oportunidades que teve como titular.

Renan foi contratado logo nas primeiras rodadas do Brasileirão após boas atuações pelo seu ex-clube, o Avaí, na Copa do Brasil e credenciado por já ter sido convocado para a seleção brasileira. O fato de o goleiro titular Júlio Cesar, na época, estar passando por uma fase de desconfiança do torcedor (após falha na decisão do Campeonato Paulista), fez com que a torcida acreditasse que o atleta recém-chegado assumisse a posição assim que tivesse uma oportunidade.

No entanto, não foi desta forma que as coisas aconteceram. A chance apareceu após a contusão de Júlio na partida contra o Botafogo, em São Januário. Porém, a insegurança apresentada, nos três jogos em que foi titular, fez com que o técnico Tite repensasse a escalação do goleiro e que o barrasse da partida de hoje.

Na rodada do meio de semana, apesar da importante vitória do Corinthians sobre o time do América-MG, a saída precipitada do goleiro, no gol de empate dos mineiros, deixou o time claramente inseguro e tornou um jogo que aparentava ser resolvido com facilidade em uma tortura para os mais de 30 mil torcedores nas arquibancadas frias do Pacaembu. O time passou a assumir uma postura defensiva, o que limitou as investidas no ataque durante todo o segundo tempo. O gol da vitória acabou saindo em um lance casual, em uma sobra de bola na pequena área.

Na partida de hoje, o goleiro Danilo Fernandes teve uma atuação discreta, porém segura. Nas oportunidades que teve apresentou bom posicionamento e tranquilidade na saída de bola. Nitidamente o time assumiu uma postura de maior confiança, e conseguiu evoluir melhor com as jogadas de ataque durante a partida. O resultado de empate acabou não refletindo a atuação que o time teve, com boas chances de gol perdidas (bola na trave de Danilo e gol perdido cara-a-cara de Wiliam), mas apresentou boas perspectivas ao torcedor corinthiano para a continuação do campeonato.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Cara de 0x0

Ontem o Palmeiras voltou ao local onde sofreu a sua vergonha anual. Anual pois de uns bons tempos pra cá, o Palmeiras não é o Palmeiras sem passar por uma bela decepção, daquelas dignas de "só acontece com a Portuguesa" ou "só podia ser com o Botafogo".

Aquele 6x0 que eliminou o time da Copa do Brasil (os mais fanáticos diriam que o time foi eliminado em São Paulo - "ainda dava" - mas eu não compartilho de tal debilidade neurológica) deixou no ar uma certa vontade de vingança na cabeça dos jogadores. Só que depois de levar um gol logo o no início, tal vontade se transformou numa mistura de "de novo?" com "o empate é um bom resultado". E foi um bom resultado.

O gol no início, no rebote de uma das defesas mais sensacionais que já vi no futebol, não causou tantos calafrios na minha, ultimamente sofrida, cabeça de palestrino. E digo porquê: o time não estava tão acuado como naquele fatídico vexame, dava sinais que conseguia encostar na bola alguns segundos em sequência e o Coritiba não anda, de fato, metendo mais medo em ninguém. Com o gol de empate logo em seguida após um desvio na zaga, tive a certeza de que as coisas não dariam totalmente errado novamente. E não deram.

O Palmeiras foi até melhor e mais perigoso do que o Coritiba, que parece procurar aquele futebol mágico do primeiro semestre (existente apenas na cabeça do técnico e nas saudades da torcida). Inclusive teria a chance de virar a partida se o juiz marcasse um penalty em cima de Luan, o maratonista. Mas o jogo estava tão feio que não merecia mais gols. Alguma emoção mesmo só após a expulsão do Thiago Heleno graças a um chute de Maurício Ramos digno de Marco Ósio. E não foi nada que se possa dizer "nossa, mas que emoção incrível, que emoção sublime!". O time da casa foi todo pra frente, a torcida gritava mais pra não passar frio e a zaga do Palmeiras conseguia afastar na base do bola pro mato. E ficou tudo nisso.

O caso é que o Palmeiras é um time difícil de ser batido. A marcação é muito forte no meio, justamente pela falta de neurônios capazes de colocar alguém na cara do gol, e a defesa consegue fazer o seu papel de deixar a bola longe do goleiro. Quando nada dá certo, Marcos ainda consegue evitar o pior mesmo com seus 38 anos de santidade, títulos, falta de cabelo e excesso de contusões.

Mas da mesma forma que é difícil de ser batido, o time sofre da mesma dificuldade em bater. Enquanto o fator casa coloca no time algum ímpeto e vontade de fazer a bola entrar de qualquer jeito, as vitórias fora de casa serão raridade. Só que a dupla vitória em casa e empate fora deixou de ser receita pra títulos desde 1994 quando triunfos deixaram de valer 2 pontos. Resta ao torcedor palmeirense esperar que sobre alguma vaga ali entre o segundo e terceiro lugares para um time com cara de 0x0. E aí a frase "na Libertadores é outra história!" tomará conta da sanidade de 99% da torcida do Palmeiras, que irá sonhar um pouco com um novo 1999.

Em busca de um DNA reverso

No início do ano, quando o Santos ainda não tinha ajeitado o time que acabaria sendo campeão da Libertadores, uma discussão em voga na Vila Belmiro dizia respeito a um suposto "DNA ofensivo" do clube. O Santos é o time que mais marcou gols na história do futebol mundial e é a casa na qual Pelé se consagrou ao mundo, e tudo isto, além de outras passagens, fariam com que o Peixe tivesse sempre a obrigação de atacar, atacar, atacar.

Foi nítido o contraste entre o tal "DNA ofensivo" e os métodos de trabalho de Adílson Batista e, posteriormente, Muricy Ramalho. Adílson saiu da equipe sem deixar saudades e Muricy foi campeão da Libertadores - embora não se possa dizer, de modo algum, que o time que conquistou a América tenha na ofensividade seu traço mais marcante. É só analisar os números: na fase de mata-mata do torneio continental, o Santos superou todos os oponentes na base do vitória-empate, incluindo dois 0x0 nessa trajetória, contra América-MEX (jogo de volta das quartas-de-final) e Peñarol (ida da final).

O fato é que o Santos 2011 não ostentou o tal "DNA ofensivo" exigido por diretoria e parte da torcida - diferentemente da equipe do ano passado, com seus marcantes 10x0, 9x1 e 8x1. Acontece que, como o time estava vencendo, isso não parecia uma preocupação das maiores.

Pois bem: virou o semestre, o Brasileirão começou a engrenar, acabou a Copa América e o Santos vive agora uma sequência de três derrotas consecutivas. Primeiro o "jogão" contra o Flamengo, depois a falha ao aplicar o feitiço contra o feiticeiro sobre o Atlético-PR, e, ontem, um inapelável 2x0 a favor do Vasco, na - de longe - pior e menos encantadora atuação do time na série.

Colocar a culpa pela derrota em Ganso e Elano, que mais uma vez foram bem mal, é um caminho que, embora seja corretíssimo, é o mais curto e um tanto quanto impreciso. É evidente que se os dois jogassem o que sabemos que eles jogam a história poderia ser outra, mas o Santos tem apresentado outras deficiências que não se mostravam até pouco tempo atrás.

Rafael, goleiro até então inconteste e com jeitão de ídolo, falhou feio contra o Flamengo (no primeiro gol rubro-negro) e tropeçou também ontem, no segundo tento vascaíno. A dupla de zaga Durval e Dracena vinha bem, mas passou a falhar em sequência.

É talvez a ausência de Adriano - o menos badalado entre os titulares do título da Liberta - que explique o desequilíbrio pelo qual passa o time. Sem ele, o meio-campo formado por Arouca, Ibson, Elano e Ganso acaba caindo num limbo em que não consegue nem criar nem marcar. O resultado é que o Santos fica acuado.

É interessante ver que, no prazo de pouco mais de seis meses, a ambição dos santistas acabou por ir por uma trajetória oposta à de antes. Ao invés do "DNA ofensivo", o que se quer é um "DNA defensivo", algo que retome o equilíbrio do grupo.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

‘Nós’, ‘a gente’ e os 9% de gordura de Ronaldinho Gaúcho

Envergando jeans, casaco em couro e cachecol cor de chumbo, Galvão Bueno caminhava por Milanello, o centro de treinamento do Milan. “Nós hoje vamos conversar com o número 80...”, adiantou. O “número 80” em causa era Ronaldo de Assis Moreira, o Gaúcho, personagem destacado naquela edição do programa Na Estrada com Galvão, exibido pelo canal pago Sportv.

Esqueçamos o princípio da conversa, quando o entrevistador indaga se Ronaldinho joga xadrez – resposta negativa. Esqueçamos quando este afirma não ser europeu e tampouco atravessar o samba. Esqueçamos, ainda e por fim, quando confessa que sempre sonhou ser famoso e que, criança, já treinava o próprio autógrafo. Mas não nos esqueçamos disto: Ronaldinho não parecia verdadeiramente interessado no diálogo, parecia alheio ao que se sucedia ao redor.

E é assim que sempre consegui percebê-lo, como um retrato do alheamento. Se em campo, no auge, era um sujeito concentrado, que sabia expressar vontades, fora da grama sugeria-se distraído. Era difícil vê-lo sozinho, tinha sempre um staff a rodeá-lo. A blindá-lo. Enxergávamos o Ronaldinho cercado por seguranças, por amigos, eventualmente por garotas sinuosas. E por Assis, seu irmão mais velho.

Ex-jogador de fama e sucesso relativos, Assis operava e opera como uma espécie tutor do caçula mais talentoso. Nada de estranho, portanto, no fato de ter sido convocado à roda do Na Estrada com Galvão. Questionado pelo apresentador, Assis mostrou-se sincero. Contou que se realiza “muito, muito, muito” em Ronaldinho. E então veio, agora sim, meu estranhamento.

Ao falar sobre o irmão, Assis usou “nós” e “a gente”. Talvez resquício de seus tempos de jogador. Talvez “vício” de linguagem. Ou talvez – e era a primeira vez que eu considerava tal possibilidade – indício de que a superproteção ao redor de Ronaldinho superava o habitual entre seus pares.

Meses adiante, no mesmo ano de 2009, Assis dava entrevista após um jogo festivo no Estádio Olímpico, do Grêmio. Tinha sido vaiado. “Como é que você vê o torcedor pegando no seu pé, Assis?”, indaga a repórter. “Faz parte, é tudo muito recente, a história da saída do Ronaldo (...). [O importante é que] A gente tem aí o reconhecimento do mundo, de um atleta que fez história lá fora (...). Quem sabe um dia a gente retorne ao Estádio Olímpico e que tudo volte ao normal...”

Conforme sabemos, a gente não retornou ao Estádio Olímpico. A gente preferiu o Flamengo, depois de sair do Milan. E a gente recebeu um bocado de críticas, por conta.

É bonita a relação de Assis e Ronaldinho. Apesar disso, nos tempos de decadência do segundo, eu não era capaz de escapar dum psicologismo vulgar: talvez Ronaldinho carecesse de alguma ruptura, ao menos parcial e restrita à atividade profissional, para voltar a ser o inigualável que foi em 2004 e 2005. Talvez fosse necessário mais independência, menos seguranças, menos carros com vidros escurecidos. Em minha divagação, a queda se devia à contaminação do Ronaldinho jogador pelo Ronaldinho que, na vida (por assim dizer) civil, não decidia nem fazia nada sozinho. Era ocasião de tomar controle de si.

E o que aconteceu, leitor, com Ronaldinho? Embora não tenha sido catastrófico em seus primeiros meses de Flamengo, os questionamentos surgiram. “Este aí só quer saber do futevôlei, churrasco, pagode e da noite carioca!”, acusaram uns. “Cadê o patrocínio milionário?!”, provocaram outros. Pois é. Dá-se, contudo, que nas últimas rodadas do campeonato nacional em curso Ronaldinho fez boa figura. Mereceu os holofotes pelos 5 x 4 que sua equipe aplicou na de Neymar. A que se deve a alteração de status?

Não sei assegurar se a independência aconteceu. Se “psicologicamente” a condição melhorou. Se Assis deixou de usar “a gente” e “nós”. Sei que, nos últimos dias, noticiou-se que o percentual de gordura de Ronaldinho Gaúcho é agora de 9%. Índice admirável, um tanto mais apropriado que o de suas últimas temporadas. Em boa forma física, o homem reencontra-se, aos poucos – no que têm ajudado as atuações ruins das defesas adversárias.

Não é raro que, em futebol (como noutros esportes), se atribua o fiasco exclusivamente a limitações que nada têm de técnicas. Vaidade, falta de ganas, preocupações demasiado financeiras ou capilares são algumas das “explicações” usuais. Incluo-me na fauna que, por vezes, cai na tentação de querer entender o que nem sempre é passível de compreensão. Existem motivações tangíveis e existem motivações imateriais. Erra quem julga que elas não se comunicam entre si.

“O coração tem razões que a própria razão desconhece”, disse o pensador francês Blaise Pascal (1623-1662), antecipando em três séculos o estilo de Ivan Lins. Pois o futebol tem razões que, nalguns casos, a própria razão conhece, digo eu. Modestamente, obviamente.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Complicado

O Santos foi até Curitiba e perdeu para Atlético-PR por 3x2. A partida foi a segunda derrota seguida da equipe e fez com que o Peixe terminasse a rodada na zona do rebaixamento. Sim, o Santos tem três jogos a menos que a maioria das equipes, mas nunca é legal ver a posição do time na tabela marcada com a cor vermelha. E, mais que isso, o grave é que o jogo evidencia algumas carências da equipe.

Porque o Santos que foi a campo ontem era o time completo. Ou melhor, havia uma ou outra ausência, como a de Danilo (na seleção sub-20) e Adriano (contundido, mas que nem é titular absoluto), mas o grosso do Santos campeão da Libertadores - ou seja, a trinca da Copa América Neymar-Ganso-Elano - estava lá.

Curioso é que a partida, que acabou com sofrimento, tinha tudo para ser um alento ao torcedor depois do "jogão" de quarta-feira. Parecia que o Santos descontaria no Furacão o que o Flamengo fez na Vila: os paranaenses abriram 2x0 logo no início da partida, o Santos buscou o empate, parecia que viraria o jogo, mas... foi o Atlético que saiu vencedor, com um gol de Marcinho (aquele, ex-Corinthians e Palmeiras) marcado nos acréscimos do segundo tempo.

Ainda há algumas coisas para acontecerem no Santos - o retorno de Danilo e Adriano, bem como a estreia de Henrique, recém-contratado do Cruzeiro. Mas o momento é chato, bem chato.

Pergunta
Ganso e Elano, que acontece com vocês?